Jornal Estado de Minas

Pressionado por jornalistas, Bolsonaro desafia Lula para debate no 1º turno

 

 Brasília – O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou que comparecerá a debates eleitorais se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) também garantir presença. “Eu fecho agora: se Lula for, eu vou junto com ele.” O desafio foi feito ao desembarcar em Foz do Iguaçu (PR), na sexta-feira, mas o trecho com as declarações foi disponibilizado apenas ontem por um canal bolsonarista no YouTube. Questionado sobre os debates — dos quais se esquivou nas eleições de 2018 —, Bolsonaro afirmou, a princípio, que ainda não tinha definido se participaria com outros pré-candidatos. “Eu não sei, primeiro vou analisar”, afirmou. Ele destacou que faltar a esse tipo de evento poderia ser uma “questão de estratégia”, já que ex-presidentes fizeram o mesmo. Em 2006, Lula também não participou quando concorreu à reeleição. Assim como Fernando Henrique Cardoso, em 1998.





 

“Vou ver. Isso é questão de estratégia no momento. Eu não quero assumir um compromisso agora e depois não cumprir lá na frente. Nunca um presidente, pelo que eu tenho conhecimento, participou no primeiro turno de um debate. Vamos esperar. Talvez eu compareça”, disse. Em seguida, ele desafiou o petista. “Eu fecho agora: se Lula for, eu vou junto com ele”.

 

Bolsonaro atacou o petista e colocou em dúvida as pesquisas que mostram o ex-presidente como líder na preferência do eleitorado para o pleito de outubro. “Não consigo entender o outro lado ter 40% de intenção de votos. O cara não consegue ir à rua para nada, nem para entrar num botequim", alfinetou.

 

No último dia 31, Bolsonaro alegou que evitaria os debates para o primeiro turno das eleições porque não queria levar “pancada” o tempo todo por parte dos outros pré-candidatos. “No segundo turno, eu vou participar. Se eu for para o segundo turno, devo ir, né, eu vou participar. No primeiro turno, a gente pensa. Porque se eu for, os 10 candidatos vão querer o tempo todo dar pancada em mim, e eu não vou ter tempo de responder”, alegou, na ocasião. E emendou que as perguntas deveriam ser “pré-acertadas com os encarregados de fazer os debates, para não baixar o nível”.





 

MEIO AMBIENTE Já Lula disse ontem que, se eleito, revogar todas as medidas ambientais do governo Bolsonaro será uma das prioridades de seu plano de gestão, que está em construção no momento. Comentando fala recente de Bolsonaro, na qual o presidente defendeu “ir à guerra” contra seus adversários, o petista disse ainda que está enfrentando uma parcela da sociedade “organizada de forma miliciana”.

 

Lula participou de um encontro com cientistas, pesquisadores e entidades do setor em São Paulo, junto com seu pré-candidato a vice, Geraldo Alckmin (PSB). “Vai ter que ter. Não sei se vai ser um dia do revogaço, mas vai ter um dia de a gente tirar todas as coisas que foram feitas”, afirmou o presidenciável. “Essa questão de passar com a boiada, se tiver decreto, vamos ter que revogar. A questão da demarcação de terras. Tudo o que eles desfizeram, nós vamos ter que refazer”.

 

“Tudo o que eles desfizeram, nós vamos ter que refazer. E vamos ter que cuidar efetivamente, com respeito, com as nações indígenas espalhadas por esse país. Nós que devemos para eles, não eles que devem para nós”, disse Lula. “Nesse negócio não tem meio-termo. A gente tem que ter coragem de dizer: não haverá garimpo em terra indígena nesse país”, enfatizou.





 

Lula aproveitou ainda para falar sobre os governos passados do PT e de suas ações na área ambiental. Em um aceno a Marina Silva, líder da Rede Sustentabilidade, o petista disse que ela foi “uma extraordinária ministra” do Meio Ambiente. Marina renunciou ao cargo em 2008, e chegou a citar problemas na gestão ambiental que levaram à estagnação durante seu período chefiando a pasta. Ela foi substituída por Carlos Minc, também citado por Lula na fala de ontem.

 

O ex-presidente criticou ainda o ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro Ricardo Salles. “Depois aparece um tal de Salles, que ninguém sabe de onde veio, para onde foi. Um rapaz que eu achei que até era moderno, porque era todo moderninho, com um óculos cor-de-rosa, sabe? E depois é o seguinte, o cara era um desmatador profissional. O cara era um vendedor de árvore. O Brasil não merece isso”, disse Lula.

 

Além dos representantes do setor ambiental, estavam presentes na reunião o senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), os deputados federais Alessandro Molon (PSB-RJ) e Nilto Tatto (PT-SP), e o presidente do PV, Carlos Pena. O debate foi mediado pelo ex-ministro da Educação Aloizio Mercadante (PT), que também coordena a criação do plano de governo da chapa.





 

O encontro teve como objetivo reunir propostas e sugestões para o plano de governo de Lula e Alckmin. As diretrizes preliminares foram definidas na última quinta-feira, e incluem o “desenvolvimento econômico, sustentabilidade socioambiental e combate à crise climática” como um dos três eixos principais, junto com “desenvolvimento social e garantia de direitos” e “reconstrução do Estado e da soberania e defesa da democracia”.

 

O grupo que desenvolve o programa é composto por dois representantes de cada um dos sete partidos que compõem a coligação: PT, PSB, PV, Psol, PCdoB, Rede e Solidariedade, e é coordenado por Aloizio Mercadante.“Teve um grupo de voluntários, economistas e de variados setores, que apresentaram sugestões”, disse ao Correio Braziliense o ex-governador do Piauí Wellington Dias, um dos coordenadores da campanha. “O programa será feito pelos partidos, que estão conosco nessa briga, e pela composição de todas as organizações que cuidam da questão climática no Brasil”, disse Lula aos ambientalistas.