Jornal Estado de Minas

SUMIÇO NO AMAZONAS

Jornais pelo mundo cobram Bolsonaro sobre desaparecimentos

Editores de alguns dos principais jornais do mundo publicaram uma carta, nesta quinta-feira (9/6), dirigida ao presidente Jair Bolsonaro (PL) em que cobram respostas sobre o desaparecimento do jornalista britânico  Dom Phillips e do indigenista Bruno Araújo Pereira, no Vale do Javari, no Amazonas. Os dois desapareceram no domingo (5/6).





Na carta, os editores cobram mais esforços do governo federal para encontrar o jornalista e o indigenista. "Estamos agora muito preocupados com os relatos do Brasil de que os esforços de busca e resgate até agora têm recursos mínimos, com as autoridades nacionais demorando a oferecer assistência", diz trecho.

O texto é assinado pela editora-chefe do The Guardian, Katharine Viner; a editora executiva do The Washington Post, Sally Buzbee; o editor executivo do The New York Times, Dean Baquet; o editor-chefe da Folha de S.Paulo, Sérgio Dávila; vice-presidente sênior de notícias e diretor editorial da NPR, Nancy Barnes;  e pelo editor-chefe da Bloomberg News, John Micklethwait. Chefes e representantes de outros 25 veículos e organizações de comunicação e jornalismo também assinaram o documento. 

Nesta quarta, o The Guardian também publicou um editoral cobrando respostas sobre o desaparecimento. O texto lembra que na gestão Bolsonaro os ataques à imprensa e às invasões às terras indígenas aumentaram. "Sob o presidente Jair Bolsonaro, os ataques à imprensa aumentaram. Ele apimenta seus discursos com apitos de cachorro anti-indígenas e anti-conservação. Bolsonaro apresentou consistentemente as proteções ambientais e os direitos indígenas como meros impedimentos ao desenvolvimento econômico", diz o texto.





"Como continuamos pedindo a outros repórteres que assumam esses riscos? Que mensagem envia quando pessoas como Phillips e Pereira desaparecem, apenas para receber uma resposta oficial lamentável? Não há avaliação de risco no mundo que possa mitigar três anos de propaganda perigosa vinda do topo do governo", continua o artigo. 

Manifestações

Manifestantes em Londres, no Reino Unido, e na Califórnia, nos Estados Unidos, também cobraram, nesta quarta-feira (8/6), respostas do governo brasileiro sobre o desaparecimento dos dois. A família do jornalista fez uma vigília em frente a embaixada do Brasil em Londres. As pessoas carregaram cartazes com pedidos para encontrar Dom e Bruno.

Em comunicado à imprensa, a irmã de Dom, Sian Phillips, disse que tem esperanças de encontrar ele e cobrou uma maior investigação. “Tivemos que vir esta manhã para fazer a pergunta: onde está Dom Phillips? Onde está Bruno Pereira?", disse. “Estamos aqui porque Dom está desaparecido, ele está perdido fazendo o importante trabalho do jornalismo investigativo. Estamos aqui para mostrar por que demorou tanto para eles começarem a busca por meu irmão e por Bruno", completou. 





Um protesto também foi registrado na Califórnia, onde ocorre a Cúpula das Américas. O presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarca nesta quinta no país para participar do encontro de líderes. Um caminhão com a mensagem: Onde estão Dom e Bruno e Mentiroso na cidade, com uma foto de Bolsonaro, foi colocado em frente a prefeitura de Los Angeles, na Califórnia. 

Nesta quarta, o ator norte-americano Mark Ruffalo, interprete do Huck nos cinemas, também usou as redes sociais para cobrar respostas sobre o sumiço. "É preciso haver uma resposta internacional a isso. A tendência de jornalistas serem atacados, mortos ou desaparecidos em “democracias” que se desviam para a direita deve ser denunciada", disse.

Desaparecimento 

As buscas pelos dois continuam nesta quinta-feira. A equipe conta com, aproximadamente, 150 militares do Exército e de um helicóptero. A Funai também ajuda nas buscas com 15 servidores. A Força-tarefa também conta com militares da Marinha do Brasil.

Nesta quarta, a Justiça Federal determinou que a União reforce as buscas com helicópteros, embarcações e equipes de buscas.

O jornalista e o indigenista desapareceram enquanto viajavam da comunidade de São Rafael para Atalaia do Norte. Um trajeto de cerca de duas horas. Nesta quarta, um homem foi preso suspeito de envolvimento com o desaparecimento. Ele nega participação.