Os deputados da comissão especial formada pela Assembleia de Minas para analisar o tombamento estadual da Serra do Curral devem votar e aprovar na segunda-feira (13/6) o texto da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que estabelece o tombamento das montanhas para fins de conservação. Assim, o projeto estará pronto para ser votado em 1° turno pelos 77 integrantes do Parlamento, em plenário. A expectativa dos defensores do tombamento é concluir o processo, que ainda terá votações em segundo turno, antes da metade do ano.
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Segundo Ana Paula Siqueira, a ideia é concluir o processo de análise da PEC "o quanto antes". "Chamei a reunião na segunda para que possamos, de forma breve, apreciar o relatório que vai ser apreciado e votarmos na comissão – para entregar, em condições de votação no plenário, ainda no decorrer da semana", disse.
Além de Ana Paula e Beatriz Cerqueira, outros dois integrantes da comissão – Osvaldo Lopes (PSD) e Mauro Tramonte (Republicanos) – sinalizaram que vão votar pelo tombamento. Portanto, mesmo que Gustavo Santana (PL), o quinto componente, seja contrário à medida, o plenário da Assembleia receberá texto recomendando a conservação da área.
Os deputados vão se reunir às 10h da próxima segunda-feira para analisar o relatório de Beatriz Cerqueira e viabilizar o 1° turno em plenário. Desde o ano passado, o tombamento da formação rochosa está parado no Conselho Estadual de Patrimônio Cultural de Minas Gerais (Conep-MG), ligado ao Instituto Estadual do Patrimônio Histórico e Artístico de Minas Gerais (Iepha-MG).
"A nossa preocupação é que a mineração acelere na Serra do Curral em detrimento da preservação. Vamos cumprir a função da proteção para fins de conservação, colocando o tombamento na Constituição", explicou a petista.
Há dois dias, a presidente do Iepha-MG, Marília Palhares Machado, acenou com a possibilidade de o órgão concluir o tombamento estadual em agosto.
Pauta 'travada' pode ser emperrar tombamento
Para concretizar o plano de oficializar o tombamento da Serra do Curral antes do recesso parlamentar de julho, os deputados terão de agilizar as votações em dois turnos no plenário. Isso porque, a partir do dia 24 deste mês, a pauta de análises deve ser "travada" pelo Regime de Recuperação Fiscal (RRF), pacote que a equipe de Romeu Zema (Novo) tenta emplacar para renegociar a dívida de R$ 152 bilhões que Minas Gerais contraiu junto à União.Desde 10 de maio, o Regime de Recuperação Fiscal tramita em regime de urgência. Nesse modelo, os deputados têm 45 dias para analisar um projeto. Quando isso não ocorre, o texto passa a impedir qualquer outra votação em plenário. A tendência é que seja o caso desta vez, porque parte considerável dos parlamentares teme que, a reboque do ajuste econômico de Zema, ocorram prejuízos aos servidores e a políticas públicas.
Em meio à trava que deve ser imposta pela Recuperação Fiscal, os deputados favoráveis ao tombamento da Serra do Curral buscam agilizar as etapas. "Se existe uma PEC, é nossa obrigação fazer a votação e deixar que todos possam apreciar", pediu Mauro Tramonte.
"Para além de discutirmos as questões que perpassam pela defesa do meio ambiente e das águas – e da proteção contra a mineração predatória – estamos, principalmente, discutindo a identidade dos mineiros e dos belo-horizontinos", corroborou Ana Paula Siqueira.
O risco à "identidade" é receio, também, da Prefeitura de BH. Há três semanas, a Procuradoria do Município apresentou à Justiça dossiê com elementos indicando a possibilidade de queda do Pico Belo Horizonte, símbolo que figura na bandeira da cidade, em caso de avanço da mineração.
Aliado importante pela Serra do Curral
O presidente da Assembleia Legislativa, Agostinho Patrus (PSD), tem dado mostras de que pretende pautar rapidamente a PEC do tombamento. "A esperança é de a gente conseguir levar adiante um provável tombamento da Serra – ou a exigência de que o governo do Estado o faça (via Conep). A Assembleia não pode tombar. A Assembleia não é o órgão técnico para tombar e não tem capacidade técnica para isso. O que nós podemos fazer é, assim como feito em outras áreas, determinar que seja feito o tombamento. Parece que é esse o caminho", afirmou, ontem, ao EM.
A Serra já é tombada no âmbito nacional e, também, pelo patrimônio de Belo Horizonte. Falta apenas o reconhecimento estadual.
Paralelamente ao caso da Tamisa, há imbróglio envolvendo outra mineradora, a Gute Sicht, que, segundo a Prefeitura de BH, faz a exploração nas montanhas com apenas um Termo de Ajuste de Conduta (TAC) assinado junto ao governo estadual – sem dispor, portanto, de licenciamento. A PBH tentou interditar o local, mas a companhia já soma quase R$ 600 mil em multas por seguir atuando.
"Nossa proposta é muito concreta: impedir que o avanço da mineração, autorizado recentemente, não aconteça. Se acontecer o avanço da mineração, de pouco valerá qualquer tentativa de preservação", reforçou Beatriz Cerqueira.