Em um dos últimos compromissos nos Estados Unidos, o presidente Jair Bolsonaro discursou para uma plateia de evangélicos na Igreja da Lagoinha em Orlando, na Flórida. Nos primeiros eventos estava o foragido internacional Allan dos Santos. O blogueiro bolsonarista tem mandado de prisão preventiva decretada no Brasil. Após o discurso na igreja e passeio de moto ocorrido na sequência, Bolsonaro foi comer em uma churrascaria. Na porta do estabelecimento, ao ser abordado por jornalistas, chamou o ministro do STF Roberto Barroso de “mentiroso” e “sem caráter”.
O chefe do Executivo falava sobre declarações do magistrado que o acusava de ter um inquérito sigiloso para apoiar as afirmações sobre fraudes nas urnas. “Eu não estou atacando a Justiça Eleitoral, eu estou atacando o Barroso, que não tem caráter”, disparou. Bolsonaro ainda falou sobre outro ministro da corte, Alexandre de Moraes, que é responsável pelos inquéritos das fake news, em que o presidente também é investigado.
Segundo Bolsonaro, o ministro teria ingressado na corte por ter aliança com o ex-presidente Michel Temer e que na sabatina não tinha tantos critérios. O presidente afirmou que as coisas começaram a desandar quando ele e o ministro fizeram uma aliança para frear o inquérito das fake news. “Conversei por três vezes com Alexandre de Moraes, combinamos algumas coisas. Ele não cumpriu nada. Uma das coisas era botar fim, em um mês, no máximo dois meses, a esse inquérito que ele abriu aos montões”, frisou.
O presidente ainda criticou a condenação do deputado bolsonarista Daniel Silveira (PTB-RJ). Segundo ele, Alexandre de Moraes continua perseguindo o parlamentar mesmo depois que lhe foi concedida a graça presidencial. "Agora, bloqueando o celular da esposa dele, que é a advogada que o defende", disse. Outro argumento utilizado pelo presidente foi comparar a situação com a prisão da ex-presidente da Bolívia, condenada nesta semana a 10 anos de prisão no país por articular um golpe de Estado em 2019. Bolsonaro já fez a comparação em outras ocasiões.
“Agora, foi confirmado dez anos de cadeia para ela. Qual a acusação? Atos antidemocráticos. Alguém faz alguma correlação com Alexandre de Moraes e os inquéritos por atos antidemocráticos? Ou seja, é uma ameaça para mim quando deixar o governo?”, perguntou.
O presidente ainda criticou a atuação do presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Edson Fachin, em convidar observadores internacionais para as eleições de 2022. “O que esses observadores vão fazer lá? Observar? Olha, a não ser que ele tenha um olhar de Super-Homem que possa observar programas, microchips. Qual a qualificação desses observadores?”
Consulado e Motociata
Na manhã de ontem, Bolsonaro inaugurou o vice-consulado do Brasil, em Orlando (EUA), com um aceno para sua base eleitoral que mora no estado norte-americano. “Aqui é um retrato da grande parte sadia do povo brasileiro. Aqui também teremos urnas (para as eleições de outubro). Em 2018, ultrapassamos 90% os votos conseguidos nessas regiões. Aqui é um retrato da grande parte sadia do povo brasileiro”, frisou o presidente. O local é um dos mais importantes redutos eleitorais nos Estados Unidos, e mais ainda para Bolsonaro. Em 2018, o presidente recebeu cerca de 80% dos votos no primeiro turno e aproximadamente 91% no segundo turno. A Flórida é um dos estados mais conservadores dos EUA e cerca de 200 mil brasileiros vivem na região.
O vice-consulado em Orlando é uma demanda antiga dos brasileiros que vivem no estado. Isso porque, para resolver qualquer problema, eles precisam se deslocar até Miami. Na ocasião, Bolsonaro ainda entregou dois passaportes brasileiros. O primeiro foi de Brian Rodrigues Santos, de 7 anos, que nasceu em Orlando. Ao entregar o documento, o presidente disse ao menino: “Seja feliz, lute pela sua pátria”.
Após inaugurar o vice-consulado, Bolsonaro participou de uma motociata promovida por apoiadores que moram nos Estados Unidos. Marcada de última hora e sem constar na agenda oficial do presidente, é a primeira vez que o chefe do Executivo faz um passeio desses fora do Brasil. De acordo com a organização da motociata, o Grupo Yes Brasil USA, eram esperadas cerca de mil pessoas em apoio ao presidente. Allan dos Santos participou da motociata e nas imagens compartilhadas em seu perfil pessoal nas redes sociais o blogueiro seguiu fazendo ofensas e provocações aos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
“Xandão (em referência ao ministro do STF Alexandre de Moraes) não queria que eu participasse de uma motociata no Brasil, olha o que Deus faz: traz a motociata aqui”, disse. Após a condenação pela Suprema Corte, a qual expediu um mandado de prisão preventiva contra Allan dos Santos, ele se exilou nos EUA em julho de 2021. Ele é investigado no âmbito dos inquéritos das fake news e das milícias digitais, que estão sob a relatoria do ministro Alexandre de Moraes.
Antes do evento, Bolsonaro já havia dito que não via problema em conversar com o foragido. “Se ele estiver presente, eu falo com ele. É um cidadão, sem problema nenhum. É um cidadão brasileiro, se expressou, se foi bem ou mal sua pena jamais poderia ser ameaça de prisão”, afirmou o presidente a jornalistas. Bolsonaro ainda afirmou que os ministros da corte “têm que entender que não são deuses” e que são “autoridades subordinadas à Constituição”. “Alguns do Supremo, não são todos, têm que tirar da cabeça que não são todo-poderosos, têm erros, têm falhas e se curvam à Constituição, acima de nós estão os cidadãos. Eu sirvo os cidadãos”, afirmou.
Encontro com Trump
O presidente da República, Jair Bolsonaro, afirmou ontem que convidou o ex-presidente norte-americano Donald Trump para um encontro antes das eleições brasileiras. Ao mesmo tempo, negou ter convidado o atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, para uma visita ao Brasil ou tê-lo presenteado com uma camiseta da Seleção Brasileira. "Não está esse clima todo, vai devagar. É um namoro, um noivado", afirmou, após se dizer "maravilhado" com Biden.
Bolsonaro foi aos Estados Unidos participar da Cúpula das Américas e, em Los Angeles, teve sua primeira reunião bilateral com Biden, com quem já trocou críticas no passado. O chefe do Executivo apoiou publicamente a campanha à reeleição de Trump, derrotado pelo atual líder da Casa Branca. “Conversei com ele, Trump, esta semana. Convidei, como sempre, para ir ao Brasil. Ele quer, dois meses antes da eleição, se encontrar comigo, aqui ou lá”, afirmou o presidente brasileiro em Orlando. Questionado por jornalistas na porta de seu hotel se convidou Biden para ir ao Brasil, Bolsonaro negou. “Não convidei, mas ele sabe que seria motivo de prestígio para nós”, declarou. Bolsonaro chegou aos EUA na quinta-feira para participar da Cúpula das Américas, que terminou ontem.