Desaparecido na floresta Amazônica desde o dia 5 de junho, o jornalista britânico Dom Phillips já esteve frente a frente com o presidente Jair Bolsonaro (PL), em julho de 2019, e o questionou sobre a preservação da maior floresta tropical do mundo. Dois anos depois, Bolsonaro postou o vídeo de Dom Phillips no Twitter e o usou como exemplo da "cobiça" pela Amazônia.
Correspondente do jornal britânico The Guardian no Brasil, Dom Phillips esteve entre os convidados de um café da manhã de Bolsonaro com jornalistas estrangeiros, no Palácio do Planalto, em julho de 2019. Na ocasião, ele fez uma pergunta para o presidente.
Leia Mais
Parlamentares repercutem desaparecimento de Bruno Pereira e Dom PhillipsBolsonaro sobre desaparecidos na Amazônia: 'Aventura não recomendável'PF não confirma localização dos corpos de Dom Phillips e Bruno AraújoBruno e Dom: PF e Forças Armadas se esquecem de agradecer indígenas Eduardo Bolsonaro ironiza formandos pró-Lula: 'rouba e não faz'Bolsonaro deu uma resposta em tom ríspido. "Primeiro você tem que entender que a Amazônia é do Brasil, não é de vocês", disse. "Nós preservamos mais do que todo mundo. Nenhum país do mundo tem moral para falar sobre a Amazônia", completou.
Depois, Bolsonaro continuou e questionou o trabalho de ONGs na Amazônia. "Para que tanta ONG na Amazônia, já que estão tão preocupados com o meio ambiente e o ser humano, e zero no semiárido nordestino? Responda pra mim isso aí, será que o interesse de vocês é com o ser humano ou é outro interesse futuro nessa área?", rebateu o presidente.
Nos comentários, perfis bolsonaristas atacaram Dom. "Esculachou o cara", escreveu um. "Mais um dos jornaleiros que vivem disseminando fakenews sobre a Amazônia", escreveu um perfil chamado "Lina Opressora". Após o episódio, Dom passou a receber ataques de bolsonaristas.
Em entrevista ao jornal Folha de S. Paulo, o jornalista Andrew Fishman, do The Intercept, que é amigo de Dom, disse que o britânico ficou “muito abalado com esse vídeo”. "Ele sentiu que isso colocava um alvo em suas costas e dificultava seu trabalho. Ele foi reconhecido em toda a Amazônia e em seu cotidiano por todos os tipos de pessoas como ‘o jornalista que levou um esporro do Bolsonaro", disse.
Desaparecimento
Dom Philips e o indigenista Bruno Araújo desapareceram no dia 5 de junho. A última vez que eles foram vistos foi na comunidade de São Gabriel. Eles haviam viajado até a região de barco, pelo Lago do Jaburu, e pretendiam voltar à cidade de Atalaia do Norte. Bruno acompanhava Dom como guia, e era a segunda vez que eles viajavam pela região.Eles desapareceram em uma área conhecida como Vale de Javari, região de selva amazônica que abriga pelo menos 26 povos indígenas, muitos deles isolados da civilização exterior. Dom Phillips tem 57 anos de idade e atua como correspondente no Brasil do jornal britânico The Guardian. Nascido na Inglaterra, ele mora no Brasil há 15 anos, onde escreve, principalmente, reportagens sobre a floresta Amazônica. Atualmente, ele estava trabalhando em um livro sobre preservação ambiental e desenvolvimento local.
Já Bruno, tem 41 anos e é especialista da Fundação Nacional do Índio (Funai). Dentro e fora da Funai,ele atua na defesa dos povos indígenas, posição que o fez receber ameaças regulares de criminosos na região.