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Estado de Minas PODCAST

Carlos Viana: "A tentativa é me tirar do jogo no tapetão"

Senador do PL e pré-candidato ao governo mineiro critica Zema e diz ser o indicado de Bolsonaro para Minas. Ouça a conversa para o podcast EM Entrevista


18/06/2022 04:00 - atualizado 17/06/2022 22:39

Apesar dos acenos públicos de Jair Bolsonaro (PL) a Romeu Zema (Novo), o senador Carlos Viana (PL) diz que só vai retira sua pré-candidatura ao governo mineiro caso receba ordem expressa do presidente da República. Enquanto lida com críticas de integrantes de seu próprio partido à empreitada, Viana roda o estado apresentando suas ideias.

Um dos pilares de seu projeto está no fomento ao turismo – como forma, sobretudo, de atenuar a dependência da mineração. “Se o turismo for trabalhado de verdade, dobramos em 10 vezes o número de empregos e, também, a arrecadação. Sem destruição e sem deixar para trás buracos e lama”, afirma em exclusiva ao podcast EM Entrevista.

 

“Daqui a 15 anos, esse minério vai acabar, reduzir. Não somos o primeiro exportador. Como será a economia sem o minério?”, questiona, para, logo em seguida, fazer uma de suas várias críticas a Zema, a quem acusa de fazer “governo de fachada”. Segundo o senador, o Palácio Tiradentes não apresentou, ao Planalto, planos de socorro para diminuir o papel da mineração na economia.


Carlos Viana, senador pelo PL, no estúdio do podcast EM Entrevista
Carlos Viana, senador pelo PL, participou de conversa no estúdio do podcast EM Entrevista (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)


Vice-líder do governo federal no Senado, Viana defende Bolsonaro e garante que o presidente “fez muita coisa por Minas”. “Ele pode ter inúmeros defeitos e cometido erros em várias abordagens, mas é um presidente com muito boa vontade de melhorar as coisas”.

 

 

Houve boatos de que o senhor retiraria sua pré-candidatura ao governo. Ela está mantida?

Imaginava que meu nome mudaria o cenário político, mas não que geraria tanto desespero, principalmente no atual governo. É um governo de fachada, que está se baseando só na publicidade, pois não tem o que apresentar. Quem é exigente, sabe muito bem. Eles têm conhecimento de que conheço o estado todo. Já visitei quase 450 cidades. Sei do que o estado precisa. A tentativa é me tirar do jogo no tapetão. Não vão conseguir. Fui convidado pelo presidente Bolsonaro a ser pré-candidato em Minas. Não pedi.

Fui chamado no Palácio do Planalto no último dia (da janela partidária). O presidente fez várias tentativas de aproximação com o governador, sem sucesso. Sou testemunha do quando o presidente abriu o Palácio a Minas. Eles não souberam aproveitar. O presidente me chamou e, além dele, estavam Valdemar Costa Neto (presidente do PL), o ministro Célio (Faria Júnior), da secretaria de Governo, e Flávio Bolsonaro. Me questionaram se estava disposto a ser candidato. Tenho muita vontade de ser governador. Não fui à política para me acomodar. Acredito que posso colaborar.

 

O presidente me colocou que faria tentativas de aproximação com o governador. Isso não deu certo. Há um movimento de direita que concorda com o presidente em muita coisa, mas não em tudo. Há o centro e uma direita mais radical. Essa direita está unida porque a candidatura de Bolsonaro representa esse grupo. Para esses, Zema traiu o presidente.

Carlos Viana, senador pelo PL
O senador Carlos Viana criticou dependência do minério de ferro (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Nestes três anos, Bolsonaro fez muitos gestos para Minas, mas não foram aproveitados. Desde 2021, o governador foge das agendas com o presidente. Ele só se reaproximou do presidente quando meu nome foi lançado. Em Uberaba, Zema ia ser vaiado pela multidão.

O presidente levantou (a mão do governador) para ele não ser vaiado. Só saio da disputa se o presidente me disser: ‘vamos tomar outro rumo’. Enquanto isso não acontecer, estou viajando, visitando e levando minhas ideias. Estamos crescendo.

 

Essa possibilidade de ele definir por outro rumo existe?

Hoje, é bem remota. O Palácio Tiradentes fechou e não abre discussão. Eles querem oferecer ao PL um acordo, mas sem um palanque para Bolsonaro. O presidente não aceita isso. Quem seria o palanque dele se eu saísse da disputa? Bolsonaro tem, em Minas, de 25% a 30% dos votos. Fez muita coisa pelo estado, e sou testemunha da boa vontade. Ele pode ter inúmeros defeitos e cometido erros em várias abordagens, mas é um presidente com muito boa vontade de melhorar as coisas.

 

No início do ano, falavam que o Brasil teria déficit de R$ 100 bilhões, que a dívida pública iria estourar e que a inflação destruiria tudo. O Brasil tem R$ 85 bilhões de superávit nas contas públicas e, pela primeira vez em pelo menos 20 anos, a dívida pública está abaixo de 80% (em relação ao PIB). Muito menor do que na época da Dilma.

No COVID-19, o Brasil investiu R$ 750 bilhões em estados e municípios. Não há um prefeito ou governador que possa reclamar que o governo federal não deu apoio. Só em MG, foram R$ 4,5 bilhões de caixa extra.

Com esse dinheiro e a gasolina alta, pagaram o funcionalismo e colocaram em dia as contas dos servidores. Não é porque a casa está arrumada, mas porque entrou dinheiro a mais. A situação do estado continua delicada.

 

Os preços em supermercados e postos de gasolina, por exemplo, estão altos. O que dizer a quem vai fazer compras e se depara com os preços altos?

As coisas vão melhorar. A inflação americana chega a 8% e, na Inglaterra, a perto de 9%. Não é um problema brasileiro, mas do mundo. No resto do mundo, há enriquecimento e salário com poder de compra. No Brasil, temos 35 milhões de pessoas vivendo com R$ 400. Há cerca de 25 milhões vivendo como autônomos. Essa população, que futuramente demandará benefícios, é a mais atingida.

Hoje, em Minas, quase três a cada 10 (pessoas) abandonam a escola aos 16 anos. Se a economia vai bem, o desemprego cai; quando há qualquer problema, o desemprego sobe, porque não há uma população qualificada na formação de trabalho. (A inflação) é um problema do mundo por causa do petróleo e de uma guerra. Quando isso passar, o Brasil voltará a ter índices altos de crescimento e, principalmente, de distribuição de renda.


Carlos Viana: 'Bolsonaro fez muitos gestos para Minas, mas não foram aproveitados'
Carlos Viana (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

 

O que o senhor tem em mente para diversificar a economia de Minas?

Primeiro, precisamos equilibrar as contas do estado. Temos um déficit no orçamento que vai aumentar 12%. Há R$ 38 bilhões pendurados em uma liminar do STF que, se cair, deixa o estado por três anos sem ter condições de pagar o funcionalismo. 

 

O governo se amparou nessa liminar para governar?

Sim. E só falou de problemas. Se eu ganhar a eleição e vocês me entrevistarem em um ano, direi que estou cheio de problemas para resolver? Eu não sabia deles? A reorganização da dívida passa pelo Regime de Recuperação Fiscal (RRF), do qual sou a favor, desde que modifiquemos os pontos que levaram (o plano) a não funcionar no Rio de Janeiro. Estrangulou as contas públicas e impediu promoções devidas no funcionalismo.

Precisamos de uma nova legislação corrigindo vários pontos. Como não promover um servidor por merecimento ou por carreira? O RRF diz que só se pode promover em caso de aposentadoria ou morte. Não é correto. Feita a (adesão à) Recuperação Fiscal, precisaremos de uma base na Assembleia, chamando o Parlamento a participar do processo de decisões. 

 

O atual governo, nessa história de que não gostava da política, não conseguiu base. E, sem base, você perde tudo. É preciso começar a pensar Minas na economia sustentável. Dependemos do minério, problema sério. Daqui a 15 anos, esse minério vai acabar, reduzir. Não somos o primeiro exportador. Como será a economia sem o minério? Minas não apresentou um plano pedindo ajuda ao governo federal nesse sentido. Foram três anos nulos. 

 

O senhor falou em dependência do minério. Como mudar o cenário?

Minas tem 62% de todo o patrimônio histórico brasileiro. Temos condições de ser um dos principais centros de turismo do Brasil, senão do mundo. Temos uma impressionante diversidade cultural. A mineração tem 65 mil empregos; o turismo, 390 mil postos diretos e indiretos. O turismo gera cerca de R$ 30 bilhões de receita; a mineração, R$ 60 bilhões.

Se o turismo for trabalhado de verdade, dobramos em 10 vezes o número de empregos e, também, a arrecadação. Sem destruição e sem deixar para trás buracos e lama. A população não quer mais mineração em área urbana. E, quando a população diz que não quer, o estado tem de começar a se adaptar.

 

O senhor, então, é contra a mineração da Tamisa na Serra do Curral?

Totalmente contra. É uma decisão desnecessária. Não é só em BH que há esse problema. Em Andradas, há um pedido de mineração na rota da peregrinação, que gera renda muito grande aos municípios. Saem do Sul do país ou do Rio de Janeiro, passam pelo Sul de Minas e vão para Aparecida do Norte. Se a mineração começar, essa rota se perde.

(É preciso) recuperar áreas degradadas e abandonadas, sem o estado saber o que fazer, com programas internacionais de carbono zero. Temos de começar a pensar nessa economia. BH, por exemplo, perdeu muito tempo em não ter ônibus elétricos. Temos de ter metas de redução de poluição. Isso é desenvolvimento. Ficou-se comemorando uma fábrica de cerveja.

Houve um bate-boca sobre quem levaria a fábrica. Somos um estado maior do que a França. Estamos de joelhos agradecendo por uma fábrica de cerveja? É muita mediocridade política.

 

Em que pé está a duplicação da BR-381, tema que o senhor encampou no Senado?

Encampei e vou resolver. Fizemos um modelo incluindo a BR-262, mas veio a COVID e a inflação de dois dígitos. O leilão, como estava, ficou inviável. Decidimos separar. Vai ser um leilão só da BR-381. Com isso, a gente tira aproximadamente R$ 2,5 bilhões do ponto de investimento. Aí, a gente consegue privatizar a BR-381. A expectativa (é fazer o leilão) em setembro. Se o Tribunal de Contas da União (TCU) der aval, conseguiremos privatizar.

 

O que o governo Bolsonaro pode fazer pelas estradas federais?

Na quinta da próxima semana, vamos a Salto da Divisa. O acampamento do Exército está montado para o asfaltamento da BR-367. É uma estrada que tem 75 anos praticamente de chão. Colocamos R$ 90 milhões do orçamento, boa parte encaminhada por mim. É uma estrada fundamental para desenvolver os arranjos produtivos do Jequitinhonha.

A BR-354, no Triângulo, será privatizada, assim como a BR-251, de Montes Claros a Salinas. A BR-116, Rio-Valadares, já foi privatizada, e a concessão da BR-040 foi retomada. Ela foi dividida em duas: Rio-BH e BH-Brasília – essa, inclusive, já está pronta para se leiloar, mas o momento não é o ideal, pois já foram feitos vários leilões. 


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