O discurso agora é outro. Se antes o presidente da República, Jair Bolsonaro, reiterava que colocaria a “cara no fogo” por Milton Ribeiro, pastor da Igreja Presbiteriana Jardim de Oração, então ministro da Educação; agora, a tese é: “que responda pelos atos dele”. E se até aqui, o quarto ministro da Educação, em três anos de governo Bolsonaro, apontou para o perigoso enlace ideológico, encarnado entre religião e ensino público; agora, a operação da Polícia Federal deflagrada nesta quarta-feira mostra o casamento entre religião, tráfico de influência e o balcão de negócios no Ministério da Educação para liberar verbas do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE). Fica patente que, apesar de exibirem a face de vestais, não há santos em tais igrejas; nem de santos é feito este governo. Cai por terra, assim, o principal eixo da retórica bolsonarista: a de que não haveria corrupção em sua gestão.
Para a campanha de Jair Bolsonaro a notícia não poderia ser pior. O governo já enfrenta dificuldades de manter a base eleitoral de apoio, face à inflação galopante, os preços dos combustíveis e a fome. A brutalidade da realidade passa a minar, lentamente, a identificação afetiva, alimentada principalmente junto ao público evangélico no antipetismo e em temáticas identitárias, cuidadosamente distorcidas.
Frequentemente, nessas igrejas, a esquerda é associada ao capeta e armas são “abençoadas”. Em que pese o bolsonarismo raiz, mais radical, exiba com orgulho o bloqueio cognitivo que o afasta dos fatos - mantendo incondicionalmente o apoio ao presidente – há potencial para algum esvaziamento da base menos radical, que ainda permanece com Bolsonaro, cativo em bolhas de autoajuda política, mas sem entusiasmo.
No âmbito da política e dos apoios alimentados no Congresso Nacional com emendas robustas, o novo fato da pré-campanha pode antecipar a debandada de quem empurrava para o fim de julho o momento de se reposicionar na disputa presidencial. Parlamentares conhecem o momento de saltar do barco, depois que já se beneficiaram de todos os recursos e programas para as suas bases eleitorais que podem facilitar a própria reeleição. E obviamente, como a oposição não está morta, ganha força a ideia da CPI do MEC, com a expectativa de que, no Senado, agora sejam reunidas as 27 assinaturas necessárias.
CPIs sempre chamam a atenção da sociedade. E quando no banco dos réus, em investigação, estão pastores que usam a palavra de Deus e pedem propina até na compra de bíblias, costumam despertar ainda mais interesse, pelo exotismo da situação. Tudo isso coroado pela bala de prata: áudio revelado pela Folha de S. Paulo mostra quando Ribeiro afirma que a prioridade dada aos pastores Gilmar Santos e Arilton Moura havia sido um pedido do próprio Jair Bolsonaro.
Para a campanha de Jair Bolsonaro a notícia não poderia ser pior. O governo já enfrenta dificuldades de manter a base eleitoral de apoio, face à inflação galopante, os preços dos combustíveis e a fome. A brutalidade da realidade passa a minar, lentamente, a identificação afetiva, alimentada principalmente junto ao público evangélico no antipetismo e em temáticas identitárias, cuidadosamente distorcidas.
Frequentemente, nessas igrejas, a esquerda é associada ao capeta e armas são “abençoadas”. Em que pese o bolsonarismo raiz, mais radical, exiba com orgulho o bloqueio cognitivo que o afasta dos fatos - mantendo incondicionalmente o apoio ao presidente – há potencial para algum esvaziamento da base menos radical, que ainda permanece com Bolsonaro, cativo em bolhas de autoajuda política, mas sem entusiasmo.
No âmbito da política e dos apoios alimentados no Congresso Nacional com emendas robustas, o novo fato da pré-campanha pode antecipar a debandada de quem empurrava para o fim de julho o momento de se reposicionar na disputa presidencial. Parlamentares conhecem o momento de saltar do barco, depois que já se beneficiaram de todos os recursos e programas para as suas bases eleitorais que podem facilitar a própria reeleição. E obviamente, como a oposição não está morta, ganha força a ideia da CPI do MEC, com a expectativa de que, no Senado, agora sejam reunidas as 27 assinaturas necessárias.
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Randolfe sobre Milton Ribeiro: 'Tem que prender quem manda também'Prisão de Milton Ribeiro repercute nas redes sociais; veja memesBolsonaro sobre prisão de ex-ministro: 'Vai respingar em mim, obviamente'Prisão de Ribeiro engrossa lista de problemas da Educação sob BolsonaroA denúncia de um balcão de negócios no MEC, que, segundo prefeitos, seria operado pelos pastores foi primeiro publicada em março passado, no Estado de S. Paulo: o então ministro da Educação mantinha um gabinete paralelo, formado por pastores evangélicos de fora do governo que controlam a verba e a agenda do Ministério da Educação. Não foi a primeira envolvendo Milton Ribeiro. Em maio de 2021, reportagem extensa também da Folha de S. Paulo revelara que ele atuou para favorecer um centro universitário privado, assim como o então ministro, também presbiteriano, suspeito de fraude no Enade 2019 (exame de avaliação do ensino superior).
Pastor na Igreja Presbiteriana, teólogo e advogado com doutorado em educação, Milton Ribeiro assim como os seus antecessores, colecionou crises no ministério numa cruzada ideológica, fundamentalista religiosa e reacionária, para a conversão da sociedade aos seus valores. Não à toa em janeiro deste ano, Ribeiro foi denunciado pela Procuradoria-Geral da República (PGR) ao Supremo Tribunal Federal pela prática do crime de homofobia: disse que a homossexualidade não seria normal e atribuiu sua ocorrência a “famílias desajustadas”. O pastor já havia dito também que não ia permitir “ensinar coisa errada” nas escolas ao mencionar questões de gênero, reforçando a distorção de estereótipos que rondam a abordagem desse tema.
Em junho do ano passado, Ribeiro disse que pretendia analisar pessoalmente as questões do Enem para fazer um filtro ideológico no exame. O MEC preparava a criação de uma comissão permanente para revisão ideológica do Enem ao estilo de um “tribunal ideológico. Negou o fato em depoimento na Câmara dos Deputados. A gestão de Ribeiro também foi marcada pela omissão do MEC no apoio a estados e municípios durante a pandemia de Covid-19, sem uma coordenação federal para garantir, entre outras coisas, a conectividade de alunos e plataformas educacionais.