A prisão do ex-ministro Milton Ribeiro pela Polícia Federal nesta quarta-feira (22/6) é o mais recente capítulo das crises geradas por gestões do Ministério da Educação (MEC) desde 2019. Sob as ordens do presidente Jair Bolsonaro (PL), a pasta teve quatro titulares - número que não considera Carlos Decotelli, retirado de cena sem sequer tomar posse por causa de inconsistências no currículo. Na lista, estão Ricardo Vélez Rodríguez, de passagem-relâmpago e epicentro de tentativas de revisionismo histórico, e Abraham Weintraub, que chamou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) de "vagabundos".
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Um 'olavista' na educação
O colombiano Vélez Rodríguez, primeiro ministro da Educação de Bolsonaro, chegou ao Palácio do Planalto com o aval do escritor Olavo de Carvalho, morto em janeiro deste ano e um dos mentores ideológicos do governo. O professor assumiu em janeiro de 2019, mas caiu quatro meses depois.
O breve período foi marcado por pedidos considerados inusitados por especialistas em ensino, como a ideia de filmar alunos cantando o hino nacional - ele queria que, antes da execução da canção, um slogan bolsonarista fosse lido.
Houve tempo, também, para tentativa de encampar revisão dos livros didáticos que contam a linha do tempo da história brasileira entre o golpe militar de 1964 e a redemocratização dos anos 1980.
Vélez chegou a afirmar, ao "Valor Econômico", que a ação armada responsável por derrubar a democracia foi, na verdade, "decisão soberana da sociedade brasileira". "O regime de 21 anos que sucedeu não foi uma ditadura, mas um regime democrático de força, porque era necessário naquele momento".
Em meio a outros tópicos como uma tentativa de fiscalizar questões do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), demissões na cúpula do MEC e a comparação dos brasileiros que vão ao exterior a "canibais", Vélez sofreu uma enxurrada de críticas da oposição. Em março daquele ano, durante um de seus últimos atos públicos, foi duramente contraposto por deputados federais em audiência na Câmara.
"Não dá para acreditar que trocas tão constantes de escalão e de projetos, que essa paralisia, vá levar ao sucesso da educação brasileira", rebateu Tábata Amaral (à época no PDT-SP e, hoje, no PSB). "Esperava muito mais do senhor em três meses de trabalho", frustrou-se.
À época, Bolsonaro também mostrou certo grau de decepção. "Não está dando certo o ministro Vélez", reconheceu.
Weintraub colecionou polêmicas
Hoje pré-candidato do Partido da Mulher Brasileira (PMB) ao governo paulista, Abraham Weintraub chefiou a Educação brasileira de abril de 2019 a junho do ano seguinte. O ápice dos problemas do então ministro veio em 22 de maio de 2020, quando o vídeo de uma reunião ministerial feita no mês anterior veio a público.
Durante a conferência, Weintraub atacou ministros da Suprema Corte. "A gente está perdendo a luta pela liberdade. É isso que o povo está gritando. Não está gritando para ter mais estados ou mais projetos. O povo está gritando por liberdade. Ponto. É isso que a gente está perdendo. Está perdendo mesmo. O povo está querendo ver o que me trouxe até aqui. Por mim, botava esses 'vagabundos' todos na cadeia, começando no STF".
O caso gerou reação do STF, e integrantes do tribunal exigiram a saída imediata do ministro. Uma fala de Weintraub contra a China também deu dor de cabeça a Bolsonaro. Ele usou o personagem Cebolinha, da "Turma da Mônica", para ironizar a COVID-19 e o país asiático. A embaixada chinesa, então, o acusou de racismo.
A lista de problemas teve a acusação de "balbúrdia" a estudantes e professores que pediam o não congelamento de investimentos no setor de ensino e a resistência ao adiamento do Enem no primeiro ano da pandemia. Houve tempo, também, para gafes como a grafia "imprecionante" (sic) e a confusão com o nome do escritor Franz Kafka, chamado por Weintraub de Franz Kafta - o sobrenome inventado, na verdade, é uma iguaria da culinária árabe.
O 'furacão' Carlos Decotelli
Antes de Milton Ribeiro assumir, o governo tinha a intenção de nomear Carlos Decotelli como substituto de Weintraub, mandado a um cargo no Banco Mundial, nos Estados Unidos. Decotelli, porém, sequer assumiu oficialmente o posto de ministro, porque apontou, no currículo, passagem pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), que negou tê-lo tido nos quadros de professores e pesquisadores. A Universidade de Rosário, na Argentina, também desmentiu a informação de que ele teria feito doutorado pela instituição.
Embora não tenha tomado posse, Decotelli chegou a incluir, em seus dados profissionais na plataforma Lattes, que atuou por seis dias no MEC - entre 25 e 30 de junho de 2020. O Ministério Público Federal (MPF) chegou a pedir que a Justiça apurasse a existência de eventual crime de falsidade ideológica.