Jornal Estado de Minas

SUPOSTA INTERFERÊNCIA

Assessor diz que Bolsonaro tem acesso a documentos da Polícia Federal

No momento em que o presidente Jair Bolsonaro (PL) se envolve em mais um episódio de suposta interferência na Polícia Federal, o assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência da República, Filipe Martins, afirmou que o chefe do Executivo tem acesso a documentos da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da PF que, em tese, são sigilosos. A declaração aconteceu em entrevista ao canal Cara a Tapa, no YouTube.





"Eu, como assessor, tendo a manifestar minhas discordâncias internamente. Acho que é descortês e deselegante eu vir aqui e dizer: 'não, naquele episódio eu disse isso. E foi feito aquilo'. Uma vez que ele fechou questão, o meu papel também é fazer com que a posição dele dê certo. Ele é o cara que tem a visão de conjunto e tem informações que eu não tenho", disse.

"Ele está falando com os militares de uma forma que eu não estou. Ele está recebendo informe de inteligência da Abin e da Polícia Federal de uma forma que eu não estou", completou o assessor.

Filipe Martins é um dos nomes mais próximos de Jair Bolsonaro e tem bom trânsito em todas as alas do governo. Ele também foi um dos responsáveis pelo alinhamento ideológico entre o presidente e Steve Bannon, o ex-estrategista de Donald Trump.





Na mesma entrevista, ele também negou a existência de um gabinete do ódio no governo. O Supremo Tribunal Federal (STF) apura suspeitas de uma rede especializada em disseminar notícias falsas.

"Não existe gabinete do ódio. Já disseram que eu formulava as estratégias, que eu mantinha robôs, que eu mantinha uma série de coisas. Eu não tenho tempo para isso, por causa das demandas do meu trabalho. O negócio do gabinete do ódio é uma coisa muito séria, porque isso tem sido utilizado pela oposição e pelo Judiciário também para destruir a vida de pessoas", disse.

Supostas interferências


O presidente Jair Bolsonaro já se envolveu em dois episódios de supostas interferências no trabalho da corporação. No primeiro, em 2020, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro afirmou que o chefe do Executivo queria trocar o diretor-geral da PF para ter acesso a informações e relatórios confidenciais de inteligência.

Agora, as suspeitas giram em torno do caso do ex-ministro da Educação Milton Ribeiro. Em gravações autorizadas pela Justiça, ele afirmou ter sido avisado por Bolsonaro a respeito da busca e apreensão da PF - que resultou em sua prisão.

O Correio entrou em contato com a Secretaria de Comunicação da Presidência da República e com a Polícia Federal, mas não obteve retorno. O espaço segue aberto para manifestações dos envolvidos.