Em 2018, o então candidato à Presidência da República Jair Bolsonaro utilizava o 7 de Setembro como oportunidade para açular homens e mulheres contrários aos 14 anos de governos do PT. Na época, chegou a dizer que iria “mandar” os petistas para a “ponta da praia”, local onde os torturadores, durante a ditadura militar, jogavam os cadáveres dos inimigos do regime.
Cinco anos depois, tentando manter sua cadeira no Palácio do Planalto, Bolsonaro já tem planos de utilizar novamente o Dia da Independência como palanque à reeleição. “É também um apoio a um possível candidato que esteja disputando. E isso está mais do que claro. E é uma demonstração pública de que grande parte da população apoia um certo candidato, enquanto o outro lado do outro candidato não consegue juntar gente em lugar nenhum do Brasil”, disse o presidente, em entrevista.
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Vanessa Portugal, do PSTU, participa do 'EM Entrevista' nesta segunda (4)PSB oficializa nesta segunda-feira apoio à pré-candidatura de KalilDeputado federal mineiro é o vice na chapa presidencial do partido NovoBolsonaro convida chefes de Estado para protestos do 7 de SetembroPesquisa Genial/Quaest: Lula tem 45% contra 31% de BolsonaroNa mesma entrevista, Bolsonaro confirmou que haverá manifestações políticas. “O que está sendo organizado, por exemplo, é o 7 de Setembro. É onde a presença do povo estaria dando uma manifestação de que lado eles estão. Eles querem aproveitar a data para ter uma grande concentração, por exemplo, em São Paulo, nas capitais, e aqui em Brasília”, disse.
Apesar da declaração do presidente deixar claro que pretende fazer da data mais um dia de tumulto, a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) afirma que Bolsonaro falou que “a população poderia fazer uma manifestação, e não que ele convidaria”. “A manifestação do 7 de Setembro ocorre todos os anos há uma década e, este, comemoramos o bicentenário da Independência. Portanto, é natural que tenhamos um evento com grande participação popular”, minimizou.
O vice-presidente da Câmara e aliado de Bolsonaro, Lincoln Portela (PL-MG), também ressalta que é “natural que as pessoas façam manifestações”. E enfatizou que serão atos pacíficos. “Nunca tivemos manifestações nossas de pessoas irem armadas, de terem confronto com a polícia, ou de grupos ideológicos se digladiando. Colocar o que colocamos na Avenida Paulista pacificamente, o que colocamos em Brasília pacificamente, não existe em lugar nenhum do mundo”, disse, referindo-se aos atos de 2021.
O cientista político do Insper Leandro Consentino avalia que os atos planejados por Bolsonaro são pensados de forma estratégica, para gerar a sensação de que há apoio popular. “Flertar com uma tentativa de golpe pode até anabolizar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com a migração para voto útil já no primeiro turno”, analisou.
Para o mestre em ciência política e professor do Ibmec-DF Danilo Morais, Bolsonaro não possui uma agenda que mobilize as massas. “A estratégia de emular o 7 de Setembro como um ato golpista evoca a dificuldade de lotar as ruas”, explicou.