O presidente Jair Bolsonaro (PL) desembarca neste sábado (8/7) em Uberlândia, no Triângulo Mineiro. Convidado a participar da Marcha para Jesus, tradicional evento religioso ocorrido na cidade, ele vai passar pelo segundo maior colégio eleitoral do estado menos de 30 dias após o município receber visita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder das pesquisas sobre o pleito nacional.
O périplo de Bolsonaro por Uberlândia, que também terá uma "motociata", é permeado por acusações de uso político do evento evangélico. A conjuntura local tem, ainda, os resquícios deixados pelo uso de uma substância fétida para atacar militantes petistas que aguardavam o evento do mês passado.
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Assembleia vai reforçar escolta de Andréia de Jesus após novos ataquesBolsonaro vai fazer 'motociata' em Juiz de Fora na sexta-feira (15/7)Bolsonaro mostra reportagem do EM para comemorar queda do preço da gasolinaLula supera Bolsonaro em Pernambuco, com 53% a 27%, aponta Paraná PesquisasSegundo Machado, os integrantes da linhagem tradicional da congregação batista, da qual ele faz parte, não vão engrossar o público da atividade religiosa com Bolsonaro.
"Respeitamos a diretoria do Conpas, mas nunca usaram a marcha para fazer campanha. Lamentamos que isso esteja acontecendo. É um fato que acontece nacionalmente. Felizmente, uma parte dos evangélicos está percebendo e se afastando. Isso, para nós, tem sido benéfico", diz, ao Estado de Minas.
O seio do bolsonarismo em Uberlândia, por sua vez, refuta a tese de evento político. "O propósito da visita não é eleitoral. É uma passagem para um ato de fé", garante Cristiano Caporezzo, vereador da cidade que se filiou ao PL para seguir o presidente.
"Todo mundo sabe que Bolsonaro é cristão. Ele tem recepção muito calorosa por parte do público evangélico", emenda ele, integrante da coordenação do "Direita Minas", movimento que reúne parte dos apoiadores do capitão reformado no estado.
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A reportagem procurou a equipe da Marcha para Jesus em Uberlândia a fim de repercutir as alegações de Gilmar Machado, mas a direção do Conpas não quis se manifestar. O material de divulgação do evento, no entanto, tem passagens que indicam alinhamento a algumas das pautas encampadas por Bolsonaro.
"Será um momento para, juntos, intercedermos pela liberdade de culto e de expressão, pela família tradicional, pela escola sem a ideologia de gênero, pela vida, contra o aborto e pelo combate à corrupção", projeta o presidente do Conpas, Ronaldo Azevedo, em parte do texto enviado à imprensa para explicar o propósito da conferência evangélica.
Visitas podem se refletir em apoios
Se Uberlândia tivesse a responsabilidade de definir sozinha os rumos do país em 2018, nem sequer haveria segundo turno. Isso porque Bolsonaro arrematou, de cara, 53,49% dos votos válidos na cidade. Depois, no confronto direto ante Fernando Haddad (PT), venceu por 55,13% a 44,87%. O atual prefeito, Odelmo Leão, embora não tenha dado mostras recentes de apoio explícito à reeleição do presidente, compõe os quadros do PP, um dos mais fiéis partidos da base aliada ao Palácio do Planalto."É claro que isso pode, sim, gerar frutos eleitorais, mas é simplesmente uma consequência. Não é o fator principal", aponta Cristiano Caporezzo. "Durante todo o governo, ele sempre foi convidado para eventos assim - e sempre se fez presente. Em menos de um ano, é a terceira vez que vem a Uberlândia".
Fazer presença em eventos evangélicos é, de fato, tônica de Bolsonaro. Prova disso é que, na próxima semana, ele deve estar em Juiz de Fora, na Zona da Mata, para prestigiar uma convenção da Assembleia de Deus Madureira.
Gilmar Machado, por sua vez, crê que a visita de Bolsonaro pode acabar ajudando Lula. Ele crê que os discursos de ambos podem ser comparados pelos moradores da cidade.
"Já se vê, na região, um sentimento de que há a necessidade do respeito à democracia, de quem realmente tem projeto estruturante para o país, preocupado com a fome, com a agricultura familiar e com a construção de casas para a população", assevera.
"(A população) vai ver, no discurso de um e de outro, quem, realmente, tem projeto para as pessoas que mais precisam", completa ele, que também atuou como deputado federal.
O voo do drone
Na semana passada, foi preso o agropecuarista Rodrigo Luiz Parreira, suspeito de participar da ação que culminou no ataque a simpatizantes de Lula via drone. A detenção aconteceu a pedido do Ministério Público Federal (MPF), que paralelamente ao despejo da substância, apura a aquisição irregular de armas por parte de Parreira.
"Ninguém perde um drone de R$ 200 mil sozinho. Queremos saber quem patrocinou a ação", pede Machado.
O líquido de forte odor atirado nos espectadores tinha aparência similar a dejetos humanos, o que fez com que atingidos por fragmentos pensassem se tratar de composto que misturava fezes e urina.
Nas redes sociais, homens filmados operando um drone chegaram a afirmar que se tratava de veneno. Há, ainda, versão que classifica o composto usado como algo feito para atrair moscas em lavouras.
Enquanto petistas pedem a continuidade da apuração do caso do drone, Cristiano Caporezzo garante que um apoiador de Bolsonaro foi agredido na porta da universidade particular que sediou o comício de Lula.
"Isso (as substâncias atiradas) foi noticiado, mas o bolsonarista espancado, e acho muito mais grave praticar agressão contra um ser humano, não foi noticiado", assegura.
A seccional de Uberlândia da Polícia Militar de Minas Gerais (PMMG) foi procurada, por e-mail e ligação, a fim de esclarecer se há boletim de ocorrência a respeito do suposto espancamento. Não houve retorno concreto. À reportagem, um dos responsáveis pela corporação afirmou que a reportagem só conseguirá obter informações sobre o tema na segunda-feira (10).
Governo de Minas também embala agendas
As viagens de Lula e Bolsonaro a Uberlândia têm relação com a corrida ao governo mineiro. O petista aproveitou a agenda para dar as mãos a Alexandre Kalil (PSD), pré-candidato da oposição ao governo mineiro.
O presidente da República, por sua vez, estará ao lado do senador Carlos Viana, pré-candidato do PL ao governo. Na quinta-feira, eles se reuniram em Brasília (DF). O parlamentar tenta se cacifar na disputa estadual mesmo ante os afagos públicos de Bolsonaro a Romeu Zema (Novo).
Embora trate o senador como aliado e tenha feito, inclusive, elogios ao correligionário, o presidente não citou a pré-candidatura de Viana no vídeo que gravou para as redes sociais do colega.
"A gente discute, conversa. Você (Viana) agora faz parte do nosso partido. Você passa a ser também uma esperança cada vez maior para o bem de Minas".