O pré-candidato a presidente da República Ciro Gomes (PDT), em viagem a Montes Claros, no Norte de Minas, neste sábado (16/07), chamou de "picaretas" os deputados e senadores favorecidos com emendas do Orçamento Federal, do chamado "orçamento secreto", pelo Governo do presidente Jair Bolsonaro (PL). De forma genérica, ele também disse que leis e normas erradas são aprovadas em Brasília "de propósito" para privilegiar interesses de uma "classe dirigente" e prejudicar a maioria do povo.
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Ele prosseguiu: "É preciso que a gente saiba e ajude o povo a entender e separar o joio do trigo. Mas nesse particular, Congresso Nacional, em termos de Centrão, (Artur) Lira (presidente da Câmara dos Deputados) de Orçamento Secreto, (que) é uma coisa que não existe em nenhum lugar do mundo. Orçamento e uma lei que, por definição daria transparências às contas do Governo, como ele arrecada, como se endivida e onde está gastando. Então, dos R$ 4,8 trilhões do Orçamento (Federal), 25 bilhões (são destinados) para investimentos, (e) o Bolsonaro entrega nas mãos desses picaretas R$ 20 bilhões. A responsabilidade é claramente do Bolsonaro, mas o Congresso também é conivente. É cúmplice", afirmou o pré-candidato.
"300 picaretas no Congresso"
Ciro Gomes lembrou a frase dos "300 picaretas no Congresso" do então presidente nacional do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, dita em setembro de 1993, quando já estava em campanha para eleição presidencial de 1994.Na ocasião, em viagem a Ariquemes (RO), Lula disse que havia no Congresso "uma minoria de parlamentares que se preocupa e trabalha pelo país, mas há uma maioria de uns 300 picaretas que defende apenas seus próprios interesses". A frase acabou inspirando a música "Luiz Inácio (300 picaretas)", gravada pela banda "Os Paralamas do Sucesso".
Polarização
Ao discursar em reunião com lideranças e militantes do PDT no Norte de Minas, em um salão de um hotel em Montes Claros, Ciro condenou a polarização na eleição deste ano entre Jair Bolsonaro e o pré-candidato à presidência Lula. "Essa polarização odienta, despolitizada e apaixonada não diz absolutamente nada do diagnóstico dos nossos problemas. Muito pior: essa polarização recusa até discutir as soluções para o país", assegurou.
"A discussão para (a busca de) soluções para o país é tão vitalmente necessária e o não debate é a certeza de que tudo vai continuar como está", disse o pedetista. Ele insinuou que são tomadas medidas erradas na política brasileira de maneira intencional para favorecer a classe dominante.
"O que está errado no Brasil, que está errado na nossa engenharia institucional, nas nossas regras, nas nossas leis, não está errado porque tinha um manual de (para) fazer certo e os caras em Brasília são tão salafrários, tão maldosos, tão sádicos, que fazem tudo errado de propósito somente para nos espicaçar (atormentar) e nos fazer sofrer. Se fosse assim, seria mais fácil. O que está errado no Brasil está errado para a tender a prepotência de uma classe dirigente minúscula, mas super poderosa, que detém todos os meios de formação de opinião".
Opção para eleitorado
Ainda em Montes Claros, o pré-candidato do PDT declarou que se apresenta como uma opção para eleitorado, fora da polarização Bolsonaro/Lula e que se opõe ao modelo econômico vigente no país, ao qual reiterou críticas severas. Também assegurou que, se eleito, vai acabar com o teto dos gastos públicos.
"O nosso problema não é Chico, Maria ou Manoel. O problema brasileiro é que nós temos um modelo econômico, que está se engessando com as instituições absolutamente hostis à sorte do povo brasileiro", disse.
"Hoje, o estado brasileiro está montado com uma poderosa máquina de transferência de renda do mundo do trabalho e do mundo da produção para o setor do "rentismo", do juro, da agiotagem oficial. Os números são impressionantes, absolutamente chocantes", relatou Ciro. Ele lembrou que o Brasil tem um orçamento anual de R$ 4,8 trilhões, dos quais 1,7 trilhão é usado para pagar juros e R$ 25 bilhões são destinados a investimentos.
O ex-governador do Ceará e ex-ministro disse que sua proposta, caso seja eleito, é acabar com o teto de gastos públicos. "Eu só aceito o teto de gastos desde que a gente coloque juros nele. Porque o mesmo bolso que paga saúde, educação e segurança, mal e porcamente, é o mesmo bolso de onde sai o dinheiro para (o pagamento dos) juros", pontuou.
Pesquisas
Ciro desacreditou as pesquisas que estão sendo publicadas, com Lula e Bolsonaro bem à frente dos demais pré-candidatos a presidente. Disse que elas são pagas por bancos. O representante do PDT disse ainda que embora o atual presidente da República e o petista estejam em lados opostos, eles têm pontos em comum.
"Qualquer imbecil sabe que o Lula é muito diferente do Bolsonaro. Eu também sei. Porém, o modelo econômico - o câmbio flutuante, a meta de inflação, o teto de gastos - é rigorosamente o mesmo. E o modelo de governança política.... Valdemar Costa Neto, Roberto Jefferson, são rigorosamente a mesma turma", salientou Ciro.