Após a convenção nacional de quinta-feira (21/7), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é oficialmente candidato à Presidência da República. Geraldo Alckmin também foi referendado por PT, PV e PCdoB, mas ainda precisa ser oficializado candidato a vice-presidente pelo seu partido, o PSB, em convenção na próxima sexta. Com a finalização do plano de governo nas próximas semanas, ficará mais claro qual será realmente o discurso que o petista adotará até outubro. Especialistas, porém, não esperam um Lula diferente de 2002.
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Apesar da pré-campanha antecipada que vemos desde o início do ano, as próximas semanas devem trazer uma consolidação maior do que esperar em relação a Lula. Na última quinta, mesmo dia da convenção, foi prazo final para inserir sugestões na plataforma colaborativa do plano de governo do ex-presidente. Agora os sete partidos coligados (PT, PV, PCdoB, PSB, Psol, Rede e Solidariedade) têm até o dia 15 de agosto para finalizar o plano de governo e entregá-lo ao Tribunal Superior Eleitoral junto com o registro da candidatura.
Propostas de governo em produção
“A coleta das sugestões populares é a primeira etapa do processo. Com o fim do prazo de contribuições, todas as propostas serão sistematizadas e entregues à Comissão de Redação do Programa de Governo do Movimento Vamos Juntos Pelo Brasil. Por fim, elas serão organizadas e entregues às equipes de transição e dos futuros ministérios”, diz nota divulgada pela campanha presidencial.
Após a consolidação do programa, será possível entender realmente o discurso de Lula daqui até as eleições de outubro. Até agora há uma divergência entre o que ele defende em suas falas públicas e o que é conversado pela equipe do plano de governo. Em público, Lula defende fervorosamente medidas impopulares, como a revogação da reforma trabalhista.
Nos bastidores, porém, a articulação é moderada. O grupo responsável por criar o plano de governo é formado por dois representantes de cada um dos sete partidos da coligação, e é liderado pelo petista Aloizio Mercadante. Porém, os partidos mais ao centro, especialmente o PSB e o Solidariedade, pressionam para que a reforma não seja revogada. A mesma coisa ocorre com o teto de gastos, frequentemente atacado nos discursos petistas.
Meio-termo sobre reformas trabalhistas
Internamente, Lula já admitiu moderar seu plano de governo. O meio-termo é alterar a reforma sem destruí-la por completo, regulamentando, por exemplo, trabalhadores por aplicativo. Por trás dos discursos que atacam os ricos, banqueiros e empresários, Lula articula com os representantes mais moderados do setor, delegando o ex-tucano Geraldo Alckmin para o papel. O alvo mais recente do ex-tucano foi o setor ruralista, na figura do ex-presidente da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag), Marcello Brito, que representará o setor na consolidação do plano de governo.
Na avaliação do cientista político pela Universidade de Brasília (UnB) André Rosa, mestre em psicologia política, a finalização do plano de governo trará uma clareza melhor do que ele promete na realidade, em vez de apenas nos seus discursos. Para André, radicalizar o discurso com medidas controversas, caso da reforma trabalhista, pode ser negativo.
"Revogar a reforma trabalhista é meio complicado"
“De fato, no campo econômico, tiveram muitos avanços com o governo (Michel) Temer e (Jair) Bolsonaro. Hoje é muito mais fácil abrir empresa, conseguir crédito, e isso facilitou para o pequeno empresário, que é a maior parte do PIB”, opina André Rosa. “Falar que vai revogar a reforma trabalhista é meio complicado. Se revoga a reforma, volta a burocracia. Não se tem na opinião pública algo que traga esse debate para a agenda. Ele está falando muito mais para a área ideológica do que para a própria massa de eleitores”, completa.
“Se engana quem acha que o Lula vai ser diferente. Ainda mais do que em 2002, quando se aliou ao José Alencar, do PL, ironicamente o partido de Bolsonaro agora, sinalizando um pacto entre as elites. Ele faz o mesmo pacto agora, mas com uma roupagem diferente, com o Alckmin, mais moderado”, avalia a professora de Ciência Política da Universidade Federal de Alagoas (UFAL) Luciana Santana.
“Para vencer as eleições, ele precisa convencer um eleitorado mais amplo, por isso adota estratégias às vezes controversas. Para ele decidir qual posição vai tomar, ele depende das composições, das alianças que vai formar no Legislativo. Hoje as condições de governabilidade são mais difíceis do que em 2003. Ele vai ter dificuldade, caso seja eleito, de reverter isso”, finaliza.