Jornal Estado de Minas

ENTREVISTA

Cleitinho 'veste a camisa' de Bolsonaro, critica Zema e espera aval do PSC

Após planejar uma campanha independente, o deputado estadual e pré-candidato ao Senado Cleitinho Azevedo (PSC) vai "vestir a camisa" do presidente Jair Bolsonaro (PL). A aliança entre ambos, sacramentada na terça-feira (2/8), deu alívio a Cleitinho, que ainda aguarda ser oficializado por seu partido na disputa.





Ontem, ao participar do "EM Entrevista", podcast de Política do Estado de Minas, o parlamentar comemorou a parceria com os liberais, mas fez questão de transparecer a decepção com o governador Romeu Zema (Novo). "Foi um pouco de falta de gratidão comigo nem me chamar para conversar, comigo liderando pesquisas para o Senado", disse.

Cleitinho tem sido bem cotado nas pesquisas sobre a corrida ao Congresso. Na semana passada, apareceu em primeiro lugar em levantamento do Instituto F5 Atualiza Dados, registrado na Justiça Eleitoral sob os números MG-09704/2022 e BR-05714-2022.

Ele afirmou não ser simpático ao que chamou de "toma lá, dá cá" e refutou a hipótese de ser visto como contraditório por ter um dos irmãos, Gleidson, como prefeito de Divinópolis, e outro, Eduardo, na disputa por um assento na Assembleia Legislativa.



Para romper com o dito "sistema", defende candidaturas avulsas. "Dependi de um partido para ser candidato. Imagina se não me dessem a vaga? Estava 'f...'. Meu partido, de verdade, é o povo", afirmou.

A íntegra da entrevista com Cleitinho está disponível no canal do YouTube do Portal Uai. Hoje, o sabatinado será Marcelo Aro, candidato do PP ao Senado.



No início da semana, o senhor fez um desabafo sobre um suposto boicote à sua participação na eleição. Anteontem, houve o apoio de Bolsonaro à sua pré-candidatura. Isso clareou as coisas?
Foram duas "clareadas" nesta semana. Quando fui para o PSC, o presidente nacional era Leonardo Gadelha. Fui a ele com o presidente estadual, Euclydes (Pettersen, deputado federal); me prometeram a vaga para o Senado. Na semana passada, Pastor Everaldo reassumiu a direção nacional. Começaram burburinhos dizendo que havia políticos indo até ele para não deixar eu ser candidato ao Senado. Queria saber (da imprensa) quem foram esses políticos e por que teriam ido lá. Por isso fiz o vídeo.

Na segunda-feira, Everaldo fez uma comunicação dizendo que quem vai decidir os candidatos são os presidentes estaduais - em Minas, Euclydes, que havia me garantido a vaga. Me tranquilizei. Ontem (na terça), houve uma reunião em que meu nome foi colocado para apoio a Bolsonaro - comigo apoiando ele também.



O PSC tendia a apoiar Zema. Para que sua candidatura tenha o apoio de Bolsonaro, o partido precisa estar na coligação de Viana? Vai ser possível convencer seu partido?
Não estou participando desses detalhes. Recebi uma ligação de Bolsonaro me chamando para compor com ele. Dos detalhes partidários, Euclydes está tratando. Se o partido inteiro vai apoiar Viana ou se só eu terei de ficar com a chapa Viana-Bolsonaro, será decidido por Euclydes, com o deputado estadual Noraldino Júnior, que já tinha feito um compromisso de apoiar Zema.

Há uma semana, o senhor disse que pretendia apoiar apenas quem o apoiasse para senador. Como foi a construção que o levou à chapa de Bolsonaro?
Só iria abraçar quem me abraçasse. Tive um convite de Bruno Engler (deputado estadual do PL) para que Bolsonaro me conhecesse (no fim de junho). Ele me disse que não trataria do Senado porque havia um candidato (Marcelo Álvaro Antônio, do PL) e esperaria chegar mais perto (da eleição). Não passei por cima de nada, porque havia o Marcelo Álvaro. Não faço esse tipo de política - estou passando por isso e não desejo às pessoas o que estou passando. Fiquei à disposição e, ontem (terça), houve o convite.

O senhor se considera bolsonarista?
Sou, primeiro, Jesus Cristo, mas sou Bolsonaro. Estou com ele. Ele está me abraçando, e vou abraçá-lo. Se tem uma coisa que não sou é traíra. Se ele está estendendo a mão a mim, vou ser grato a ele agora. Um dos motivos de eu ser pré-candidato ao Senado é ter um presidente me apoiando. Tenho de estender a mão e vestir a camisa dele. Uma coisa que sempre tive foi lado.



Se Bolsonaro não estivesse em sua aliança, o senhor abriria, a ele, uma exceção à regra de só firmar apoios recíprocos?
Votei nele em 2018 e iria votar novamente. Esta eleição é Bolsonaro ou Lula. Iria vestir a camisa do Bolsonaro. Com todo respeito ao Lula e a quem vota nele, mas acho que já teve sua oportunidade e não deve ser presidente. Bolsonaro tem que continuar.

Abraçaria (Bolsonaro), mas não Zema. O governo dele, para mim, é melhor do que os dos outros (...). Mas o apoiei quando ninguém acreditava. O Cidadania me deu uma retaliação dizendo que não seria candidato se continuasse apoiando Zema, porque o partido estava coligado ao PSDB para apoiar Antonio Anastasia.

Vesti a camisa dele, levei à cidade (Divinópolis), dei a cara para bater. Foi um pouco de falta de gratidão comigo nem me chamar para conversar, comigo liderando pesquisas para o Senado. Estou um pouco decepcionado. Não que isso vá durar, pois não guardo mágoas, peço perdão e sei perdoar. Como ele não me abraçou, não há porque abraçá-lo. Mas não deixo de reconhecer o trabalho dele.



Estar no Senado é essencial para sua estratégia de combate aos problemas de Minas?
Me tornei deputado estadual sem pensar em reeleição ou candidatura a outro cargo. Fui trabalhando, e meu mandato, crescendo. Hoje, sou chamado por toda Minas. Sou um deputado estadual com pouca estrutura; um deputado federal tem mais estrutura, e um Senador (ainda), mais estrutura e opções para ajudar mais. Não vou conseguir atender com recursos todas as cidades. Então, como deputado, fiquei um pouco bloqueado.

Estar no Senado é uma forma que tenho de ajudar mais o estado e os municípios. Uma das pautas de um senador é ajudar as prefeituras. Lá, terei abertura em ministérios, fora as emendas, que são obrigação. Se eu tiver oportunidade, vou indicar (verba) para as cidades.

O senhor falou em lutar por recursos, mas, se eleito, estará em um Congresso marcado por um "orçamento secreto". O que acha disso?
Sou contra. Política é transparência. Já começa errado no nome: "secreto" é uma palavra ridícula para quem faz política. Essa prática tem de acabar. Se estiver lá, não vou fazer (empenhar emendas secretas). Serei transparente. Se houvesse como ter mais deputados e senadores para propor acabar com as emendas... Acho que emenda é competência do Executivo. No Legislativo, a competência é legislar, fiscalizar e representar. Não há competência para executar - quem tem de fazer isso é o Executivo. O 'toma lá, dá cá' acontece quando há essa prática de emendas. Se isso não acabar, e eu tiver emendas transparentes para indicar, indicarei. É dinheiro do povo voltando para o povo.



Qual o principal problema de Minas? O que fazer para resolver?

A geração de empregos. O Vale do Jequitinhonha e o Norte não conseguem levar empresas. Como um empresário vai vir para Minas com as estradas de lixo que há aqui? Tem de atrair (investimentos), ter incentivos. Uma reforma tributária é importante para o país, assim como uma reforma política. Na Assembleia, não tenho competência para falar sobre essas reformas.

Precisamos desburocratizar o país. O empresário, hoje, está sufocado. Veja o que aconteceu com a Heineken em Pedro Leopoldo. Precisou ir para Passos e quase perdemos (a fábrica). O empresário, quando vem para Minas, tem de ter um tapete vermelho estendido, e não a situação dificultada.

O que pensa do Regime de Recuperação Fiscal, cuja adesão de Minas foi autorizada pelo STF?
O Estado sempre fez a população pagar a conta. Quem tem de pagar a conta são os Três Poderes. O que sempre vejo é colocar a conta no povo ou no servidor, aumentando uma taxa ou colocando um imposto. Enquanto não mexer na classe política, jamais votarei a favor de um projeto para prejudicar o cidadão.



O "regime" tem de ser nos Três Poderes, e não no servidor. A gordura está no auxílio-paletó, no auxílio-moradia, em só um servidor do governo receber R$ 200 mil.

Se eleito senador, tentará juntar colegas por uma saída política para a dívida de Minas com a União?
Não fazemos política sozinho. Se for eleito, estarei com mais dois senadores. Temos de nos unir em prol de Minas Gerais. Se eu estiver lá, vamos correr atrás. A Recuperação Fiscal, para ser justa, deveria valer para quem vai prestar concurso, que já estaria sabendo da realidade no serviço público. Punir quem está no serviço público e já programou a vida, é injusto.

No desabafo do início da semana, o senhor disse que um "sistema nojento" tentava te boicotar. A quem ou a que se referia?
Pergunte a qualquer político com quem conversei durante esse percurso de pré-candidato a senador se pedi alguma coisa a mim. Fui o mais justo e honesto possível na política. Esse sistema de "toma lá, dá cá" eu não faço. Por isso, sempre fui muito sozinho e independente. Estou na política, mas tento fazer de tudo para não participar desse sistema. Um exemplo de reforma política são as candidaturas avulsas. Dependi de um partido para ser candidato. Imagina se não me dessem a vaga? Estava "f....". Meu partido, de verdade, é o povo.

André Janones, com quem o senhor teve afinidade política, disse que há "um golpe em curso" ao tratar de Bolsonaro. O que pensa desse tipo de declaração?
Não vejo golpe nenhum. Bolsonaro é totalmente democrático. Olha o tanto que o presidente apanha. Não vai ter isso (golpe). Tenho certeza que ele vai aceitar (o resultado em caso de derrota). Oposição existe e sempre vai ter.



O senhor falou em um "sistema nojento". Não soa como contradição o fato de um de seus irmãos, Gleidson, ser o prefeito de Divinópolis? Eduardo, outro irmão e vereador, deve ser candidato a deputado estadual.
Isso mostra que tenho pavor do sistema nojento. Se eu participasse dele, eles estavam na Assembleia ou indicados na Copasa, na Cemig ou em Câmaras Municipais. Eles foram eleitos pelo processo democrático. Meu voto não elegeu meu irmão prefeito. Quem escolheu foi o povo. Eles entraram pela porta da frente.

Quem motivou meu irmão (Gleidson) a entrar na política foram os concorrentes: todos o chamaram para ser vice a fim de ter meu apoio. Mas nenhum deles aceitou ser o vice do meu irmão. Não somos coronéis. Não viramos políticos para mandar na cidade. Vamos para servir. Temos prazo de validade. Meu irmão e eu vamos passar. Queria que esta fosse minha última eleição. Tenho o sonho de ser prefeito da minha cidade, mas depois que eu tiver aposentado, sem receber salário.

Há condições de continuar pagando o auxílio de R$ 600 no ano que vem? Como avalia a postura de Paulo Guedes no caso?
Se ele (Guedes) é louco de fazer uma coisa dessas (o auxílio), só (de cunho) eleitoral, tem que ser preso, com todo o respeito. Fazer uma situação dessas e, depois, ferrar com o povo e falar que não há dinheiro para pagar em janeiro e fevereiro terá sido leviano, irresponsável. Se o Brasil tiver orçamento para pagar, vou defender (a manutenção do auxílio).