Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES 2022

Em BH e Juiz de Fora: pessoas em situação de rua opinam sobre eleição

Os principais candidatos na corrida presidencial, Lula (PT) e Jair Bolsonaro (PL), passaram por Minas Gerais esta semana em atos em praças públicas para atrair o público mineiro. Uma parte desse eleitorado, presente nos comícios, são as pessoas em situação de rua, que costumam ter esses espaços onde os políticos estiveram como sua “casa”. O Estado de Minas ouviu, tanto em Juiz de Fora quanto em Belo Horizonte, o que essas pessoas esperam do próximo presidente da República.





Bolsonaro lançou a campanha eleitoral oficialmente na última terça-feira, na cidade da Região da Zona da Mata mineira, visando às eleições de 2022 – ele também esteve na capital do estado três dias depois para a instalação do Tribunal Regional Federal da 6ª Região (TRF-6). Já Lula discursou na Praça da Estação, no Hipercentro da metrópole, na quinta-feira, ao lado do candidato ao governo de Minas na chapa, Alexandre Kalil (PSD).

Ambos reuniram multidões para ouvirem as propostas. Dos entrevistados pela reportagem, alguns acompanharam os discursos. Já outros poucos se importaram com a presença dos presidenciáveis em suas cidades.

Rosângela Aparecida, 59 anos » Praça da Estação Juiz de Fora

Rosângela Aparecida, 59 anos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
“Na época do Lula era melhor. O pacote de arroz era cinco, seis, sete reais, oito reais. Agora, com o Bolsonaro, é quanto? 35 reais. Eu não fui na visita do Bolsonaro e nem queria ver ele, e ele passou aqui na praça. Passou de moto, não quero nem ver. Se precisar do meu voto, eu prefiro morrer. Vou votar no Lula, para ajudar as pessoas mais pobres. Tenho auxílio, bolsa, ajuda um pouquinho. Não comi nada até agora, o pessoal passou, as motos passaram tudo, vão dar o quê? Dá nada a ninguém não. Não tenho título de eleitor, tenho identidade, com identidade eu consigo votar. Que aí eu vou votar no Lula. Moro na rua desde os 26 anos, não dava para pagar aluguel. O Lula voltando vai melhorar muito, porque comprava o pacote de arroz a 8 reais, agora 30 reais.”





Ruth Graziela Antônio, 26 anos » Praça Riachuelo, em frente ao shopping de Juiz de Fora

Ruth Graziela Antônio, 26 anos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
“Se eu pudesse escolher, ia no Lula. O Bolsa Brasil veio por causa do Bolsa-Família, quem fez o Bolsa-Família foi o Lula. Ele ajudou mais com ONG, com escola, com creche, com abrigo. Meus irmãos que recebem coisa de auxílio, eu não recebo nada. Estudei até o oitavo ano, parei com 16 anos de estudar. Sei lá, nem sei por que, parei por parar. Vi o Bolsonaro de longe, mas vou perto para quê? Tem nem porque não. Quem está rico e com dinheiro no bolso é ele. Tem muito morador de rua em Juiz de Fora, e está aumentando, a fome mais ou menos, está tendo muita doação de noite, pessoal das igrejas. Não gosto de votar e não vou votar. Estou comendo pela primeira vez, vou arrumar alguma coisa mais. Peço alguém um trocadinho, vou lá e compro, não gasto com droga, não. Com droga eu trabalho e gasto do meu trabalho, eu fumo muita maconha. Baseadinho é bom porque a gente come, fica tranquilo.”

Jorge Luiz da Silva, 60 anos» Praça da Estação Juiz de Fora

Jorge Luiz da Silva, 60 anos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
“Tentei nos bancos aqui, mas meu cadastro único é BH. Aí não tem como, sou do Recreio. Eu voto, até meus amigos que dizem que não vão votar nele, mas eu sou obrigado, porque estou querendo dinheiro do cara, uai. Você tá pedindo dinheiro ao cara, ele tá aceitando a proposta, só que ele quer que eu vá no cadastro. Vou para BH com assistência social, já tá tudo bolado. Tô até esperando um rapaz aqui, consegui tomar café. Recebi 800 reais. Não pode votar fora do Bolsonaro não, mano. O cara tá, ele vai falar que não vai dar dinheiro, tenho 60 anos. Eu voto, só não sei o número, ele muda. Como você vai sair fora do cara? O Lula não vai querer aceitar essa proposta. E se votar no Lula e cortar, tá falando que vai continuar, mas não vou na onda dele não, tô com Bolsonaro porque está me dando a grana.”

Lúcia Helena Aparecida, 57 anos » Calçadão Juiz de Fora

Lúcia Helena Aparecida, 57 anos (foto: Alexandre Guzanshe/EM/DA Press)
“Estou em situação de rua, mas roubaram meus documentos tudo num albergue. Eu fiquei sabendo do Bolsonaro, mas não vi ele, não. Eu só tive auxílio de problema de saúde, o Brasil nem corri atrás. Tenho que tirar documento ainda, já tinha tirado outra, falaram que tem que esperar. Não tem como eu votar, mas ia votar no Lula. Porque começou muito bem com ele, antigamente o pobre não podia ter nem radinho de pilha. Depois tinha geladeira, cheguei a ter isso. Com a Dilma também, tive Bolsa-Família. Depois eu perdi. Ultimamente, não tenho lugar certo, não.”





Denis Santos, 33 anos » Praça da Estação, BH

“Meu voto é Lula. Ele foi muito bom quando estava na presidência, deu auxílio para os moradores de rua e para os pobres. Na época do Lula eu era mestre de obra. Depois eu fui condutor de ambulância e agora estou há mais de 10 anos na rua. Agora ele está querendo aumentar o salário e também o auxílio. Hoje não recebo nenhum benefício e também, porque um ônibus passou por cima da minha perna, tentei me aposentar e não consegui. Acho que o Lula ganha, tomara Deus. Se ele ganhar, tenho vontade de conversar com ele. Ele falou que vai mudar o país, ajudar as pessoas que estão na rua. Não querem saber de rico, como o Bolsonaro. O presidente, para mim, só é a favor de quem tem dinheiro, não tá nem aí pra gente. Pobre? Ele não quer saber.”

Valmir Rocha, 42 anos » Praça da Estação, BH

Valmir Rocha, 42 anos (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
“Eu vou ser sincero, o Lula teve um mandato muito bom. Eu, particularmente, votei nele nas outras eleições e gostei da política que fez. Eu não tinha carro, comprei. Eu não tinha casa, comprei. Na época dele eu trabalhei os quatro anos no programa Luz para todos, não tenho nada a reclamar. Hoje, o governo Bolsonaro não tá igual ao Lula não, tem muita coisa para melhorar. Estou vendo gasolina subindo, tudo aumentando disparadamente. Quando o Lula estava aí ele segurava mais a onda. Estou ainda meio balançado, para ser sincero estou um pouco em dúvida. Estive no comício do Lula e assisti do início ao fim, ele tem propostas boas. Eu espero que o próximo presidente continue com muitos programas sociais que estão parados.”

Márcio Alberto, 47 anos » Praça da Estação, BH

Márcio Alberto, 47 anos (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
“Eu espero que o Lula faça tudo que sempre fez, ele nunca me decepcionou. Pelo contrário! O governo dele para mim foi lindo, além de pagar nossa dívida externa que nenhum outro presidente fez, nos concedeu vários benefícios. Eu recebia o Bolsa-Família e agora é o Auxílio Brasil, que é ótimo porque eu recebia R$ 90 e de repente passou para R$ 1.200. Eu creio que o Lula será eleito e acredito que deve continuar do mesmo jeito que era quando foi a época de governo dele. Para falar a verdade, eu nem conheço o Bolsonaro”

Emerson Fernandes, 48 anos » Praça da Estação, BH

Emerson Fernandes, 48 anos (foto: Túlio Santos/EM/DA Press)
“Eu imagino que o Lula vai ser eleito e todo mundo fala que foi o presidente dos pobres; então, eu espero que ele nos ajude. Eu vou votar nele. Ele ajudou muito os pobres, eu posso dizer que foi o melhor governo que a gente teve, ele pensava muito nos pobres. O Bolsonaro foi uma merda, Deus me perdoe pela palavra, mas ele só fez a favor dele. Não fez nada pela gente”