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Estado de Minas ELEIÇÕES 2022

Aluna da UFMG é atacada por fazer ação de inclusão eleitoral de indígenas

Mestranda da faculdade de direito relata ofensas de homem que se irritou por projeto que leva informações sobre as urnas para a comunidade Maxakali


23/08/2022 19:06 - atualizado 23/08/2022 20:44

Projeto 'Democracia, Cidadania e Justiça ao Povo Maxakali'
Projeto busca aproximar a comunidade Maxakali do processo eleitoral (foto: Acervo pessoal)
Uma mestranda da Faculdade de Direito da UFMG sofreu agressões verbais durante viagem ao Vale do Mucuri para ação de inclusão eleitoral da comunidade indígena Maxakali. Quando retornava de Águas Formosas, no último domingo (21/8), Pietra Vaz, de 25 anos, foi verbalmente agredida por um passageiro de ônibus, que ficou nervoso pelo programa incluir instruções sobre como utilizar a urna eletrônica.

Pietra representou a UFMG no projeto "Democracia, Cidadania e Justiça ao Povo Maxakali”, desenvolvido pela comunidade em parceria com o Tribunal de Justiça (TJMG) e o Tribunal Regional Eleitoral (TRE-MG), de Minas. Durante o último fim de semana, foram desenvolvidas ações de inclusão em aldeias indígenas nas cidades de Santa Helena e Bertópolis.

Quando regressava a Belo Horizonte, Pietra começou a explicar a respeito do projeto para um passageiro e teve a conversa interrompida por um homem de 35 anos, que questionou a ação como se ela fizesse parte do programa eleitoral do candidato à Presidência Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

“Ele perguntou algo como: ‘mas vocês estão levando essa coisa de urna eletrônica para os índios: isso para o Lula vencer as eleições?’. Eu respondi que as urnas são seguras, que o projeto buscava dar mais autonomia para os indígenas escolherem seus candidatos e exercerem o voto e que não indicamos voto a candidato nenhum durante o projeto”, disse a mestranda.

De acordo com o relato, o homem seguiu argumentando agressivamente sobre o projeto e suas supostas pretensões eleitorais, e outros passageiros entraram na discussão tentando dissuadi-lo.

Insinuação machista


Pietra contou que tentou intervir para mediar a situação enquanto o homem discutia com um idoso, mas não teve sucesso. 

“O homem ficou irritado comigo e me falou que estava humildemente se colocando em posição de aluno, que estava querendo apenas que o senhor o ensinasse sobre política. Eu insisti que aquela não era a ocasião, que ele tem todo direito de aprender, mas que ninguém tem obrigação de atuar como professor dele, ainda mais naquelas condições. Para minha surpresa, o homem começou a gritar comigo: ‘então vai tomar no seu c*, sua vagabunda, metida a sabe tudo, comunista, enfia a urna no seu c*, você vai afundar o país com aquele ladrão do Lula, vai se f*’”, relata.

Pietra conta que ficou assustada com os xingamentos, mas reforçou que o homem estava sendo inconveniente, ao que ele respondeu dizendo: “Vai dormir então, mulher, e me deixa em paz. Quer vir dormir no meu colo? Aqui no meu colo você não vem não”. Ela disse que, se sentindo vulnerável pela insinuação machista, foi até o motorista do ônibus para relatar o problema.

O motorista pediu que o homem mudasse de poltrona, mas ele se recusou. Na primeira parada do ônibus, na cidade de Pavão, o motorista acionou a Polícia Militar (PM). O homem foi retirado do veículo, que seguiu viagem sem o agressor. 

À reportagem, Pietra Vaz disse que não prestou queixa por injúria. Embora tenha se sentido ofendida e amedrontada, ela ficou mais tranquila pelo homem ter sido expulso do ônibus. “Foi uma experiência horrível, desgastante e que me deixa com medo dos acontecimentos no país nos próximos meses. Um ataque gratuito, motivado pela desinformação e pelo extremismo político que gera intolerância e faz as pessoas perderem a capacidade de se comunicar sem agredir”, relatou.
 
'Democracia, Cidadania e Justiça ao Povo Maxakali'
Cartaz que usa animais para ensinar uso da urna estava sendo carregado por Pietra quando foi atacada em ônibus (foto: Acervo pessoal)
 

Atividades suspensas


Diante do ataque, a professora da Faculdade de Direito da UFMG e coordenadora do Observatório da Qualidade da Lei, Fabiana de Menezes Soares, informou que as atividades presenciais de membros do grupo estão suspensas. À reportagem, ela manifestou seu repúdio ao ocorrido no último domingo.

“Ela sofreu um ataque porque foi vista como uma pessoa que defende as instituições democráticas. A UFMG é uma instituição com alcance enorme e história na defesa da democracia, e nunca sofremos esse tipo de ataque, que tem um forte conteúdo misógino e aconteceu em um ambiente fechado, em que ele poderia ter partido para as vias de fato”, disse a professora.

Fabiana de Menezes ressaltou que o trabalho do Observatório da Qualidade da Lei e do projeto "Democracia, Cidadania e Justiça ao Povo Maxakali” é republicano e apartidário. A professora também disse que é importante que as instituições se manifestem repudiando atos violentos que atrapalham o acesso à democracia.

“Nós trabalhamos com linguagem simples em legislação e na difusão de textos normativos, então esse projeto para nós é um case brasileiro. Ele mostra a importância de existir uma aproximação da linguagem oficial, até mesmo com outras línguas, que é o caso do povo Maxakali. Agora temos que saber que tipo de medida o TRE e o TSE estão tomando para garantir que esses tipos de ataque não aconteçam”, apontou.

TRE


Em nota enviada à reportagem, o TRE-MG lamentou o episódio de agressão e ressaltou que o diálogo, a tolerância e o respeito a quem tem opiniões e preferências diferentes são fundamentais para a democracia.

O tribunal ainda deu detalhes sobre as atividades desenvolvidas no último fim de semana: "A votação simulada na urna eletrônica, que já tinha tido a sua primeira edição nos dias 21 e 22 de maio de 2022, contou com sistema de treinamento na língua Maxakali e elementos da cultura indígena representando os candidatos fictícios, divididos em três partidos (grandes animais, pequenos animais, animais que voam). O objetivo era familiarizar a comunidade com a urna eletrônica, visando uma melhor preparação para as Eleições 2022".

O projeto


Parceria entre TJMG, TRE-MG e a comunidade Maxakali, o projeto "Democracia, Cidadania e Justiça ao Povo Maxakali” também conta com o apoio do Ministério Público de Minas Gerais (MPMG), Defensoria Pública Estadual (DPMG), a Polícia Civil (PCMG) e a UFMG.

No último fim de semana, o projeto promoveu ações de fortalecimento da autonomia cidadã dos indígenas, e um dos objetivos foi aproximar a comunidade da tecnologia da urna eletrônica para promover a participação nas eleições gerais deste ano. As abordagens incluem a simulação de pleitos e a tradução de conceitos básicos sobre o tema para a língua maxakali.


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