(none) || (none)
UAI
Publicidade

Estado de Minas ELEIÇÕES 2022

Pandemia, economia e corrupção: os pontos fracos que Lula e Bolsonaro deverão enfrentar no debate

Especialistas avaliam quais os principais obstáculos a serem enfrentados pelos líderes nas pesquisas


27/08/2022 20:15 - atualizado 28/08/2022 18:34


Montagem com Bolsonaro e Lula
Lula e Bolsonaro lideram as principais pesquisas de intenção de voto (foto: EPA)

O debate entre candidatos e candidatas à Presidência da República neste domingo (28/8) será a primeira vez que o presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se enfrentarão em um evento do tipo desde o início da corrida eleitoral deste ano.

Ex-secretário de Comunicação e integrante da campanha de Bolsonaro, Fabio Wajngarten afirmou à BBC News Brasil, na noite deste sábado (28/8), que o presidente participará do debate. Horas antes, Lula já havia confirmado participação por meio de seu perfil no Twitter.

As presenças de Lula Bolsonaro foram confirmadas às vésperas da realização do debate em parte por conta das avaliações feitas pelos comandos das campanhas de ambos. Confirmada a ida da dupla, a expectativa fica em torno de como Lula e Bolsonaro enfrentarão alguns dos seus principais pontos fracos.

Lula lidera as intenções de voto segundo os principais institutos de pesquisa, com Bolsonaro em segundo lugar. E apesar da presença de outros quatro candidatos, tudo indica que as atenções estarão voltadas para o desempenho dos líderes.

debate irá ao ar a partir das 21h e será realizado por um conjunto de veículos: Band, TV Cultura, UOL e Folha de S.Paulo. Pelas regras, haverá dois momentos de debate direto entre os candidatos intercalados por perguntas feitas por jornalistas.

Historicamente, os debates entre candidatos são vistos como momentos-chave das eleições. Segundo a pesquisa do Instituto Datafolha mais recente, Lula aparecia com 47% das intenções de voto contra 32% de Bolsonaro.

Especialistas ouvidos pela BBC News Brasil avaliaram que os principais pontos fracos de Bolsonaro serão a gestão da pandemia de covid-19 e a política econômica. Por outro lado, os principais pontos fracos a serem enfrentados por Lula seriam as acusações de corrupção reveladas pela operação Lava Jato.


Jair Bolsonaro
Pesquisas mostram aumento das intenções de voto em Jair Bolsonaro (foto: Reuters)

Pandemia e economia: o que Bolsonaro terá que enfrentar

"O principal ponto fraco de Bolsonaro é a gestão da pandemia. Em especial, o negacionismo em relação às vacinas", avalia o ex-diretor de pesquisas do Datafolha Alessandro Janoni.

"As questões mais dramáticas como o colapso da falta oxigênio em Manaus e as trocas de ministros ao longo da pandemia deverão ser exploradas porque elas são alguns dos principais motores dessas eleições", disse Janoni.

O Brasil foi um dos países mais afetados pela pandemia da covid-19. De acordo com dados coletados pela Universidade Johns Hopkins, dos Estados Unidos, o Brasil já registrou mais de 682 mil mortes pela doença, o segundo maior número do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos.

Além disso, o Brasil também tem a segunda maior taxa de mortes proporcionalmente à população: 321 mortes por grupo de 100 mil habitantes.

A gestão do governo federal em relação à doença foi alvo de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) no Senado que pediu o indiciamento do presidente por crimes nove crimes — entre eles, prevaricação e charlatanismo.

Ao longo da pandemia, Bolsonaro incentivou o uso de medicamentos sem comprovação científica contra a doença, foi contra algumas das medidas de isolamento social implementadas por estados e municípios e levantou dúvidas sobre a eficácia das vacinas que estavam sendo desenvolvidas contra a covid-19.

O tema, aliás, foi um dos principais tópicos da entrevista concedida por Bolsonaro ao Jornal Nacional, da Rede Globo. Na ocasião, Bolsonaro defendeu sua gestão a frente da pandemia.

"Fizemos a nossa parte. E o grande erro disso tudo foi um trabalho forte da grande mídia, entre eles a Globo, desestimulando os médicos a fazerem o tratamento precoce [...] Fizemos a nossa parte e tratei com muita seriedade essa questão. Agora, não adotei o politicamente correto", disse o presidente.


Mulher segura tigela vazia
Pesquisas apontam que pelo menos 33 milhões de brasileiros vivem em situação de fome em 2022 (foto: Getty Images)

A professora de Ciência Política da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Nara Pavão avalia que Bolsonaro também terá que enfrentar críticas à gestão da área econômica.

"Na parte econômica, Bolsonaro não entregou bons resultados. É verdade que ele governou em um período afetado pela pandemia e pela guerra na Ucrânia, mas ele será questionado pela inflação, pelo desemprego e pelo baixo crescimento do produto interno bruto", afirmou a professora.

Nos dois primeiros anos do governo Bolsonaro, a inflação registrada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) oscilou entre na casa dos 4%. Em 2021, porém, a inflação foi de 10,06%, muito acima do teto estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN) que era de 5,25%. Foi a maior taxa de inflação em seis anos.

Neste ano, a taxa acumulada da inflação é de 7,3% até julho. Nas últimas semanas, o Brasil registrou deflação em parte pela redução no preço dos combustíveis resultante da redução de tributos sobre o produto organizada pelo governo federal.

Em relação ao desemprego, ainda segundo o IBGE, o Brasil registrou 14,9% de taxa de desemprego no trimestre entre julho, agosto e setembro de 2021, a maior taxa da série histórica, iniciada em 2012. Desde então, a taxa caiu e hoje está em 9,3%.

Questionado sobre o assunto durante a entrevista ao Jornal Nacional, Bolsonaro deu a tônica de como sua campanha deverá lidar com as críticas sobre sua condução da economia.

"As promessas foram frustradas pela pandemia, por uma seca enorme que tivemos no ano passado e também pelo conflito da Ucrânia com a Rússia [...] Você vê também que a taxa de desemprego tem caído no Brasil. Os números da economia são fantásticos levando-se em conta o resto do mundo", disse.


Lula coça a cabeça
Após ter sido condenado, Lula vem obtendo vitórias jurídicas que o colocaram novamente no páreo eleitoral (foto: Reuters)

Lula e a corrupção

Na avaliação dos especialistas, o principal ponto a ser enfrentado por Lula no debate serão as acusações de corrupção que foram feitas contra ele e integrantes do PT pela operação Lava Jato.

"No caso de Lula, o seu principal calcanhar de Aquiles será a corrupção. Não há dúvidas disso", disse a atual diretora de pesquisas do Instituto Datafolha Luciana Chong.

A Operação Lava Jato revelou um esquema de corrupção envolvendo empreiteiras, políticos e empresas estatais. Em junho de 2021, a Petrobras havia recebido de volta R$ 6 bilhões em recursos que haviam sido desviados da empresa.

Lula chegou a ser apontado como o principal responsável por uma organização criminosa montada para desviar recursos de empresas públicas. Ele foi condenado em dois processos por crimes como corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

O ex-presidente foi preso em 2018 e ficou 580 dias detido na carceragem da Polícia Federal em Curitiba.

Ao longo de todo o processo, Lula alegou ser inocente. Em 2021, o Supremo Tribunal Federal (STF) anulou as condenações contra Lula sob o argumento de que a 13ª Vara Federal de Curitiba não era a correta para julgá-lo.

Depois disso, o ex-juiz federal Sergio Moro, que condenou Lula em um dos processos, foi considerado suspeito (não imparcial) para conduzir o julgamento de Lula. Com a anulação das condenações, o ex-presidente recuperou o direito de se candidatar a cargos eletivos novamente.


Sergio Moro
Processos contra o ex-presidente foram encerrados por falta de provas ou por parcialidade de Moro (foto: Reuters)

"Lula terá que enfrentar as questões relacionadas à corrupção nos governos do PT e a todo o processo do qual ele foi alvo. Esse é o ponto mais sensível dele no momento", afirmou a professora.

Nara Pavão diz, no entanto, que o passar do tempo fez com que a questão da corrupção seja mais fácil de contornar agora do que foi no passado.

"Ele está em uma situação mais confortável do que antes. A Lava Jato saiu muito enfraquecida e nem existe mais. Só existe hoje em termos simbólicos", explica a professora.

Na entrevista concedida por Lula ao Jornal Nacional na semana passada, o tema foi explorado.

Questionado sobre o que faria para que os escândalos de corrupção que ocorreram durante os governos do PT não se repetissem, Lula disse ter fortalecido os órgãos de investigação durante suas gestões e que iria manter essa política em um eventual terceiro mandato.

"Nós vamos continuar criando mecanismos para investigar qualquer delito que aconteça na máquina pública brasileira", disse o ex-presidente.

- Este texto foi publicado originalmente em https://www.bbc.com/portuguese/brasil-62695801

Sabia que a BBC está também no Telegram? Inscreva-se no canal.

Já assistiu aos nossos novos vídeos no YouTube? Inscreva-se no nosso canal!


receba nossa newsletter

Comece o dia com as notícias selecionadas pelo nosso editor

Cadastro realizado com sucesso!

*Para comentar, faça seu login ou assine

Publicidade

(none) || (none)