Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES 2022

Ascensão dos candidatos da terceira via aumenta chances de segundo turno

As pesquisas de intenção de votos divulgadas nesta semana, se não mostraram mudanças significativas na disputa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL), deixaram os estrategistas das campanhas diante de um cenário, até então, pouco considerado: a ascensão dos candidatos da chamada terceira via — Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil). Apesar de as chances de reviravolta nas posições intermediárias serem pequenas, a conquista de eleitores fora da polarização Lula-Bolsonaro começa a mostrar vigor para levar a disputa ao segundo turno.





 

A pesquisa mais recente do Instituto DataFolha, divulgada na quinta-feira, mostra Lula à frente de Bolsonaro com 13 pontos percentuais de vantagem (45% a 32%). Essa diferença já chegou a 21 pontos, em maio, mas o presidente conseguiu avançar, de lá para cá, cinco casas no tabuleiro da sucessão, enquanto o adversário se manteve praticamente estável, com recuo de três pontos percentuais (dentro da margem de erro).

 

A má notícia para Lula é que a soma dos votos dos demais candidatos (49%) supera, pela primeira vez, o seu próprio escore na pesquisa. Números que, se confirmados nas urnas, levariam o pleito para decisão em segundo turno.

 

A novidade é o avanço de Simone Tebet além da margem de erro dos institutos. Desde que lançou seu nome pelo autodenominado centro democrático (coligação MDB/federação PSDB-Cidadania/Podemos), a senadora por Mato Grosso do Sul patinava entre 0% e 2% na preferência do eleitor. Com o início da propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na tevê e o bom desempenho na entrevista que deu ao Jornal Nacional, da TV Globo, e no primeiro debate entre presidenciáveis, na TV Band, Tebet deu um pequeno salto para 5% das intenções de voto.





Ciro Gomes também avançou, no limite da margem de erro: tinha 7% e passou para 9%. Até Thronicke conquistou seu primeiro pontinho nas pesquisas, ela que entrou tardiamente na campanha e era praticamente desconhecida do eleitorado até chamar Bolsonaro de tchutchuca no debate presidencial e viralizar nas redes sociais.

 

O ligeiro avanço da terceira via também foi detectado pelo Ipec, três dias antes. O instituto (fundado por especialistas do antigo Ibope) apurou estabilidade nas intenções de voto tanto de Lula quanto de Bolsonaro (44% a 32%, percentuais iguais aos da pesquisa anterior, divulgada no dia 15). Tebet e Ciro, porém, cresceram um ponto percentual em relação ao levantamento de duas semanas atrás.

 

Potencial

Segundo analistas, os últimos números mostram que o crescimento dos candidatos da terceira via, mesmo modesto, tem potencial para impedir que Lula conquiste, no primeiro turno, a metade dos votos válidos.





 

Para o cientista político Leonardo Barreto, "a chave do segundo turno está com a terceira via", que captura os eleitores que ainda estão indecisos e reduz a margem de vitória antecipada de Lula. "Vai ter segundo turno, vai ser apertado, mas os processos de transferência de votos ainda não estão claros", disse.

Para Bolsonaro, essa foi a única boa notícia vinda das últimas pesquisas. A equipe dele esperava que a derrama de dinheiro público no chamado pacote de bondades (aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, elevação do vale-gás, redução forçada do preço da gasolina e voucher para caminhoneiros e taxistas) e a melhora dos indicadores econômicos (queda do desemprego, deflação e crescimento do Produto Interno Bruto-PIB) turbinassem o crescimento do presidente. Mas essa subida não veio na velocidade e na intensidade desejadas.

 

"Tenho certeza de que Bolsonaro chega ao primeiro turno na frente. Não tenho nem dúvida. Com 15 dias de programa eleitoral, a eleição estará empatada", previu o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, em entrevista ao Correio no início de agosto. Agora, a torcida é para que a eleição não se decida em 2 de outubro.





 

Nos comitês de campanha, ninguém fala em segundo turno. Mas, a reportagem apurou que, em relação ao líder, a estratégia ainda é mirar Bolsonaro como adversário a ser desconstruído e insistir na comparação entre os governos. Dessa forma, preserva canais de diálogo com Ciro Gomes e Simone Tebet para o caso de a eleição não ser decidida agora.

 

Para o time de Bolsonaro, a meta é impedir a vitória de Lula no primeiro turno e, com mais tempo de campanha, capitalizar os bons ventos da economia, além de capturar o voto antipetista, em uma reedição da disputa do "nós contra eles".