As pesquisas de intenção de votos divulgadas nesta semana, se não mostraram mudanças significativas na disputa entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o atual, Jair Bolsonaro (PL), deixaram os estrategistas das campanhas diante de um cenário, até então, pouco considerado: a ascensão dos candidatos da chamada terceira via — Ciro Gomes (PDT), Simone Tebet (MDB) e Soraya Thronicke (União Brasil). Apesar de as chances de reviravolta nas posições intermediárias serem pequenas, a conquista de eleitores fora da polarização Lula-Bolsonaro começa a mostrar vigor para levar a disputa ao segundo turno.
A pesquisa mais recente do Instituto DataFolha, divulgada na quinta-feira, mostra Lula à frente de Bolsonaro com 13 pontos percentuais de vantagem (45% a 32%). Essa diferença já chegou a 21 pontos, em maio, mas o presidente conseguiu avançar, de lá para cá, cinco casas no tabuleiro da sucessão, enquanto o adversário se manteve praticamente estável, com recuo de três pontos percentuais (dentro da margem de erro).
A má notícia para Lula é que a soma dos votos dos demais candidatos (49%) supera, pela primeira vez, o seu próprio escore na pesquisa. Números que, se confirmados nas urnas, levariam o pleito para decisão em segundo turno.
A novidade é o avanço de Simone Tebet além da margem de erro dos institutos. Desde que lançou seu nome pelo autodenominado centro democrático (coligação MDB/federação PSDB-Cidadania/Podemos), a senadora por Mato Grosso do Sul patinava entre 0% e 2% na preferência do eleitor. Com o início da propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na tevê e o bom desempenho na entrevista que deu ao Jornal Nacional, da TV Globo, e no primeiro debate entre presidenciáveis, na TV Band, Tebet deu um pequeno salto para 5% das intenções de voto.
Ciro Gomes também avançou, no limite da margem de erro: tinha 7% e passou para 9%. Até Thronicke conquistou seu primeiro pontinho nas pesquisas, ela que entrou tardiamente na campanha e era praticamente desconhecida do eleitorado até chamar Bolsonaro de tchutchuca no debate presidencial e viralizar nas redes sociais.
O ligeiro avanço da terceira via também foi detectado pelo Ipec, três dias antes. O instituto (fundado por especialistas do antigo Ibope) apurou estabilidade nas intenções de voto tanto de Lula quanto de Bolsonaro (44% a 32%, percentuais iguais aos da pesquisa anterior, divulgada no dia 15). Tebet e Ciro, porém, cresceram um ponto percentual em relação ao levantamento de duas semanas atrás.
Potencial
Segundo analistas, os últimos números mostram que o crescimento dos candidatos da terceira via, mesmo modesto, tem potencial para impedir que Lula conquiste, no primeiro turno, a metade dos votos válidos.
Para o cientista político Leonardo Barreto, "a chave do segundo turno está com a terceira via", que captura os eleitores que ainda estão indecisos e reduz a margem de vitória antecipada de Lula. "Vai ter segundo turno, vai ser apertado, mas os processos de transferência de votos ainda não estão claros", disse.
Para Bolsonaro, essa foi a única boa notícia vinda das últimas pesquisas. A equipe dele esperava que a derrama de dinheiro público no chamado pacote de bondades (aumento do Auxílio Brasil para R$ 600, elevação do vale-gás, redução forçada do preço da gasolina e voucher para caminhoneiros e taxistas) e a melhora dos indicadores econômicos (queda do desemprego, deflação e crescimento do Produto Interno Bruto-PIB) turbinassem o crescimento do presidente. Mas essa subida não veio na velocidade e na intensidade desejadas.
"Tenho certeza de que Bolsonaro chega ao primeiro turno na frente. Não tenho nem dúvida. Com 15 dias de programa eleitoral, a eleição estará empatada", previu o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira, em entrevista ao Correio no início de agosto. Agora, a torcida é para que a eleição não se decida em 2 de outubro.
Nos comitês de campanha, ninguém fala em segundo turno. Mas, a reportagem apurou que, em relação ao líder, a estratégia ainda é mirar Bolsonaro como adversário a ser desconstruído e insistir na comparação entre os governos. Dessa forma, preserva canais de diálogo com Ciro Gomes e Simone Tebet para o caso de a eleição não ser decidida agora.
Para o time de Bolsonaro, a meta é impedir a vitória de Lula no primeiro turno e, com mais tempo de campanha, capitalizar os bons ventos da economia, além de capturar o voto antipetista, em uma reedição da disputa do "nós contra eles".