O presidente Jair Bolsonaro (PL) se prepara para participar da quarta e última celebração deste mandato do feriado nacional de Sete de Setembro, em comemoração à independência do Brasil. Este ano, além do valor simbólico dos 200 anos da independência, a questão eleitoral vem à tona, já que as eleições de outubro de 2022 se aproximam e Bolsonaro é candidato à reeleição.
Desde que chegou ao poder, Bolsonaro vem subindo o tom das declarações feitas no Sete de Setembro, culminando no ano passado em um feriado marcado por manifestações antidemocráticas e em tom de ataque às instituições, em especial o Supremo Tribunal Federal (STF).
Neste ano, a proximidade das eleições acrescenta mais um ingrediente ao clima tenso da data histórica. Bolsonaro deve participar de ato em Brasília durante a manhã de quarta-feira (07/09) e, de tarde, no Rio de Janeiro.
Ainda em 2018, durante a campanha eleitoral, o Sete de Setembro já era uma data destacada no calendário bolsonarista. Concorrendo à presidência pelo PSL, Bolsonaro era esperado em ato militar no Palácio Duque de Caxias, no Rio de Janeiro-RJ. A relação com as Forças Armadas foi tema central na candidatura do militar da reserva, que tinha como companheiro de chapa o General Hamilton Mourão.
A presença nos atos do Dia da Independência do Brasil, no entanto, foi impedida na véspera. Em 6 de setembro, Bolsonaro sofreu um atentado em Juiz de Fora, Zona da Mata mineira. O ataque com faca alterou a programação de campanha e impediu a participação do então candidato ao compromisso na capital fluminense.
2019
No primeiro Sete de Setembro como presidente da República, Bolsonaro participou de atos oficiais em Brasília. Pela manhã, em pronunciamento veiculado na TV Brasil, ele convocou os brasileiros às ruas e prosseguiu em tom patriótico com críticas a opositores políticos e ao presidente francês, Emmanuel Macron.
“A todos os brasileiros, nós pedimos, conscientize-se cada vez mais de quem é esse país, essa maravilha chamada Brasil. Um país ímpar no mundo, que tem tudo para dar certo e precisamos, sim, de cada um de vocês, para reconstruí-lo. E a liberdade está em primeiro lugar. (...) O Brasil é nosso, é verde e amarelo”, disse em crítica velada à Macron, que havia sugerido a discussão sobre a internacionalização da Amazônia em agosto daquele ano.
Após o discurso na TV estatal, Bolsonaro desfilou no Rolls-Royce presidencial pela Esplanada dos Ministérios. De pé em carro aberto, o presidente foi acompanhado por um dos filhos, o vereador pelo Rio de Janeiro, Carlos Bolsonaro.
O desfile terminou com Bolsonaro subindo no palanque das autoridades, onde era aguardado pela primeira-dama Michelle. Além da esposa, figuravam no local os então ministros Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública), Onyx Lorenzoni (Casa Civil), Marcos Pontes (Ciência e Tecnologia), Augusto Heleno (Segurança Institucional), Ricardo Salles (Meio Ambiente), Abraham Weintraub (Educação) e Tereza Cristina (Agricultura). À época o vice-presidente, Hamilton Mourão, e o então presidente do Senado, Davi Alcolumbre, também estavam no palanque e dividiam o espaço com o empresário Luciano Hang, o apresentador Silvio Santos e o bispo evangélico Edir Macedo.
No Diário Oficial da União foi publicado que o desfile do Sete de Setembro em 2019 custou R$ 971,5 mil aos cofres públicos, valor 19% superior ao de 2018. No dia seguinte ao desfile, Bolsonaro foi submetido a uma cirurgia para corrigir complicações decorrentes da facada que sofreu durante a campanha eleitoral.
2020
A pandemia da COVID-19 forçou a suspensão dos desfiles oficiais de Sete de Setembro em 2020. Bolsonaro, ainda assim, desfilou em carro aberto em Brasília. Acompanhado da primeira-dama, o presidente tirou fotos e falou com apoiadores em estrutura para cerca de 800 pessoas, preparada pelo Planalto. As Forças Armadas decidiram não participar do desfile após orientação do Ministério da Defesa, que citava o coronavírus como justificativa.
Durante a manhã, Bolsonaro desfilou no Rolls-Royce presidencial cercado por crianças, a maioria delas sem máscara, assim como o chefe do Executivo. O evento prosseguiu com o hasteamento da bandeira, a execução do hino nacional e uma breve apresentação da Esquadrilha da Fumaça. À época, o Brasil somava mais de 127 mil mortes por COVID-19.
À noite, Bolsonaro fez um pronunciamento em rede nacional de rádio e televisão. Na fala em comemoração pelos 198 anos da Independência do Brasil, o presidente usou tom patriótico ao recordar a data histórica em 1822 e exaltou o Golpe Militar de 1964.
"Nos anos 60, quando a sombra do comunismo nos ameaçou, milhões de brasileiros, identificados com os anseios nacionais de preservação das instituições democráticas, foram às ruas contra um país tomado pela radicalização ideológica, greves, desordem social e corrupção generalizada", disse.
Nos pouco mais de três minutos de pronunciamento, Bolsonaro ainda afirmou que, ao proclamar a Independência, "o Brasil dizia ao mundo que nunca mais aceitaria ser submisso” e fez menção à participação do exército brasileiro na II Guerra Mundial: "a Força Expedicionária Brasileira foi à Europa para ajudar o mundo a derrotar o nazismo e o fascismo", afirmou.
2021
O Sete de Setembro de 2021 foi marcado por manifestações de apoiadores do presidente em diversas cidades do Brasil. Em clima de tensão institucional, a data foi comemorada em meio à CPI da COVID no Congresso, que investigava a gestão da pandemia pelo governo federal. A relação entre o Executivo e o STF também sofreu desgastes após discursos agressivos de Bolsonaro, que teve como alvo preferencial o ministro Alexandre de Moraes.
Em discurso para apoiadores na Avenida Paulista, em São Paulo-SP, Bolsonaro defendeu o voto impresso e fez críticas diretas a Alexandre de Moraes, a quem chamou de “Canalha”.
"Nós devemos sim, porque eu falo em nome de vocês. Determinar que todos os presos políticos sejam postos em liberdade. Digo a vocês que qualquer decisão do ministro Alexandre de Moraes esse presidente não mais cumprirá. Não se pode permitir que um homem apenas turve a nossa liberdade. Dizer a esse ministro que ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda para arquivar seus inquéritos. Sai Alexandre de Moraes, deixa de ser canalha, deixa de oprimir o povo brasileiro, deixa de censurar", discursou aos apoiadores.
Bolsonaro também criticou o Tribunal Superior Eleitoral (TSE), mas sem citar o nome do então presidente, o ministro Luís Roberto Barroso, alvo de ataques anteriores.
"Não podemos admitir um sistema eleitoral que não oferece qualquer segurança. Não é uma pessoa do Tribunal Superior Eleitoral que vai nos dizer que esse processo é seguro e confiável [...] Não podemos admitir um ministro do Tribunal Superior Eleitoral também usando a sua caneta para desmonetizar páginas que criticam esse sistema de votação", disse.
O teor das declarações do presidente e o caráter antidemocrático das manifestações de seus apoiadores pelo país motivou respostas de líderes de várias instituições como ministros do STF, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD) e Ordem dos Advogados do Brasil (OAB).
Dois dias após os atos de Sete de Setembro, Bolsonaro recuou e publicou a “Declaração à Nação”, carta em que adota tom conciliatório e reconhece que as palavras utilizadas em discurso foram ditas no “calor do momento”. O documento foi redigido com apoio do ex-presidente Michel Temer, que também mediou uma ligação telefônica entre Bolsonaro e o ministro Alexandre de Moraes, que conduzia o inquérito das fake news na corte.
Veja, na galeria abaixo, a celebrações ano a ano com Bolsonaro: