Candidata ao Senado por Minas Gerais, a economista Dirlene Marques (PSTU) pretende chegar ao Congresso Nacional defendendo o que chama de “luta revolucionária e socialista” como base para aprovar projetos importantes para Minas e o Brasil.
Convidada de ontem do “EM Entrevista”, podcast de entrevistas do Estado Minas, Dirlene admite que será uma tarefa complicada conquistar uma cadeira no Senado. Segundo ela, o Senado é um espaço tipicamente de homens brancos e muito ricos. “Tanto é que, até hoje, só tivemos uma mulher, que foi a Júnia Marise, e nunca tivemos nenhum negro”, diz.
Mas, se chegar lá, uma das suas lutas será rediscutir o pagamento da dívida do país com organismos internacionais e também da dívida de Minas com a União. Segundo Dirlene, a tentativa do estado em quitar essa dívida com a União faz com que se onere o investimento em políticas públicas e isso acaba com a qualidade de vida da população. Confira a íntegra da entrevista no canal do Portal Uai, no YouTube.
Quais têm sido os principais desafios da candidatura ao Senado?
O primeiro grande desafio, que é histórico aqui em Minas, é que o Senado é um espaço tipicamente de homens, brancos e muito ricos. Tem que ter muito dinheiro e normalmente ser homem rico e branco. Tanto é que, até hoje, só tivemos uma mulher, que foi a Júnia Marise, e nunca tivemos nenhum negro. Mas, no meu caso, que sou economista, o que mais me atraiu foi algo a mais que o Senado faz e que, normalmente, ele não tem assumido este papel, que é a discussão dos projetos que o governo encaminha para fazer acordos internacionais sobre a questão financeira, em especial das dívidas públicas que o Estado tem.
Como economista, como a senhora vê a questão das dívidas de Minas Gerais com a União?
Do ponto de vista nacional, quero colocar em discussão a dívida do governo federal para os seus credores nacionais e internacionais, que é o grande capital, o sistema financeiro. O país, hoje, vive em função do pagamento do serviço da dívida, ele vai acumulando esse processo de endividamento, o que inviabiliza fazer qualquer política social. De tudo que se arrecada hoje, em torno de 47% da arrecadação do estado é feito sobre a massa da população, através do consumo. Então, você cobra impostos sobre tudo o que a população consome. E, disso tudo, 50% é para pagar a dívida. Então, o povo pobre paga a dívida. Dentro do estado de Minas, nós temos uma lei esdrúxula, que afeta Minas Gerais e o Pará, que é a Lei Kandir. Ela diz que aquele que faz extração de produtos primários, se for para exportação, não tem que pagar impostos localizados. E o governo federal faz a compensação disso. É um absurdo você isentar empresas que vão destruir o estado como um todo, para poder estimular a exportação. Você destrói as indústrias. O Brasil, hoje, não tem indústrias. Ele voltou para a pauta de exportação nos anos 50, nós exportamos só commodities, centrado no minério e no agronegócio. E o povo mineiro está lutando contra a destruição ambiental ocasionada por esses dois geradores de destruição do estado, que só geram recursos para a exportação e para o privado. E aí, neste caso, os governos estaduais começam a onerar o setor público, onerar todas as políticas públicas, para poder dar conta dos seus acordos com o governo federal. Então, enquanto não fizermos uma discussão geral sobre como os estados sobrevivem, como isso tem que voltar para a população, você não consegue resolver esse problema.
Falando de mineração, como a senhora vê o projeto de tombamento da Serra do Curral, que tem sido alvo de mineradoras?
Temos várias serras que estão sendo destruídas e nós estamos participando de todas essas mobilizações (para evitar a destruição). Em 2018, quando eu concorri ao governo de Minas, trabalhávamos junto a um grupo de estudos da UFMG. Eles provaram, com dados, que podemos ter 50 anos pela frente sem a necessidade de extração mineral para poder manter o desenvolvimento do país. E aí o estado pode investir em turismo, em questões mais locais, para poder gerar outro tipo de recurso. Essa é uma posição com que eu simpatizo muito, mas acho que hoje a gente precisa caminhar muito para chegar até aí. Então, a gente trabalha para ter controle sobre essas indústrias extrativas que destroem e não deixam nada, para poder controlar a sua produção e o seu processo de exportação. Por isso você tem que mexer na lei de Responsabilidade Fiscal, na Lei Kandir e atuar sob as mineradoras em uma forma de controle popular.
Em meio ao debate sobre o Auxílio Brasil, qual a visão da senhora sobre a transferência de renda?
Temos que pensar em gerar renda a partir do trabalho. Que a gente retome um processo de desenvolvimento em que o povo brasileiro tenha emprego e, a partir do seu emprego, tenha salário. Também tem toda uma discussão de qual é o mínimo necessário, mas tem um processo até chegar nessa situação. Em uma situação emergencial, porque é uma emergência, onde as pessoas estão morrendo de fome. Nós temos que dar condição para que essas pessoas sobrevivam até que o país retome o processo de produção, mas não adianta fazer a distribuição do mínimo sem fazer as reformas básicas necessárias.
O gasto público com educação atingiu o menor patamar em 10 anos. Como a senhora pretende atuar no Congresso Nacional pelo aumento dos investimentos?
Houve uma redução drástica. Não é só em Minas e não é algo recente. O pior é isto: a cada ano se reduz a partir da redução do ano anterior. O setor de educação, que é fundamental para viabilizar essa retomada do processo econômico, precisa ter qualidade. Por isso que defendemos educação pública e gratuita, desde o maternal até a universidade. Entretanto, o que temos visto muito são cortes no financiamento público e investimentos no setor privado, que temos chamado de privatização do ensino público.
A senhora concorda com a pauta do partido de armar os operários como uma forma de autodefesa?
Esse é um dos temas em que a gente se diferencia. O Estado é um Estado terrorista. A gente vai para a rua fazer qualquer manifestação e a polícia está armada para conter. Este tipo de armamento, esse tipo de Estado, a gente acha que é um Estado que aterroriza e não dá a segurança de que nós precisamos. Eu acho que nesse instante nós não estamos falando de dar armas à população, porque se a gente faz isso sem ter o preparo necessário, e contra um Estado e milícias armadas, vai se criar um caos social.