O presidente Jair Bolsonaro (PL) utilizou as comemorações do bicentenário da Independência do Brasil, nesta quarta-feira (7/9), como palanque para sua campanha à reeleição. Ele discursou a apoiadores em Brasília (DF) e no Rio de Janeiro (RJ) e, durante o dia, reforçou o tom religioso que tem marcado a busca por um novo mandato. Também fez críticas a Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem chamou de "quadrilheiro de nove dedos", falou em luta "do bem contra o mal" e voltou a mencionar as "quatro linhas" da Constituição Federal. Na capital federal, pela manhã, ao lado da primeira-dama Michelle Bolsonaro, o candidato puxou gritos de "imbrochável", direcionados a ele mesmo, e comparou a esposa à socióloga Rosângela da Silva, a Janja, companheira de Lula.
As comemorações oficiais da Independência não tiveram as presenças de Rodrigo Pacheco (PSD-MG), presidente do Senado Federal, e de Arthur Lira (PP-AL), presidente da Câmara dos Deputados. O ministro Luiz Fux, que comanda o Supremo Tribunal Federal (STF), também não compareceu. Do exterior, bateu ponto Marcelo Rebelo de Sousa, presidente português, mas Bolsonaro ficou ao lado de Luciano Hang, da Havan.
Brasil afora, as celebrações da Independência tiveram atos bolsonaristas. Em Belo Horizonte, políticos que apoiam o governo federal, como Carlos Viana (PL), concorrente ao governo, reuniram-se na Praça da Liberdade. Nesta quinta-feira (8), o Congresso fará sessão solene para celebrar o fim da dependência portuguesa.
"É obrigação de todos jogarem dentro das quatro linhas da Constituição. Com uma reeleição, nós traremos para as quatro linhas todos aqueles que ousam ficar fora delas", disse o presidente, do alto de um caminhão de som em Brasília.
Horas depois, no trio que o aguardava no Rio, ele adotou linha semelhante e pediu que os apoiadores "apontem" os caminhos a seguir. "Eu irei para onde vocês apontarem. Tenham certeza: teremos um governo muito melhor em uma reeleição, com a graça de Deus", prometeu, em fala contornada por menções a passagens bíblicas, como João 8:32. "E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará".
A pauta de costumes, ligada à religião, foi citada recorrentemente pelo presidente, que teve o comício em solo fluminense prestigiado pelo pastor Silas Malafaia.
"Temos um governo que acredita em Deus e respeita seus policiais e militares. Sabem que esse governo respeita a família brasileira. E o mais importante: é um governo que deve lealdade ao seu povo", assegurou Bolsonaro, que, embora tenha mencionado a laicidade do Estado brasileiro, fez questão de relembrar o fato de professar a fé cristã.
"Não existe, no nosso governo, a ideia de legalizar o aborto. Sabemos o que uma mulher passa, uma mãe, quando tem, dentro de casa, um filho dentro das drogas. Por isso, nosso governo não aceita, sequer, discutir a legalização das drogas", sustentou. "Não admitimos levar avante a ideologia de gênero. Os nossos filhos são o nosso patrimônio. E, em uma escola, é lugar do garoto buscar conhecimento. Educação, quem dá é o pai e a mãe", seguiu. "Não sou muito bem educado, falo palavrões, mas não sou ladrão", garantiu, em outro momento.
Antes de discursar em Copacabana, Bolsonaro liderou uma motociata e prestigiou um evento militar no Rio de Janeiro. Em algumas cidades, apoiadores vestidos nas cores da bandeira brasileira levaram placas em inglês para defender o capitão reformado.
"On behalf of the brazilian people, we want the President Bolsonaro and the Armed Forces to criminalize the Communism in Brazil. (Pelo bem dos brasileiros, nós queremos que o presidente Bolsonaro e as Forças Armadas criminalizem o comunismo no Brasil)", apontava um dos cartazes vistos em BH, por exemplo.
'Quadrilheiro de nove dedos'
Durante parte dos minutos em que teve a palavra no Rio de Janeiro, Bolsonaro voltou as atenções a Lula. Segundo pesquisa divulgada pelo Ipec na segunda-feira (5), registrada na Justiça Eleitoral sob o número BR-00922/2022, o petista lidera as intenções de voto no primeiro turno por 44% a 31%. Apesar disso, o presidente demonstrou confiança na vitória.
"Comparem o Brasil com os países da América do Sul. Comparem com a Venezuela, com o que está acontecendo na Argentina e com a Nicarágua. Em comum, esses países têm nomes que são amigos entre si. Todos os chefes de Estado dessas nações são amigos do 'quadrilheiro' de nove dedos que disputa a eleição no Brasil", asseverou.
Segundo Bolsonaro, o triunfo de Lula representaria a volta do ex-presidente à "cena do crime". Segundo ele, o petista precisa ser "extirpado da vida pública".
"Não tentem convencer um esquerdista. Façam o contrário: falem a eles para convencerem vocês a serem esquerdistas. Vejam os argumentos deles, o que têm a falar para vocês. Não têm argumentos, são cabeças vazias", disparou.
'História pode se repetir'
Logo cedo, antes dos compromissos diante do público, Bolsonaro participou de um café da manhã que contou com a presença de parlamentares e empresários, no Palácio da Alvorada. Ao ter a palavra, ele mencionou episódios de ruptura democrática.
"Quero dizer que o brasileiro passou por momentos difíceis, a história nos mostra. 22, 35, 64, 16, 18 e, agora, 22", afirmou, durante transmissão publicada nas redes de seu filho, o senador Flávio Bolsonaro (PL).
Dos anos citados pelo presidente, 2016 marcou o impeachment de Dilma Rousseff (PT) e, 2018, a sua eleição; 1964, por sua vez, foi palco do golpe militar. Em 1922, houve o Tenentismo, revolta de militares de baixa patente insatisfeitos com o governo da época; já 1935 ficou marcado pela Intentona Comunista, que tentou depor Getúlio Vargas. Bolsonaro, porém, não especificou a quais acontecimentos se referia.
'Imbrochável'
Ao comparar a esposa, Michelle, à companheira de Lula, Janja, Bolsonaro ressaltou o fato de a primeira-dama presidencial ser uma "mulher de Deus".
"Podemos fazer várias comparações, até entre as primeiras-damas, não há o que discutir. Uma mulher de Deus, família e ativa na minha vida".
Logo depois, Bolsonaro destacou que é "imbrochável". O presidente foi aplaudido por apoiadores e iniciou seu discurso. "Imbrochável, imbrochável, imbrochável, imbrochável, imbrochável", repetiu, engrossando o grito entoado pelos apoiadores.
Michelle, por sua vez, fez coro ao discurso ideológico adotado pelo marido. "A nossa bandeira jamais será vermelha", falou, enquanto manifestantes impulsionavam o mesmo grito.
Brasil 'admirado' na comunidade internacional
No Rio, Bolsonaro fez questão de destacar que o país é "admirado" mundo afora. Ele chamou de "inigualável" a política externa nacional.
"O Brasil está decolando. O Brasil está no rumo certo. O Brasil, hoje, além de referência, é admirado por todos os países", comemorou, afirmando que a produção local é responsável por garantir a segurança alimentar de "1 bilhão de pessoas" em outros territórios.
Hoje, às 21h30, o presidente estará no Maracanã, no Rio, para assistir ao jogo entre Flamengo e Vélez Sarsfield, da Argentina, pela semifinal da Copa Libertadores da América. O rubro-negro, que contará com a torcida de Bolsonaro, venceu a partida de ida por 4 a 0 e pode perder por até três gols de diferença para se classificar à final do torneio continental.