O pastor Silas Malafaia se sente "poderoso". Amigo íntimo e conselheiro do presidente Jair Bolsonaro (PL), saiu em campanha para que os evangélicos não deem um único voto ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), pregando para os fiéis em sua igreja próspera e seus dez milhões de seguidores nas redes sociais.
Desde que assumiu a liderança da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo (ADVEC), em 2010, após fazer carreira como televangelista, Malafaia construiu o equivalente a um pequeno império: com 150 templos no Brasil e mais 18 a caminho, o pastor se vangloria de ter saltado de "20.000 para 200.000 membros" em 12 anos.
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A poucas semanas do primeiro turno das eleições, em 2 de outubro, Malafaia, de 63 anos, dispara: "Nós decidimos a eleição, somos um fator decisivo". Primeiro - explica - porque os fiéis vêm à igreja até "quatro vezes por semana" e segundo, porque os três principais pastores do país somam 40 milhões de seguidores nas redes sociais.
"Aí você vê como é ser poderoso" e ser capaz de "influenciar", afirma, em seu escritório espaçoso, decorado com orquídeas.
"Qualquer um pode influenciar, por que eu não? O sindicalista influencia, o médico influencia, o ateu influencia, o comunista influencia, por que eu não posso?", questiona. "Eu coloco um vídeo", no qual chama de "cachaceiro" o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), candidato do PT favorito frente a Bolsonaro, e em poucas horas, consegue "mais de 500.000 visualizações".
Seu objetivo: a reeleição do presidente, defensor da família, da bíblia e das mesmas posições conservadoras dos evangélicos, como o repúdio ao aborto e ao casamento entre pessoas do mesmo sexo.
- Próximo de Bolsonaro -
Malafaia e Bolsonaro se conhecem há anos: o pastor celebrou seu casamento com a primeira-dama, Michelle, evangélica fervorosa e, segundo declarou em 2021 o primogênito do chefe de Estado, senador Flavio Bolsonaro (PL-RJ), o religioso "fala quase diariamente com o presidente e o influencia".
"Falo com ele direto, normal, bato, digo: aí não, esse não é o caminho, está errado", confirma Malafaia, que nesta quarta-feira esteve junto dele nos atos multitudinários com apoiadores em Brasília e no Rio.
"O que o Bolsonaro conseguiu foi unir o tema dos valores" e a luta contra a "violência" e a "corrupção", que maculou os mandatos de Lula, acrescenta.
Segundo a última pesquisa de intenções de votos do Instituto Datafolha, publicada em 1º de setembro, 48% dos evangélicos apoiam Bolsonaro contra 32% que declaram preferência a Lula. Ao contrário, o petista lidera as pesquisas na população em geral (45% frente a 32%).
Mas Malafaia assegura que as pesquisas estão erradas e ressalta que em 2018 Bolsonaro só apareceu como vencedor na reta final, mostrando-se confiante na vitória do presidente. "Mas não será fácill".
Assim como Bolsonaro, o pastor afirma que pode haver fraude nas eleições por causa das urnas eletrônicas, embora nunca tenha sido comprovada nenhuma falha relevante no sistema.
"Hackers invadem sistemas poderosíssimos, como o Pentágono, "por que não podem invadir aqui?". Em 2020, nas eleições municipais, afirma, "o sistema ficou travado por quatro horas. Se isso acontece numa eleição presidencial, vai ter problema: não vão aceitar o resultado".
O pastor diz que tampouco confia no presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Alexandre de Moraes, que como ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) abriu várias investigações contra Bolsonaro, particularmente por divulgar notícias falsas.
Ele garante estar prevenindo Bolsonaro contra "esse ditador da toga" e de sua capacidade para fazer alguma "maldade".
Apesar de sua proximidade com o presidente, Malafaia garante que não se casa com ninguém. "Quero ser livre para na hora que tiver que bater, eu bato. Sou um aliado, não um alienado", previne.