Em carta distribuída na Praça da Liberdade, na Região Centro-Sul de Belo Horizonte, na ocasião do discurso do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL), em 24 de agosto último, um candidato a deputado estadual pelo PRTB promete investir no transporte ferroviário. O postulante à Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALGM) quer ligar pelos trilhos Belo Horizonte a Ratanabá, na Amazônia, Norte do país. A ideia é contribuir para que a cidade tenha "turismo maior que as pirâmides do Egito".
O EM Confirma verificou e concluiu que a sugestão é ENGANOSA.
Ratanabá é uma cidade que não existe. Conteúdos disseminados em redes sociais dão conta de um sítio de 450 milhões de anos. "Nesse período não existia nem a América do Sul, os mamíferos nem os dinossauros. Gondwana, o super continente que aglomerava vários continentes, se formou há 200 milhões de anos. É totalmente absurdo. Não há nada na arqueologia que apoie essa loucura do Ratanabá. Está errado, não bate com a própria história do planeta", afirma o professor Eduardo Neves, diretor do Museu de Arqueologia e Etimologia da Universidade de São Paulo (USP).
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Há sim, ele explica, debate na arqueologia da Amazônia sobre a existência ou não de cidades antes da chegada dos portugueses, que datariam de, no máximo, 2 mil anos. "São sítios totalmente diferentes. Se existiram, eram cidades espalhadas, no meio da floresta e, como na Idade Média na Europa, deveriam ter 10 mil, 5 mil habitantes. Não se pode pegar uma metrópole de hoje e usar como parâmetro", afirma.
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Para Eduardo Neves, a história inventada de Ratanabá é um desserviço à ciência, pois faz retroceder um debate sério sobre cidades na Amazônia, que encontra reticência entre os próprios arqueólogos. "Elas foram ocupadas por ancestrais de povos indígenas. As pessoas que espalham isso estão pegando imagens de sítios arqueológicos, no Acre por exemplo, que são datados e têm no máximo 2 mil anos. Há uma onda de negacionismo científico que entra no pacote negacionista de se criar uma realidade paralela."