Após arquitetar uma candidatura ao Senado por mais de um ano, o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PL-MG) desistiu da ideia e, por causa de um pedido do presidente Jair Bolsonaro (PL), resolveu tentar a reeleição à Câmara dos Deputados. Para erguer sua campanha, marcada por um tardio pontapé inicial, precisou se abster do comando da organização dos atos bolsonaristas no estado. Não pôde, também, assumir a coordenação da campanha do correligionário Carlos Viana ao governo. E, apesar de o PL ter chapa própria ao Palácio Tiradentes, Álvaro Antônio garantiu ontem, ao participar do "EM Entrevista", podcast de Política do Estado de Minas, que há convergência entre o governador Romeu Zema (Novo) e Bolsonaro.
Em busca de um palanque em solo mineiro, Bolsonaro tentou uma aliança com Zema. Sem sucesso, coube a Viana a missão de liderar a chapa. Para angariar mais apoios, o presidente, decidiu caminhar ao lado de Cleitinho Azevedo, que concorre ao Senado pelo PSC. Apesar da escolha, Álvaro Antônio afirmou não se sentir preterido.
"Jamais colocaria um projeto pessoal meu acima do que era interessante para o presidente Bolsonaro, para Minas Gerais e para o Brasil. O presidente é capitão; eu, soldado", assegurou.
A íntegra da conversa, que abriu uma série de sabatinas a candidatos que podem ser "puxadores de voto" e impulsionar as chapas de seus partidos, pode ser vista no canal do Portal Uai no YouTube.
O senhor foi pré-candidato ao Senado e chegou a dizer que não havia chance de mudar os rumos. Disse, também, que mesmo Bolsonaro não cogitava pedir a sua saída do páreo. O presidente, porém, anunciou apoio a Cleitinho Azevedo. Como essa decisão aconteceu?
Há cerca de um ano e meio, tive uma conversa com Bolsonaro e, ali, ficou definido que eu seria o candidato a senador por Minas Gerais. Estava tudo certo nessa caminhada ao Senado. Mas Minas é estratégica politicamente falando - sobretudo em eleições presidenciais.
Tendo em vista que é um estado onde Bolsonaro precisava, ainda, ampliar as alianças, o presidente me chamou a cinco dias do prazo (final) das convenções e pediu que eu recuasse da candidatura ao Senado para, exatamente, que a gente conseguisse ampliar essa aliança com o PSC e com Cleitinho.
Jamais colocaria um projeto pessoal meu acima do que era interessante para o presidente Bolsonaro, para Minas Gerais e para o Brasil. O presidente é capitão; eu, soldado. Falei ao presidente que retornaria à candidatura a deputado federal e que, sem dúvida nenhuma, poderia continuar contando comigo.
O senhor articulou, em Minas, a campanha de Bolsonaro em 2018. Cleitinho não compunha o grupo original do presidente. Se sentiu preterido?
Quando a gente participa de um grupo, temos, sobretudo, espírito de entender que há coisas muito maiores que nossos projetos pessoais. De forma nenhuma me senti preterido. Entendi bem, e concordei, que a gente não pode brincar com uma eleição presidencial.
Estamos falando do futuro do Brasil. Imediatamente, falei ao presidente que acataria (o apoio a Cleitinho) sem problemas, ainda que tenha sido o deputado federal mais votado e tenha virado ministro.
O senhor já disse que o verdadeiro adversário do PL em Minas Gerais é Alexandre Kalil (PSD). Por que Zema, que lidera as pesquisas, não é considerado um adversário para o PL? Isso não descredibiliza a candidatura de Carlos Viana?
De forma nenhuma. Nosso adversário é o mesmo: o PT, aliado a Kalil em Minas. Temos de pensar muito maior do que na candidatura de um ou na candidatura de outro. Minas é maior.
Zema é um bom governador. Não há como negar que ele fez bom trabalho. Não vejo problema nenhum em dizer que nosso adversário é o mesmo. Temos o campo político em que estão Zema e Viana, e o campo político em que estão a esquerda e o PT.
Sem dúvida nenhuma, essa união, sobretudo no segundo turno, pode ser fundamental para que a gente derrote o PT, Kalil e não deixe voltar o que os mineiros não querem que volte - o espetáculo do desastre que foi a gestão de Fernando Pimentel.
O senhor, então, está crente que, se Viana não passar ao segundo turno, Zema dará apoio a Bolsonaro em eventual disputa contra Lula?
Sem dúvidas. O governador Zema tem todo o carinho e todo o apreço do presidente Bolsonaro. Também sou admirador pessoal de Zema por tudo o que ele representa, é e fez à frente do governo. Ele mostrou que, realmente, teve capacidade de colocar o trem nos trilhos.
Não tenho dúvida nenhuma que, no segundo turno, por essa boa relação do governador Zema com Bolsonaro e conosco, vamos estar juntos - isso, se houver segundo turno.
O senhor abre esta série de entrevistas porque foi o candidato a deputado federal mais votado do estado em 2018. Portanto, tende a ser um puxador que pode ajudar a eleger mais candidatos do PL neste ano. Quantos parlamentares em Minas o partido planeja fazer?
A expectativa é que o desempenho da chapa do partido proporcione a eleição de pelo menos nove ou 10 candidatos a deputado federal. Imagino que isso é possível, tamanho o potencial de votação dos candidatos do PL. O objetivo é fortalecer ainda mais o partido e, também, a base de apoio a Bolsonaro no Congresso Nacional.
Embora o senhor tenha sido o principal articulador de Bolsonaro em Minas em 2018, a organização das mais recentes passagens dele pelo estado coube ao grupo Direita Minas, ligado a candidatos como Bruno Engler e Nikolas Ferreira. Por quê?
A virada de chave de última hora, (quando) voltei a ser candidato a deputado federal, me trouxe necessidade de focar em minha campanha. É humanamente impossível, tão próximo a uma campanha, fazer uma estrutura inteira de uma campanha a deputado sendo que vinha trabalhando para ser senador. Me abstive de qualquer coordenação, (mas) obviamente estando atento a tudo no sentido de auxiliar os que estão mais à frente da campanha.
Tive de focar na minha reeleição, andar por todo o estado e resgatar muita coisa. Eu estava (pré) candidato a senador. Era natural que algumas pessoas fizessem outros compromissos. Estou tendo de me esforçar muito, mas o resultado é muito satisfatório.
Houve uma denúncia do Ministério Público a respeito de um suposto uso de recursos que seriam destinados à candidaturas femininas do PSL, partido que o senhor comandava à época. Teme que isso afete sua campanha?
Não. O Brasil inteiro conseguiu enxergar a perseguição que sofri naquele momento. Estava no Ministério (do Turismo), na minha avaliação, fazendo um belo trabalho. Batemos vários recordes. Tiveram algumas denúncias infundadas - por ser ministro do Bolsonaro na época, então sofri uma perseguição muito grande. Qual foi o resultado disso? Um inquérito de 6.600 páginas que não tem uma linha que atribua a mim, diretamente, qualquer procedimento inadequado.
Dentro desse inquérito não existe absolutamente nada contra mim. Fui acusado pela teoria do domínio do fato, porque era o então presidente do partido e foram achados indícios de um coordenador (sobre a execução) de alguma ação que não era correta. Indícios, nada comprovado.
Em 2020, quando ainda era ministro, foram vazadas mensagens em que o senhor chamava de 'traíra' o general Luiz Eduardo Ramos, hoje chefe da Secretaria-Geral da Presidência. Quase dois anos depois, como analisa a situação
O ministro Ramos era da Secretaria de Governo, e eu ministro do Turismo. É natural que uma pessoa como ele não tenha essa vivência, essa experiência política, embora seja uma pessoa muito capacitada.
Naquele momento, estavam (quase) acontecendo as eleições da presidência da Câmara dos Deputados. Entendia que a forma como ele tratava essa relação, esses recursos disponíveis para emendas parlamentares, naquele momento, no Congresso, eram inadequadas. Isso motivou a minha saída.
Mandei aquilo num grupo privado, onde tinham 22 ministros e absolutamente nada tinha vazado até então. Hoje, minha relação com o ministro Ramos é muito boa, passamos uma borracha nisso, é um amigo. Eu apenas faria diferente do que ele vinha fazendo.