Após anos distantes, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e a ex-senadora Marina Silva (Rede-SP) firmaram união. A ex-ministra do Meio Ambiente do governo do próprio petista, afirmou, nessa segunda-feira (12/9), que estará ao lado do presidenciável nestas eleições para defender a democracia.
"Agora nós estamos diante de um quadro que é democracia ou barbárie. Estou partindo do princípio de que tudo isso que está acontecendo é a nossa capacidade de reelaborar, repensar o passado, para construir um novo futuro", disse a candidata à Câmara dos Deputados durante coletiva de imprensa no escritório político da campanha de Lula, em São Paulo.
Em 2010, se candidatou à Presidência da República e angariou um número expressivo de votos: 19.636.359, ficando em terceiro lugar, com uma porcentagem de 19,33% em todo o país. No entanto, sua ex-colega de governo, Dilma Rousseff (PT), saiu vitoriosa com 55.752.529 de votos. José Serra (PSDB) ficou em segundo lugar, com 43.711.388 votos.
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Mesmo com a ofensiva do PT, a ex-presidenciável ainda conquistou 22.176.619 votos. Não foi o bastante, porém, para ultrapassar Aécio Neves (PSDB), que, no segundo lugar do primeiro turno, ficou com 34.897.211 votos. Dilma levou a reeleição, no segundo turno, com 54.501.118 votos. Marina apoiou Aécio na segunda fase das eleições de 2014.
Mesmo com a ofensiva do PT, a ex-presidenciável ainda conquistou 22.176.619 votos. Não foi o bastante, porém, para ultrapassar Aécio Neves (PSDB), que, no segundo lugar do primeiro turno, ficou com 34.897.211 votos. Dilma levou a reeleição, no segundo turno, com 54.501.118 votos. Marina apoiou Aécio na segunda fase das eleições de 2014.
“De fato, Marina teve uma votação expressiva, mas o contexto de 2010, por exemplo, era difícil. Tínhamos Dilma surfando numa aprovação de Lula superior a 80% e tínhamos o PSDB, de José Serra, governador de São Paulo com avaliação positiva acima dos 50%. 2014 talvez tenha sido o mais próximo de Marina ter protagonizado a disputa presidencial. Para ela e qualquer outro que tente ser presidente, tem que largar entre os dois candidatos preferidos, no máximo, o terceiro se tiver muito próximo do segundo, se não, é difícil ir para um eventual segundo turno ou até mesmo ganhar eleições”, avalia o professor do Departamento de Ciências Sociais da Universidade Federal de Alagoas, Denisson Silva.
Em 2018, já no Rede, Marina se candidatou novamente, porém, conseguiu apenas 1.069.578 votos. Ainda segundo Denisson, o mau desempenho da candidata se deveu à fragmentação das eleições daquele ano. No entanto, ele analisou pontos positivos da campanha da ex-ministra.
"A eleição de 2018 foi muito fragmentada. Com isso, os eleitores tiveram muitos polos de atração, ou como diríamos na metáfora econômica, tínhamos muitos produtos à disposição do consumidor (eleitor). Então, a eleição no primeiro turno seguiu o seu propósito, as pessoas votaram naqueles candidatos mais próximos de suas convicções”, disse.
“Outro ponto importante a ser considerado, é a máquina partidária. Isso significa, em última instância, estrutura para campanha. Pois, parte do financiamento é distribuído pela proporcionalidade de parlamentares na Câmara dos Deputados. Mas ainda assim Marina saiu de alguma forma vitoriosa, pois, com bem menos recursos (próprios, privados ou estatais) teve praticamente a mesma votação Henrique Meirelles com toda estrutura do MDB e ainda o vultoso patrimônio próprio empregado na campanha”, completou.
Neste meio tempo, Marina não poupou críticas ao PT. A ex-ministra afirmou que, durante a campanha de 2014, Dilma tinha praticado fake news contra ela. Em outras ocasiões, ela ainda afirmou que o partido não reconhece seus erros. E no impeachment da ex-presidente petista, Marina ainda se colocou positiva ao impedimento.
Todo esse histórico de críticas ao Partido dos Trabalhadores, porém, pode se tornar um “ponto-chave” para a estratégia petista este ano, após o apoio declarado de Marina a Lula. A ex-ministra passa credibilidade e imparcialidade para quem ainda está indeciso no voto. Além disso, Marina aproxima Lula do eleitorado evangélico, o qual ainda é defasado.
“Para Lula (a aproximação) é boa, pois reforça o discurso de frente ampla. E para os ambientalistas é importante pautar uma das candidaturas que têm chance de vitória. No cenário em que os dois sejam eleitos (Lula na Presidência e Marina na Câmara dos Deputados), é ainda melhor para os defensores das pautas ambientais, pois, de um lado vai ter uma parlamentar comprometida com a causa e um governo que deve ter algum grau de comprometimento também. Ela ainda anda em diversos círculos e é bem quista É evangélica, facilitando a ponte e uma aproximação maior de Lula com esse eleitorado”, afirmou o cientista.
Transferência de votos
A aproximação entre Lula e Marina se torna ainda mais importante para a campanha de Lula. Uma das estratégias do petista é insistir no voto útil, para tirar Jair Bolsonaro (PL) da Presidência. Com a expressividade de votos que a ex-ministra teve nos pleitos de 2010 e 2014, a possibilidade de a transferência de voto virar o dito voto útil pode acontecer, avalia o professor.
“A transferência de voto não é algo automático. Mas, sem sombra de dúvidas, ter apoio da magnitude de Marina importa para qualquer candidato. Ou como diria na linguagem das redes sociais, Marina é uma 'influencer'. Não é à toa que foi costurada essa aliança. Além de simbolicamente representar essa frente ampla que Lula está construindo”, afirma Denisson.
A Rede Sustentabilidade, além de ter declarado apoio a Lula, faz parte da coligação "Brasil da Esperança", que tem a Federação Brasil da Esperança com PT/ PCdoB/ PV/PSB e, junto,o Solidariedade/PROS e a Federação PSOL/REDE/Avante/Agir. No entanto, Marina só declarou apoio ao PT nesta semana. Apesar disso, não era esperado, por outro lado, que a ex-ministra apoiasse Bolsonaro.
“O governo Bolsonaro não tomou nenhuma medida efetiva para combater os males climáticos, entre eles, a destruição da Amazônia, Cerrado e Pantanal. Então, era de alguma forma esperado que Marina, uma política que dedicou a vida à pauta ambiental, fosse para um projeto de governo que tivesse condições, ou ao menos prometesse reverter ou parar com o processo de destruição ambiental em marcha”, conclui o professor.