Jornal Estado de Minas

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Eleições 2022: como identificar um conteúdo enganoso

Quantas mensagens você repassa regularmente? Dessas, quantas contêm conteúdos duvidosos? Aliás, antes de passar à frente, você já parou para pensar se o que viu é mesmo verdadeiro? Se a resposta é não, não se preocupe, você não é o único.



Mas graças a essa desatenção, notícias falsas ou enganosas circulam – e viralizam – no espaço digital. Em período de eleição, o problema aumenta e, por isso, é preciso redobrar a atenção. O núcleo de checagem da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) ensina você, cidadão, como saber se uma notícia é falsa para não cair em armadilhas eleitoreiras.  

O Observatório Fake News (https://observatoriofakenews.eci.ufmg.br/) é um projeto desenvolvido com alunos voluntários e bolsistas da Escola de Ciência da Informação, principalmente do curso de biblioteconomia. "São notícias que buscam se alinhar com a ideologia de seus leitores, em detrimento da verdade dos fatos. Elas instigam um sentimento de pertencimento com a informação, como forma de unir os leitores em uma campanha de compartilhamento para alertar a população. Com o uso maciço das redes sociais, a apropriação e compartilhamento de fake news de cunho políticos têm comprometido o pensamento e a atitude democrática", afirma o texto.

Leia: Eleições 2022: saiba como não cair em fake news sobre educação

E como desconfiar? Qual jornal publicou a notícia? Algum outro veículo de informação divulgou a mesma informação? Quem é o autor dessa notícia ou artigo? "Muitas vezes o ponto de vista mais obvio diante das suas certezas de mundo pode não ser o verdadeiro." 

"A checagem é ainda mais importante nas eleições, quando o bombardeio de informações é muito mais intenso. Há propagandas, notícias e em cima de uma mínima frase se pode criar uma série de falseamentos e descontextualizar tudo", afirma a professora Lorena Tavares, da Escola de Ciência da Informação, coordenadora do projeto.

"A conjuntura cultural leva ao sentimento de pertencimento a um lado (político) ou outro e isso é essencial, mas toda atenção é pouca", avisa. Lorena acredita já ter havido um amadurecimento no acesso à informação por meio digital. "Quem já saiu das bolhas não está mais tão impactado pelas fake News, mas quem ainda está não consegue acatar a possibilidade de refletir o que é notícia falsa." 

Confira abaixo o roteiro de checagem do Observatório Fake News 


Há mais que fake news circulando por aí, alertam os pesquisadores: 

Insinuação: apresentação de um entendimento sem expressá-lo claramente  

Hipocrisia: fingimento e falsificação da verdade  

Omissão: não mencionar, não dizer a verdade  

Pós-verdade: contexto sócio histórico no qual as pessoas se encontram propensas a acreditar em fake news  

Fake news: mentiras disseminadas como verdade 

Falsificação: crime relacionado à mentira  

Sátira, humor, paródia

Então, como identificar um conteúdo enganoso? 


Muitas informações que circulam, principalmente pelas redes sociais e por aplicativos de envio de mensagem, podem ser verdade, mas são verdades descontextualizadas construídas para enganar ou alienar o leitor. Isso significa que as fake news estão além das notícias falsas. "É fundamental que o leitor saiba dos elementos que caracterizam esse conteúdo, pois ele tem a intencionalidade de gerar impressões enganosas e gerar compreensões falsas sobre um determinado assunto ou realidade", destaca o Observatório. 





Por isso, é preciso observar três dimensões: a informacional, a cultural e a tecnológica. 

Dimensão informacional 

Quem é o autor do conteúdo? Quais as suas intenções na construção de tal conteúdo? 


Alerta: Conteúdos (notícias, informativos, cartazes, memes etc.) que não têm responsabilidade autoral devem ser desconsiderados como informação válida. Todo conteúdo informativo tem atribuição de autoria, seja de uma pessoa ou de uma instituição (prefeitura, universidade, órgão de imprensa etc.) 

Há uma instituição idônea mencionada no conteúdo em circulação? 

Alerta: Quando o conteúdo tem informações sobre assuntos de cunho científico (assuntos médicos, por exemplo) sempre terá menção ao pesquisador/médico e à instituição à qual ele está vinculado. O certo é pesquisar se essas menções são corretas (pesquise o cientista e a instituição no Google e confira as informações no site institucional). 

Há uma data no documento? 


Alerta: Documentos e conteúdos sem data são sinal de alerta importante. Não há possibilidade de fontes de informação, que têm cunho informativo, circularem sem data de publicação. 




Quais são as referências? 

Alerta: Toda informação científica e com objetivo formativo tem referências bibliográficas. Não há possibilidade de resultados científicos ou orientações de saúde e bem-estar serem produzidos sem consulta a outras fontes de informação. 

Características discursivas da informação: 


Alerta: Se o conteúdo tem indícios sensacionalistas como "Divulgue para o máximo de pessoas possível", "Essa informação pode salvar vidas: divulgue", "Leia e repasse para a sua família e amigos", há grandes chances de ser um conteúdo enganoso. Então verifique autoria, institucionalidade, data. Se não tiver esses elementos informacionais, descarte. 

Dimensão cultural 


Analisa aspectos socioculturais e históricos que impactam a recepção de informação. 

Quem compartilhou essa informação? 


Alerta: recebemos informações de amigos, parentes, pessoas de grupos religiosos e de bem-estar, mas é preciso pensar se a pessoa que compartilhou a informação compreende o conteúdo e tem autoridade cognitiva para disseminar e discutir o assunto em questão (não é para causar mal-estar, essa reflexão é necessária para fomentar um pensamento crítico diante do conteúdo recebido) 

Qual a intenção desse compartilhamento? 


Alerta: Toda interação social, seja virtual ou presencial, é cercada de intensões (ruins, maldosas, boas, de afeto, de cuidado etc). Perceber intenções que cercam o compartilhamento ou a disseminação é importante, pois muitas fake news são disseminadas com a melhor intenção possível, mas, normalmente, a pessoa que dissemina não tem a mínima noção sobre o conteúdo e afirmativas.  

Essa pessoa tem autoridade no assunto que está disseminando? 


Alerta: Se a informação é especializada e foi disseminada por uma pessoa não especialista no assunto é necessário perguntar onde ela conseguiu a informação, pois checar a fonte será primordial. 






Dimensão tecnológica: elementos tecnológicos que impactam a transmissão e recepção da informação. 


No ambiente de divulgação da informação (site), há elementos de identificação institucional? 


Alerta: elaborar websites é relativamente simples, então a estrutura na qual a informação é divulgada pode oferecer indícios sobre a segurança da informação. Desconfie se o ambiente digital não tem uma logomarca institucional (que identifica a correlação do conteúdo com um grupo de pessoas competentes para sua elaboração e divulgação). 

Quais links e propagandas aparecem no site? 


Alerta: Se o site tem propagandas desconexas com o conteúdo divulgado e links aleatórios, que não oferecem consistência e garantia de confiabilidade no desenvolvedor, desconfie. 

Onde eu acessei essa informação? 


Alerta: informações qualificadas e auditadas são normalmente encontradas em livros, revistas, jornais de alta circulação e audiência, blogs de especialistas etc. Então, qualquer conteúdo disseminado por redes sociais ou recebido por mensagem deve ser inspecionado observando todas as dimensões mencionadas. Se pelo menos um elemento de alerta for constatado, cuidado, pode-se tratar de conteúdo enganoso.