Jornal Estado de Minas

ENTREVISTA

Reginaldo Lopes: indecisos podem ajudar Lula e 'antecipar' 2° turno

Coordenador da campanha presidencial de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Minas Gerais, o deputado federal petista Reginaldo Lopes crê que a corrida ao Palácio do Planalto pode terminar já no primeiro turno. Ontem, ao participar do "EM Entrevista", podcast de Política do Estado de Minas, o parlamentar disse que o presidente Jair Bolsonaro (PL) "ameaça a democracia e destrói a economia".



"Acredito ser possível ganhar no primeiro, por causa da situação do país", afirmou. "É possível dialogar com setores da sociedade que estão indecisos e, até mesmo, com os que votam em outras candidaturas, para antecipar o segundo turno, tendo-o já no primeiro", emendou.

Reginaldo construía sua candidatura ao Senado Federal quando abriu mão para apoiar a reeleição de Alexandre Silveira (PSD). O movimento ajudou a viabilizar a aliança entre Lula e Alexandre Kalil, que concorre ao governo pelo PSD, mas tem o apoio do PT. Embora o ex-prefeito de Belo Horizonte esteja atrás de Romeu Zema (Novo) nas pesquisas de intenção de voto, o deputado confia em mudanças no quadro.

"Quarenta por cento do eleitor não sabe que Lula apoia Kalil. Nesses próximos dias, eles (Zema e Kalil) vão diminuir a diferença e vai depender do desempenho do andar de baixo - (com) Carlos Viana (PL) e Marcus Pestana (PSDB)", projetou.



Leia, abaixo, os principais trechos da sabatina. A íntegra da conversa com Reginaldo, que tende a ser um dos "puxadores" de voto do PT mineiro, pode ser vista no canal do Portal Uai no YouTube.


O senhor era pré-candidato ao Senado, mas abriu mão para apoiar Alexandre Silveira, o que ajudou a viabilizar a aliança entre Lula e Kalil. Como foi a conversa com o ex-presidente quando essa decisão foi tomada?
Quando estamos em um projeto coletivo, não somos donos das nossas decisões. Fiz isso em nome da democracia e de um projeto de reconstrução do país. Bolsonaro é um assassino. A metade das vítimas da COVID-19, ele matou; é o responsável. Bolsonaro é um assassino na educação: acabou com todos os projetos, (como) o Mais Educação, a escola em tempo integral e o Brasil Carinhoso, que dava 50% a mais no Fundeb para os prefeitos colocarem na creche os filhos das mães do Bolsa Família. Este país é muito rico, tem quase R$ 10 trilhões de PIB, para não dar conta de preservar a infância.

Ele (Bolsonaro) assassinou o poder de compra da classe trabalhadora, dos assalariados, da classe média e do servidor público. É o primeiro presidente que vai entregar o salário mínimo menor do que quando entrou. Ele assassinou a transparência, o enfrentamento à corrupção.

Recentemente, Ciro Nogueira, ministro de Bolsonaro, criticou o Datafolha e insinuou que o presidente havia virado em Minas. Isso pode acontecer?
Jamais. Os mineiros sabem que o país está muito mal. Minas é uma síntese do Brasil, compreende como o país ampliou as desigualdades e sabe que o governo Bolsonaro é incapaz, irresponsável. É mais uma fake news do ministro Ciro Nogueira, que está tentando produzir uma 'onda'. Eles têm comprado algumas pesquisas e forçado uma conjuntura com diminuição da distância em Minas. Mas não há nenhum motivo para os mineiros mudarem de opinião.



Como o senhor analisa a disputa entre Lula e Bolsonaro até aqui?
Nunca foi tão fácil escolher um presidente. São dois projetos extremamente distintos: Lula sabe que sem o Estado como indutor da retomada da economia, é impossível voltar a gerar oportunidades. Quando há estagnação, é fundamental que o governo garanta renda em um primeiro momento - isso vai gerar empregos e produzir mais investimentos. Vamos seguir o roteiro garantindo aumento real do salário mínimo todos os anos e a volta do Bolsa Família, mas não provisório, (com) R$ 600 e diferenciando as famílias que têm maior número de crianças. Para cada criança, queremos mais R$ 150.

Mas há orçamento para pagar R$ 600 acrescidos de R$ 150 por filho?
Há um governo entreguista, que não fez nenhuma obra importante, não valorizou o salário mínimo - e ainda quer crescimento. São negacionistas também na economia. Esse modelo começou com a Ponte para o Futuro, de (Michel) Temer. Em quase sete anos, assistimos à ampliação da dívida interna do país, que está chegando a 80%. Lula pegou o Brasil devendo 70% do PIB; entregou com 35%.

Para 2023, há previsão de déficit fiscal - o que se arrecada não paga as despesas correntes. Se isso continuar, o Brasil tem projeção de 10 anos de déficit fiscal, perseguindo trabalhadores, aposentados e o papel do Estado. Lula e Dilma, em 10 anos, economizaram mais de R$ 1 trilhão.



(Lula) fez 'Minha Casa Minha Vida', Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), creches, ProUni, Fies e criou o Bolsa Família. Lula produziu, em oito anos, 4,6% de crescimento. Se crescermos 4% do PIB (ao ano), dá R$ 360 bilhões (extras). Há uma carga tributária de (cerca de) 50%, o que geraria em torno de R$ 150 bilhões a R$ 180 bilhões de arrecadação a mais. Pagamos a conta.



Kalil ainda precisa ganhar terreno na disputa contra Zema em Minas. O que fazer para impulsioná-lo na reta final e forçar o segundo turno?
Quarenta por cento do eleitor não sabe que Lula apoia Kalil. Nesses próximos dias, eles (Zema e Kalil) vão diminuir a diferença e vai depender do desempenho do andar de baixo - (com) Viana e Pestana. Acredito, ainda, em um segundo turno. Acho que Kalil chega tecnicamente empatado com Zema e, aí, vamos olhar se os outros candidatos vão contribuir para um segundo turno.

Mostrar ao eleitor que Lula está com Kalil é uma tarefa que o PT fala em cumprir desde o anúncio da aliança, em maio. Mas, segundo o senhor, 40% das pessoas ainda não sabem. Não há pouco tempo para preencher essa lacuna?
Há uma pesquisa que indica o aumento do número de pessoas assistindo aos programas eleitorais. Acredito que, nos próximos 15 dias, o eleitor vai começar a acompanhar melhor o dia-a-dia dos candidatos. Aí, sim, chegaremos à última semana com o eleitor tendo total conhecimento que Kalil é ex-prefeito de BH, foi reeleito com votação histórica e tem apoio de Lula. Na reta final, na última semana, vai ocorrer um alinhamento com a candidatura de Lula. Aí, será possível termos um segundo turno.



Faltam 17 dias para a eleição e o senhor tem falado sobre "voto util". Qual a importância disso na reta final da campanha?
Não é uma eleição normal. Não lidamos com alguém que respeita ou tenha apreço pela democracia. Bolsonaro tem saudades da ditadura, da tortura. O que está em jogo é a democracia. Fora dela, é a barbárie, a corrupção - ninguém acaba com a democracia para dar transparência. Bolsonaro tem feito vários decretos de sigilo de 100 anos, o que é um absurdo. É fundamental que os que acreditam, de fato, na importância do fortalecimento da democracia, componham conosco.

Trabalhamos com simplicidade para ganhar a eleição - pode ser no primeiro ou no segundo turno. Eu acredito ser possível ganhar no primeiro, por causa da situação do país. Há alguém que ameaça a democracia e destrói a economia. Lula tem memória positiva; o povo sabe que, com ele, a vida era melhor. É possível dialogar com setores da sociedade que estão indecisos e, até mesmo, com os que votam em outras candidaturas, para antecipar o segundo turno, tendo-o já no primeiro.