A maior guinada foi nas propagandas da TV, onde ambos iniciaram a campanha, no final de agosto, evitando citações ao adversário.
Na última semana, com o cenário de estabilidade na pesquisa Datafolha, onde aparece 12 pontos atrás de Lula, o presidente da República passou a usar a maior parte do seu tempo da propaganda eleitoral para atacar o petista.
O ápice foi no horário eleitoral desta quinta (15), quando Bolsonaro não apareceu no programa de quase três minutos no horário nobre da televisão. O espaço foi ocupado por uma peça publicitária, com uma atriz, mulher e negra, que prometia dizer a "verdade sobre Lula".
A propaganda usou o exemplo de um "bandido assaltando uma mulher" para explicar uma das anulações da condenação de Lula no STF (Supremo Tribunal Federal), que decidiu que a vara de Curitiba não deveria ter julgado o caso do ex-presidente.
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"O processo mudou de lugar, mas a verdade, essa não muda", diz a locutora.
A propaganda ignorou decisão seguinte do STF que considerou o ex-juiz e ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, Sergio Moro, suspeito para julgar Lula, de junho de 2021.
A linha mais agressiva já vinha sendo testada na internet. Em agosto, a coluna Painel, da Folha de S.Paulo, mostrou que havia uma divisão na campanha do presidente, com a equipe responsável pela propaganda digital apostando em ataques ao petista e a que cuida da TV em programas exaltando o presidente e seu governo.
A reportagem apurou que, na reta final, a linha mais agressiva será dominante. Os temas corrupção e pautas de costume devem pautar a propaganda do candidato do PL.
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Desde o início da campanha, em 16 de agosto, Bolsonaro não conseguiu subir nas intenções de voto, segundo o Datafolha. Tinha 32% e está com 33%, diferença dentro da margem de erro, de 2 pontos percentuais.
À frente na disputa, Lula também teve mudanças no tom em parte da sua propaganda eleitoral. O petista tem divido o tempo em três frentes: defesa às ofensivas bolsonaristas, exaltação ao seu período como presidente e ataques ao atual presidente.
Na defesa, o PT veiculou uma propaganda ironizando campanhas de que um governo do partido irá fechar igrejas, transformar o Brasil num país comunista ou quebrar a economia. Um fantasma aparece na sala repetindo as ameaças, que são contrapostas por um ator. "Não acredite em velhos fantasmas", conclui o locutor.
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A campanha de Lula também usa seu tempo na TV, o maior entre os candidatos à Presidência da República, para atacar Bolsonaro em pontos como rejeição entre as mulheres, discurso de ódio e defesa das armas.
A campanha petista explorou na propaganda na terça (13) as divisões e brigas políticas na sociedade. Defendeu que o candidato do PT volte a unir o Brasil.
O programa ainda buscou associar o governo federal a escândalos de corrupção, lembrando do suposto esquema de "rachadinha" no gabinete do senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) no período em que ele era deputado estadual, sigilos de informações por cem anos decretados pelo presidente e denúncias de compra de imóveis com dinheiro vivo, que teriam sido feitas pela família Bolsonaro.
Críticas contra o presidente foram ao ar também no último dia 8, quando a campanha do PT exibiu relato de uma mulher que chora e lamenta a perda de entes queridos na pandemia. Ao transmitir falas de Bolsonaro minimizando os perigos da Covid, uma máquina que monitora o batimento cardíaco emite som de perda de sinal e morte.
O PT buscar aumentar a rejeição do adversário, que já é de 53%, para liquidar a eleição no primeiro turno.
Embora os candidatos tenham subido o tom na tentativa de mudar o rumo nas eleições, a história mostra que na reta final a tarefa é difícil. Após a redemocratização do Brasil, nunca um candidato que apareceu em segundo lugar no Datafolha a menos de um mês para a votação conseguiu virar o resultado.
Neste ano, outro fator torna a missão ainda mais complicada. Lula e Bolsonaro têm oscilado menos quando comparado a outros candidatos em pleitos anteriores --em junho, Lula e Bolsonaro tinham, respectivamente, 53% e 32% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
A estabilidade é explicada, em parte, porque ambos os candidatos se encaixam, segundo a cientista política Deysi Cioccari, no conceito sociológico de mitos políticos, construído a longo prazo e que dão sustentação às candidaturas.
"Lula foi preso, e Bolsonaro sofreu atentado a faca. Isso faz com que, além de eleitores, ambos tenham muitos seguidores fiéis que formam um corpo social coeso e não consideram a possibilidade de mudar o voto", diz Cioccari.
O "Beabá da Política"