"Há dois milhões de pessoas morrendo de fome no estado, quase 10% da população. Primeiro, vamos matar a fome desse povo, fazer um programa social. Isso tem pressa", disse. "Depois, são saúde e infraestrutura. Nessa ordem", emendou, ao listar os temas que pretende destinar atenção especial.
Kalil concorre com o apoio do presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Segundo o candidato ao governo, a aproximação entre ele e o petista nasceu porque ambos gostam de "cuidar de gente". "Ele governou com amor", afirmou, em menção ao período que o aliado passou no Palácio do Planalto.
Nas sabatinas, Kalil falou, ainda, sobre questões como a situação fiscal de Minas Gerais e o estado de conservação das rodovias. Romeu Zema (Novo) e Jair Bolsonaro (PL), postulantes à reeleição, foram alvo de críticas. Leia, abaixo, os principais pontos das conversas. No canal do Portal Uai no YouTube, é possível assistir à íntegra da participação do candidato no podcast de Política "EM Entrevista". Também no YouTube, o "Jornal da Alterosa" disponibiliza a passagem de Kalil pela atração.
Aliança com Lula
Kalil e Lula se aproximaram neste ano, após o petista estimular o então prefeito de BH a concorrer ao governo. A boa relação entre eles é um dos trunfos da campanha do PSD em Minas. "Tenho a palavra do presidente da República (Lula, se eleito) de que vamos arrumar Minas Gerais", disse o candidato ao governo.Líder das pesquisas de intenção de voto, Lula foi chamado por Kalil de "candidato mais popular do Brasil". "Minha geração sabe o que é o cuidado do presidente Lula e como ele cuidou do povo que sofria, da fome, da saúde e da educação. Tenho muito orgulho de ser apoiado por Lula. Me envaidece muito - inclusive, por ter me aproximado e me tornado amigo dele".
Depois, o pessedista apontou as similaridades entre ele e o ex-presidente. "Cuidamos do povo desta cidade. Também cuidamos de gente. Isso nos deu uma sintonia", pontuou. "Quem não se tocar para o que está acontecendo no estado e no país não se tocar, não tem solução", emendou.
Zema 'não sabe' e 'não pode'
Ao criticar o adversário Zema, que tem a dianteira nas sondagens a respeito da disputa pelo Palácio Tiradentes, Kalil acusou o político do Novo de não ter a estatura adequada para o cargo."O governador tem um problema, que eu não tenho, de não saber o tamanho de ser o governador de Minas. Então, vai ter um problema. Comigo, não teria problema no caso de ser governador com (Jair) Bolsonaro presidente, porque sei o peso de um governador de Minas", pontuou.
Segundo Kalil, Zema tem agredido Lula desnecessariamente. No mês passado, quando o petista fez um comício em BH, o governador chegou a criticar reflexos no trânsito.
"Mais importante do que ganhar eleição é governar. Essa pirotecnia que está sendo feita vai ter um custo daqui um ano, porque não vai abrir hospital, pois não sabe e não pode. Não vai arrumar estrada porque não sabe e não pode. Não vai fazer nada do que prometeu porque não sabe negociar lá. Está esculhambando o presidente Lula sem a menor necessidade", garantiu o ex-prefeito.
O discurso vai ao encontro do que propagou na Assembleia Legislativa seu candidato a vice, o deputado estadual André Quintão (PT). Os parlamentares de oposição a Zema, formalmente liderados por Quintão, questionam a tese do governador de que Minas foi posta "nos trilhos". Kalil, contudo, crê que as finanças não foram recuperadas. Segundo ele, o estado está "quebrado".
"É o primeiro governador da história de Minas Gerais que nunca pagou um tostão da dívida para o governo federal", falou, em menção a um passivo bilionário que está perto dos R$ 160 bilhões. "O estado deve quase R$ 50 bilhões a mais do que (quando) ele pegou".
Vice de Zema e renda básica
Ao tratar dos caminhos que o governo estadual pode seguir para prestar ajuda aos economicamente vulneráveis, Kalil teceu críticas a Mateus Simões (Novo), ex-secretário-geral da gestão de Zema e candidato a vice na chapa situacionista. No mês passado, ao participar do "EM Entrevista", Simões afirmou que o estado não cogita instituir um programa uniforme de transferência de renda, em moldes similares aos do Auxílio Brasil, por causa de restrições orçamentárias. Outro empecilho é o fato de a atual gestão crer que as diferenças regionais do estado são outra barreira.Kalil, porém, rechaçou a tese. "Não ter condições técnicas (para dar auxílio) é 'conversa para boi dormir'. Manda pegar uma botina e botar o pé no esgoto onde o povo pobre mora, com cocô no pé das crianças. Não faz porque não tem coração, empatia e alma. Não faz porque nunca tirou o sapato de verniz no pé e nunca botou a botina e foi ao cocô ver como é", atacou.
Embora a Lei de Diretrizes Orçamentárias preveja déficit de R$ 11 bilhões para o próximo ano, Kalil defendeu o fim das isenções fiscais como caminho para bancar o socorro social.
"É só pegar esse déficit e falar: 'vamos continuar dando R$ 11 bilhões, mas tirar as isenções de R$ 1 bilhão ao ano do amigo do rei'. Aí, vamos dar os mesmos R$ 11 bilhões de prejuízo, e o rei vai ficar sem a isenção, mas vamos colocar isso no orçamento, para pobre", explicou. "Mete o pé na bunda do bilionário - e não de 2 milhões de mineiros passando fome. É só escolher em quem meter o pé: ou é em um bilionário ou em 2 milhões de famintos", continuou.
Recuperação Fiscal e saída política para a dívida
Enquanto a equipe econômica de Zema confia na adesão do estado ao Regime de Recuperação Fiscal como saída para refinanciar a dívida junto à União, Kalil aposta na interlocução com as lideranças políticas instaladas em Brasília (DF). A reboque do pensamento de seus aliados à esquerda, o ex-prefeito de BH demonstrou temor por prejuízos que o plano de ajuste das contas pode causar aos serviços públicos e ao funcionalismo.Segundo Kalil, a recuperação fiscal vai impedir a retomada das obras de Hospitais Regionais como os de Juiz de Fora, na Zona da Mata, e Sete Lagoas, na Região Central.
"Não vai abrir hospital porque a lei não vai permitir. Engana. Pode enganar e falar mentira em tudo, mas não na saúde. Com a lei de Recuperação Fiscal, não vão abrir hospitais. A lei não permite", pontuou.
O ex-prefeito chamou de "burocratas" os responsáveis pelas regras do Regime de Recuperação Fiscal, vinculado à Secretaria do Tesouro Nacional.
"Depois que a gente ver como vamos abrir hospitais e centros de saúde e como vamos reestruturar a infraestrutura, (iremos), em cima disso, fazer um plano de Recuperação Fiscal exatamente como uma roupa deve ser. A calça que serve no Rio de Janeiro e no Rio Grande do Sul não é a calça que serve a Minas Gerais", apontou, em menção a dois estados que ingressaram no programa de refinanciamento.
Paralelamente, Kalil prometeu "acampar" na capital federal e construir pontes de diálogo com o governo federal para captar recursos. "Falta de dinheiro, não é. Há dinheiro para o Nordeste, para São Paulo e para o Rio. Só não tem dinheiro para Minas".
Bolsonaro e eleição nacional
"Convicto" de que Lula vai vencer a corrida ao Planalto no primeiro turno, Kalil chamou Bolsonaro de "bárbaro". "No dia da eleição, vamos sair da barbárie e voltar à civilização", projetou.Em 2021, em meio à escalada da pandemia de COVID-19, Bolsonaro criticou o fechamento de estabelecimentos comerciais e acusou Kalil de "fazer barbaridades" em Belo Horizonte. Hoje, ao relembrar a crítica, o candidato de Lula em Minas ironizou o adjetivo "imbrochável" e criticou a postura do governo federal ante a doença viral.
"Barbaridade é falar que quem toma vacina é jacaré, é receber 90 propostas da Pfizer enquanto este país enterrava três mil pessoas por dia. Barbaridade é falar que quem se vacina pegava Aids. Barbaridade é pegar uma criança, quando estava morrendo essa quantidade de gente, no colo e sem máscara. Barbaridade é imitar uma pessoa morrendo por falta de ar".
Estradas e mineração
Ao comentar a situação das rodovias mineiras, um dos temas que utiliza para reprovar Zema, Kalil criticou Fernando Marcato, secretário de Estado de Infraestrutura e Mobilidade e um dos principais defensores do Rodoanel Metropolitano, criticado pela Prefeitura de Belo Horizonte.
"A maior malha viária deste país é tocada por um advogado que só pensa em concessão", disparou. "(Marcato) é um advogado de São Paulo. Se perguntar a ele o que é um pavimento invertido, não sabe", acrescentou.
Segundo o concorrente, o governo federal "abandonou" as BRs que cortam Minas, mas criticou a postura do estado diante de casos como o da BR-381. "Só Minas Gerais aceita ter, durante vinte anos, uma rodovia chamada 'da Morte'".
Contrário à mineração na Serra do Curral, possibilidade que chamou de "aberração", Kalil disse apostar na fiscalização para coibir eventuais abusos do setor.
"A mineração é importante 'para burro' para os municípios e para o estado, mas é a primeira vez na história deste estado que quem toma conta de mineradora é minerador. Quem vai tomar conta de mineração, como sempre foi, é o estado, técnicos do estado, fiscalizando para não deixar matar mais gente e fazer mais desastres, como o feito no Rio Doce", lamentou.
Ele ainda voltou a artilharia à Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). "Minha secretaria (de Meio Ambiente) vai sair da Fiemg e voltar para o estado. Quem fiscaliza a mineração e dá o licenciamento é o estado - não a Fiemg. Vamos tirar a secretaria dos bilionários da mineração, que terá de obedecer a lei ambiental com o governo de Minas".