O pesquisador entrevistava uma pessoa, quando Rafael Bianchini se aproximou e, aos gritos, passou a exigir que também fosse ouvido para o levantamento. "Só pega Lula" e "vagabundo" foram um dos termos gritados pelo bolsonarista no meio da rua.
O ataque começou quando o pesquisador finalizou sua entrevista com o outro morador. Ele foi atingido pelas costas, e o tablet usado para a entrevista foi derrubado ao chão. Quando o pesquisador reagiu às agressões, ele passou também a ser atacado por um filho do bolsonarista.
As agressões foram interrompidas com a ação de vizinhos. Foi quando o bolsonarista entrou e saiu de sua casa, em frente ao local, e ameaçou partir para cima do pesquisador com uma peixeira --ele foi contido pelo filho.
"O pesquisador estava desempenhando seu trabalho e foi covardemente agredido fisicamente. Nada justifica qualquer tipo de agressão. Estamos acompanhando um aumento da hostilidade em relação aos pesquisadores e isso é muito preocupante", afirma Luciana Chong, diretora do Datafolha.
Segundo o Datafolha, relatos de pessoas que passam gritando, acusando o instituto de ser comunista ou tentando filmar os entrevistadores como forma de intimidá-los têm sido comuns.
Na maior parte dos casos, as pessoas que buscam intimidar os pesquisadores se declaram como bolsonaristas ou citam o nome do presidente Jair Bolsonaro (PL), de acordo com a diretoria do instituto.
Somente no último dia 13, o instituto de pesquisas contabilizou dez intercorrências em municípios de diferentes regiões do país, num universo de 470 pesquisadores.
Houve casos nos estados d e São Paulo, Minas Gerais, Alagoas, Maranhão, Goiás, Pará, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.
No episódio desta terça em Ariranha, município na região de São José do Rio Preto, o caso foi registrado na delegacia local. Bianchini e filho foram identificados como autores das agressões.
O delegado Gilberto Cesar Costa afirmou que todas as providências necessárias foram determinadas, como a oitiva dos envolvidos. Ele, porém, disse que o teor da investigação é sigiloso.
O pesquisador do instituto foi atendido num pronto-socorro da cidade e liberado em seguida. Atingido na cabeça, nas costas e nos braços, ele diz que buscará a punição dos responsáveis na Justiça, tanto pela questão individual das agressões como pelas ameaças que seus colegas têm recebido nas ruas.
"Foi registrado o boletim de ocorrência e isso deve ser investigado pela polícia. Deve resultar numa ação penal", disse o advogado da Folha de S.Paulo Luís Francisco Carvalho Filho.
De acordo com ele, a atitude ocorrida na cidade do interior paulista é lamentável. "Provavelmente isso é oriundo aparentemente de simpatizantes de Bolsonaro, que pressionam pesquisadores e levantam desconfiança em torno do instituto de pesquisa", disse.
O Datafolha é um instituto independente de pesquisa de opinião que pertence ao Grupo Folha e atua com pesquisa eleitoral e levantamentos estatísticos para o mercado. O instituto não faz pesquisas eleitorais para governos ou políticos.
A metodologia do Datafolha prevê pontos específicos para a realização das entrevistas. No caso de mudança para outro ponto entre os mapeados, é preciso uma autorização da equipe de planejamento.
O instituto diz que, nos levantamentos nacionais ou estaduais, primeiro são sorteados os municípios que farão parte do levantamento; depois, os bairros e pontos onde serão aplicadas as entrevistas.
O Datafolha também usa cotas proporcionais de sexo e idade de acordo com dados obtidos junto ao IBGE e ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).
Outras instruções são as de não dar permissão para ser filmado e a de não usar o crachá do Datafolha enquanto estiver se deslocando, apenas enquanto estiver realizando as entrevistas.
Os pesquisadores do instituto recebem um treinamento padronizado, que determina que pessoas que se oferecem para serem entrevistadas devem ser obrigatoriamente evitadas, para que a amostra seja aleatória.
AGRESSÕES EM SÉRIE
Entre os casos registrados recentemente no país, em agosto, em Belo Horizonte, quatro homens perseguiram uma entrevistadora, chamando o Datafolha de comunista e esquerdista. Ela saiu correndo, caiu no chão e machucou um dos joelhos.
O grupo então teria se assustado e parou de segui-la. Eles estariam tentando pegar à força o tablet no qual ela registrava as respostas.
Em Goiânia, um entrevistador chegou a ser empurrado por um homem que se identificou como bolsonarista e que disse não querer o profissional do Datafolha nas redondezas.
Em um município do Rio Grande do Sul, um pesquisador foi levado para averiguação por um policial que se identificou como eleitor de Bolsonaro. Antes de chegarem à delegacia, ele parou o carro e fez perguntas ao pesquisador que, na sequência, foi liberado e continuou seu trabalho em outro local.