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Estado de Minas FOME NO BRASIL

Ao contrário do que disse Guedes, pesquisas indicam aumento da fome no país

De acordo com levantamentos, um em cada três brasileiros dizem não ter quantidade de comida suficiente para sua família


21/09/2022 19:34 - atualizado 21/09/2022 20:12

Pobreza aumenta no Brasil
Pesquisa aponta que existem 33 milhões de pessoas passando fome no Brasil (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press)

Nesta quarta-feira (21), o ministro da Economia, Paulo Guedes, questionou dados relativos a insegurança alimentar no país ao afirmar que é impossível que o Brasil tenha 33 milhões de pessoas passando fome. O discurso também é encampado pelo presidente Jair Bolsonaro (PL), que disse, em agosto, que não existe "fome para valer" no Brasil.

 

Ao contrário do que disseram o ministro e o presidente, porém, dados de diferentes fontes mostram que houve, de fato, um aumento da fome no Brasil.

 

A falta de comida se tornou um assunto corriqueiro para os brasileiros, e algumas pesquisas recentes ajudam a quantificar o problema.

 

33 MILHÕES PASSAM FOME NO BRASIL, APONTA REDE PENSSAN

 

Em junho, o país soube que 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, segundo apontou a segunda edição do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, da Rede Penssan —um patamar semelhante ao que havia sido registrado há três décadas.

 

"Isso são fatos econômicos, não adianta. A tática política é de barulho: 33 milhões de pessoas passando fome. É mentira, é falso. Não são esses os números", disse Guedes em evento do setor automotivo em São Paulo.

 

O ministro defendeu que, na comparação com outras grandes economias, o desempenho brasileiro está melhor. Não disse, no entanto, quais seriam os números corretos, na avaliação dele.

 

Ao contrário do que se percebe no cotidiano das cidades brasileiras, Bolsonaro também minimizou o problema, dizendo que não há pessoas nas portas de estabelecimentos comerciais pedindo comida.

 

"Fome para valer, não existe, como da forma que é falado. O que que é extrema pobreza? Você ganhar US$ 1,9 por dia, isso dá R$ 10. O Auxílio Brasil são R$ 20 por dia. Quem por ventura está no mapa da fome pode se cadastrar e vai receber", disse Bolsonaro a um podcast.

 

"O que a gente pode dizer, se for a qualquer padaria, não tem ninguém pedindo para comprar pão. Não existe. Eu falando isso estou perdendo votos, mas a realidade não pode deixar de dizer", afirmou o presidente.

 

UM EM CADA TRÊS BRASILEIROS NÃO TEM COMIDA SUFICIENTE, SEGUNDO DATAFOLHA

 

Além do relatório da Rede Penssan, pesquisa Datafolha feita de forma presencial nos dias 27 e 28 de julho apontou que um em cada três brasileiros afirmava que a quantidade de comida em casa nos últimos meses não foi suficiente para a sua família.

 

Segundo o levantamento, o percentual de lares com uma quantidade insuficiente de comida subiu de 26% em maio para 33% em julho. Outros 12% dizem que foi mais que suficiente, mesmo percentual nas duas pesquisas. Para 55%, a comida foi o suficiente –queda em relação aos 62% de maio.

 

61 MILHÕES DE BRASILEIROS CONVIVEM COM INSEGURANÇA ALIMENTAR, SEGUNDO ONU

 

Um relatório das Nações Unidas de julho também se ocupou do tema e concluiu que, no Brasil, 61,3 milhões (cerca de 3 em cada 10 habitantes) convivem com algum tipo de insegurança alimentar, sendo que 15,4 milhões se encontravam em insegurança, passando fome, no período de 2019 e 2021.

 

Pelos países com dados comparáveis relacionados pela ONU, o Brasil é o que tem mais pessoas em algum grau de insegurança alimentar (moderada ou grave) nas Américas e o quinto no mundo, no período.

 

O relatório também aponta um aumento significativo na comparação com o período de 2014 a 2016, quando 37,5 milhões passavam por algum nível de insegurança alimentar e 3,9 milhões enfrentavam o nível grave.

POR QUE AS PESQUISAS NÃO SÃO COMPARÁVEIS

 

Embora essas pesquisas tratem do mesmo tema, as metodologias são diferentes, o que impede a comparação entre elas.

A pesquisa da Rede Pensann é uma amostra de domicílios usando quatro categorias de gravidade da insegurança alimentar: segurança alimentar, insegurança alimentar leve, insegurança alimentar moderada e insegurança alimentar grave.

 

Já a do Datafolha é uma amostra com a população brasileira adulta (16 anos ou mais). Outro ponto é que, no Datafolha, a resposta se dá pelo que o entrevistado entende por "falta de comida", em uma única pergunta.

 

A estimativa da ONU, por sua vez, é baseada na Escala de Experiência de Insegurança Alimentar e considera duas categorias: insegurança alimentar moderada ou grave (combinada) e apenas insegurança alimentar grave.

A FOME NAS ELEIÇÕES

 

Falta de comida, carestia e queda do poder de compra dos brasileiros se tornaram tópicos importantes na eleição deste ano. Enquanto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) busca fazer o eleitor puxar pela memória as medidas tomadas durante os governos petistas para aplacar a fome, a campanha de Bolsonaro deve mencionar a pandemia e a Guerra da Ucrânia para justificar a piora de indicadores.

 

O presidente também tem citado o aumento recente para R$ 600 do Auxílio Brasil —que substituiu o Bolsa Família— como um escudo contra o aumento da fome.

 

Reportagem da Folha de S.Paulo, no entanto, mostra que a inflação tem corroído o 'efeito-Auxílio', e o aumento, que vale até o fim do ano, ainda não se percebe tão claramente, sobretudo em bolsões de pobreza.

 

Outra reportagem recente mostrou como o incômodo com o aumento da fome tem mobilizado o governo. Um estudo assinado pelo atual presidente do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), Erik Alencar de Figueiredo, contestava pesquisas recentes que apontam o aumento no número de brasileiros em situação de insegurança alimentar ou com fome.

 

O argumento dele era que o aumento da fome deveria ter resultado em um "choque expressivo" no aumento de internações por doenças decorrentes da fome e da desnutrição, além de um número maior de nascimentos de crianças com baixo peso. A conclusão, no entanto, foi criticada por outros especialistas no tema.

 

Apesar das medidas do governo tomadas às vésperas da eleição, a alta dos preços continua a afetar a população mais pobre, já que mesmo que gasolina e energia elétrica tenham dado alívio, a inflação do grupo de alimentação e bebidas se aproximou novamente de 15% no acumulado de 12 meses até julho, de acordo com o IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).

ENTENDA O CASO

 

Piora da fome

O estudo assinado por Figueiredo contesta o aumento do número de brasileiros em situação de insegurança alimentar

 

Insegurança alimentar

Essa situação ocorre quando a pessoa não tem plano acesso alimentos em quantidade e qualidade adequados

 

125,2 milhões de brasileiros

Esse é o número de pessoas com algum grau de insegurança alimentar; um aumento de 60% na comparação com 2018

 

Fome x internações

O presidente do Ipea conclui que as internações decorrentes de má nutrição deveriam ter aumentado nos últimos anos

 

Falta comida e falta garantia de alimentação

Para especialistas, a premissa é equivocada; o Brasil vive um aumento na fome e na insegurança alimentar, mas não situação de fome crônica

 

Efeitos de médio e longo prazo

Os efeitos da falta de alimentação adequada não aparecem rapidamente; eles têm efeito mais visível nas crianças até cinco anos, mas debilitam as pessoas no decorrer de meses e anos


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