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Estado de Minas

Bolsonaro faz duros ataques a Lula em discursos em Minas Gerais

Durante campanha em Divinópolis e Contagem, presidente também reforça sua pauta contra aborto e drogas


24/09/2022 04:00 - atualizado 24/09/2022 00:15

Jair Bolsonaro (PL), presidente da República e candidato à reeleição, durante discurso em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas
''O Brasil é um país livre, vocês sabem que vocês estão tendo, cada dia mais, a sua liberdade ameaçada por um outro poder, que não é o Poder Executivo, e nós sabemos que devemos colocar um ponto final nesse abuso que existe da parte de um outro poder'' - Jair Bolsonaro (PL), presidente da República e candidato à reeleição, durante discurso em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A.PRESS)

O presidente Jair Bolsonaro (PL) esteve em Divinópolis, no Centro-Oeste de Minas, e Contagem, na Região Metropolitana de Belo Horizonte, ontem, na quarta visita ao estado, segundo maior colégio eleitoral do país, desde o início de sua campanha pela re-   eleição. A poucos dias do primeiro turno, o chefe do Executivo reafirmou que vencerá já em 2 de outubro, como vem falando nos últimos dias, e intensificou os ataques ao seu principal adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), chamando-o de “ladrão” nos discursos nas duas cidades. Também repetiu suas pautas de costumes contra a liberação do aborto e das drogas e contra a ideologia de gênero. “Vocês querem à frente da Presidência um ladrão da República?”, declarou ele em Divinópolis, onde também atacou ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Depois de visitar Juiz de Fora, Belo Horizonte e Betim desde quando a Justiça Eleitoral autorizou a campanha, Bolsonaro desembarcou por volta do meio-dia de ontem em Divinópolis, terra do deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC), candidato ao Senado. Do lado de fora do aeroporto, centenas de apoiadores o esperavam e, na sequência, partiram em motociata com ele em direção ao Centro da cidade, onde milhares de pessoas o aguardavam na Praça do Santuário. Lideranças políticas também receberam o presidente na chegada a Minas.

Bolsonaro discursou durante cerca de 20 minutos aos apoiadores, que vestiam verde e amarelo, boa parte com camisas da Seleção Brasileira ou com o rosto do candidato. “Nós, mais do que queremos, nós desejamos o contrário. Nós somos a maioria, nós venceremos em primeiro turno. Não existe eleição sem povo nas ruas, a gente não vê nenhum dos outros candidatos fazer um comício sequer que se aproxime a 10% do povo que tem aqui. Democracia é vontade do povo, democracia é o candidato, é o presidente manter sua lealdade para com seu povo”, declarou.

Na última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, Bolsonaro aparece na segunda posição, com 33% das intenções de voto. Lula lidera, com 47%. Considerando apenas os votos válidos, a pesquisa aponta chances de vitória do petista no primeiro turno.

JUSTIÇA 


O Poder Judiciário voltou a ser alvo de Bolsonaro em Divinópolis. O presidente evitou citar nomes, mas não deixou de fora os ataques à Justiça como um poder que, segundo ele, excede os limites de sua atuação e “joga fora das quatro linhas”. Ele falou sobre o corte do sinal da emissora CNN na Nicarágua e associou o governo do país da América Central a Lula.

Na sequência, o chefe do Executivo disse que há risco para a liberdade no Brasil. “O Brasil é um país livre, vocês sabem que vocês estão tendo, cada dia mais,  a sua liberdade ameaçada por um outro poder, que não é o Poder Executivo, e nós sabemos que devemos colocar um ponto final nesse abuso que existe da parte de um outro poder”, afirmou. O STF foi mencionado devido à nova escolha de ministros que o presidente eleito fará em 2023, quando Ricardo Lewandowski e Rosa Weber completarão 75 anos e terão de se aposentar compulsoriamente. Em seu atual mandato, Bolsonaro já indicou Kassio Nunes Marques e André Mendonça.

Sob aplausos, Bolsonaro disse que se recusa a discutir a questão do aborto e colocou o tema como fator para a escolha de dois ministros do STF, caso seja reeleito. “Nós não vamos discutir aborto no Brasil. Não se esqueçam, quem se eleger presidente este ano indica dois para ocupar o Supremo Tribunal Federal no ano que vem. Podem ter certeza, em eu sendo re- eleito, esses dois que irão pra lá jamais serão favoráveis ao aborto também”.

Qualquer menção ao STF gerava vaias instantâneas entre os apoiadores que ouviam o discurso de Bolsonaro. O público, no entanto, não carregava cartazes ou faixas com mensagens de ataque ao Judiciário ou a membros da corte mais visados pelos seguidores do presidente, como os ministros Alexandre de Moraes e Luís Roberto Barroso.

PETISTA 

Principal adversário de Bolsonaro na disputa presidencial, Lula foi constantemente lembrado pelos apoiadores do presidente, seja na espera pela chegada ao aeroporto ou à praça. O presidente focou boa parte de seu discurso em ataques ao petista, se referindo a ele repetidas vezes como ‘ladrão’, ao que seus apoiadores repetiam em coro.

Bolsonaro focou em pautas de costumes ao falar sobre Lula. Temas como aborto, drogas, ideologia de gênero e religião foram recorrentes durante discurso em Divinópolis. “Eu acordo todos os dias e tenho uma rotina, eu me ajoelho, rezo um pai-nosso e peço ao nosso Deus para que nosso povo não sinta um dia as dores do comunismo. No dia 2 agora teremos uma grande decisão pela frente, o que vocês querem para o futuro dos seus filhos. Querem alguém na Presidência que desrespeite a família brasileira? Vocês querem alguém na Presidência que diz que vai liberar as drogas para os nossos filhos? Nós queremos à frente da Presidência quem é favorável à ideologia de gênero? Vocês querem alguém que não respeita a propriedade privada? Vocês querem à frente da Presidência um ladrão da República?”, disse logo no início do pronunciamento.

Críticas a Lula foram a tônica também dos discursos de outros nomes que falaram no palanque de Bolsonaro, como o candidato ao Senado Cleitinho Azevedo (PSC) e Nikolas Ferreira (PL), candidato a deputado federal.

NOVA VINDA À CAPITAL

Nome do PL na disputa pelo governo de Minas, o senador Carlos Viana limitou sua presença em Divinópolis, no Centro-Oeste mineiro, à recepção ao presidente Jair Bolsonaro no aeroporto. Com compromissos de campanha no Norte do estado, ele disse que trabalha com a campanha de Bolsonaro para mais uma visita do presidente a Belo Horizonte antes do primeiro turno das eleições, em 2 de outubro. “As pesquisas mostram que em Minas Gerais vamos dar uma grande vitória para Bolsonaro. Estamos insistindo para ele, Bolsonaro, ter mais uma agenda em Belo Horizonte antes do dia 2, não está confirmado, mas hoje [ontem] a gente pode tentar definir isso de uma vez com o presidente”, disse Viana.

Apoio de mulheres no Centro-Oeste

O voto feminino é uma pedra no sapato na campanha que tenta reconduzir o presidente Jair Bolsonaro ao Palácio do Planalto. A última pesquisa Datafolha aponta que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ampliou sua vantagem sobre Bolsonaro entre as mulheres. O petista subiu 3 pontos percentuais e aparece com 49% das intenções de voto neste recorte, enquanto o atual presidente estagnou nos 29%. O cenário das pesquisas é rechaçado por apoiadoras que foram ao ato de campanha de Bolsonaro em Divinópolis. Antes de discursar, o presidente recebeu uma sacola de presentes do grupo feminino Bolsolindas. A lembrança não foi citada durante o discurso, que não teve uma atenção focada no voto das mulheres.

A jornalista Denise Pereira faz parte do grupo que presenteou Bolsonaro. Para ela, o presidente é alvo de desinformação quando seu comportamento é apontado como fator que afasta mulheres de sua base eleitoral. “Na verdade, o que se espalha por aí são fake news do consórcio da mídia, como dizem na Jovem Pan. Bolsonaro criou mais de 70 programas, que direta ou indiretamente favorecem as mulheres. Na verdade há toda uma falácia de quem quer derrubar a candidatura dele em dizer que ele não fez nada”.

A vendedora Cristhisen Nazaré foi ao ato com o marido, Ronald, e as duas filhas, Emily e Eduarda, e disse que acha que a composição feminina é relevante entre os eleitores de Bolsonaro. “A maioria das pessoas que votam nele, acho que é mulher. Eu acho que ele tem carinho pelas mulheres, ele sempre tratou as mulheres bem, ele aumentou a rigidez da Lei Maria da Penha. Achei perfeito o comício hoje, ele falou com poucas palavras, mas falou bonito.”

A dentista Lilian Cardoso foi de Arcos, cidade vizinha, para ver Bolsonaro ao vivo pela primeira vez. Ela também acha que a indisposição do presidente com as mulheres não se confirma na prática. “Isso é intriga da oposição, ele é a favor das mulheres, ele ajudou muito com esse Auxílio Brasil e as mulheres estão com ele. Quem fala que não são pessoas mal-informadas que estão usando isso contra ele. As mulheres que têm estudo não têm esse tipo de pensamento. O fato de ele ser incisivo nas coisas que ele fala não incomoda a gente.”

Sem capacete

Sem capacete
Sem capacete (foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A.PRESS)

O deputado estadual Cleitinho Azevedo (PSC), candidato ao Senado, que tem seu berço político em Divinópolis, acompanhou de perto a visita do presidente Jair Bolsonaro à cidade. Ele, inclusive, foi na garupa de Bolsonaro, ambos sem capacete, na motociata entre o aeroporto e o Centro da cidade. Com forte componente religioso, o discurso de Cleitinho também foi marcado por apelos pela reeleição do presidente. “Lá no Senado, para fazer mal a ele [Bolsonaro], vai ter que passar por cima de mim”, disse. Durante seu discurso, Bolsonaro retribuiu abraçando Cleitinho e afirmando que, assim como ele, o candidato ao Senado é criticado por ser muito “explosivo”, mas está “aprendendo e evoluindo.”



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