Ipatinga – O presidenciável do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, aproveitou comício ontem em Ipatinga, no Vale do Aço, para pedir votos a Alexandre Kalil (PSD), que concorre ao governo com seu apoio. Para defender o embarque de seus eleitores na campanha do ex-prefeito de Belo Horizonte, Lula criticou o governador Romeu Zema (Novo), candidato à reeleição. “Vocês se lembram de alguma obra importante que o governador fez aqui em Minas Gerais?”, perguntou ao público do ato. Durante discurso em palanque montado no Parque Ipanema, ao lado do Estádio Ipatingão, o líder das pesquisas de intenção de voto na corrida ao Palácio do Planalto endossou, ainda, a candidatura à reeleição do senador Alexandre Silveira, filiado ao PSD, e prometeu viabilizar a duplicação da BR-381, caso eleito.
“Não costumo chegar a nenhum estado e falar mal do governador, porque não conheço, não sei quem é e nunca conversei. Acho que não tenho direito de chegar em Pernambuco, no Acre ou em Minas Gerais e falar mal do governador. A única que posso dizer: vocês se lembram de alguma obra importante que o governador fez aqui em Minas Gerais?”, disse Lula. O candidato a presidente, então, elogiou o aliado Kalil, de quem esteve ao lado nos 30 minutos em que discursou. “Se o atual governador fez todas as obras que vocês sonhavam que deveriam ser feitas, tudo bem. Mas, se não fez, temos um cara que, em apenas quatro anos, fez uma revolução em Belo Horizonte cuidando do povo da capital”.
Quando falou de Zema, Lula cobrou uma resposta do PT mineiro a recorrentes declarações do governador em tom crítico ao petista Fernando Pimentel, seu antecessor no cargo. “A única coisa que soube que o atual governador faz é criticar o PT”, disparou. Nesta semana, à “Folha de S. Paulo”, o político do Novo chegou a afirmar que o PT “é o que há de pior na política do Brasil”.
Lula afirmou “dever favores” a Minas e prometeu escutar as demandas do estado caso vença as eleições. “Minas Gerais pode contar comigo. É o estado que me acolhe em todas as regiões”. Disse ainda que “quero ser eleito no estado de Minas Gerais. Tenho certeza que vocês não irão se arrepender. Virei várias vezes conversar com vocês”. Ao tratar dos compromissos, ele mencionou a conclusão da obra de duplicação da BR-381. “Vamos fazer a estrada e transformar a atual ‘estrada da morte’ na’ estrada da vida’, para que vocês possam ter segurança quando saírem para passear com a família”, garantiu, em menção ao apelido que a rodovia ganhou por causa dos sucessivos acidentes automobilísticos.
Segundo o petista, a formação de uma coalizão no Congresso Nacional é importante para acelerar as pautas do governo federal. Por isso, defendeu Alexandre Silveira como o candidato de seu grupo político ao Senado. “Um senador é muito poderoso para atrapalhar e para ajudar o governo. Vocês sabem que nós temos minoria lá em Brasília. Portanto, queria pedir a vocês – se eu não confiasse eu não estaria pedindo: nosso senador, nesta eleição, é Alexandre Silveira”.
Antes de liderar o comício no Parque Ipanema, Lula concedeu rápida coletiva de imprensa em um hotel de Ipatinga. Lá, o ex-presidente, que torce para o Corinthians, mas em Minas é simpatizante do Cruzeiro, utilizou o futebol para sustentar a aliança com o ex-prefeito de BH. “Estou convencido que, se Kalil conseguir cuidar do povo mineiro com o carinho que cuidou do Atlético Mineiro nos bons tempos do Atlético, vai ser tudo de bom para nós”. Presidente do Galo entre 2008 e 2014, Kalil venceu a Copa Libertadores da América em 2013 e a Copa do Brasil no ano seguinte.
‘Voltar para consertar' Durante a conversa com os jornalistas, Lula utilizou a palavra “reconstrução” para nortear as ideias que encampa nesta campanha. No comício, o termo foi “consertar”. Ele pregou a abertura de linhas de crédito a pequenos empresários como forma de gerar empregos e renda. “Quero voltar para consertar este país e melhorar a vida do nosso povo. Não é possível um país deste tamanho ter gente passando fome. Não é possível o estado de Minas Gerais ter mais de 1,2 milhão de pessoas passando fome”, protestou.
Lula voltou a tachar de “genocida” o presidente Jair Bolsonaro (PL), mas repetiu a estratégia de chamá-lo a partir de alternativas como “esse cidadão”. O candidato afirmou, ainda, que a população em situação de vulnerabilidade “não quer viver de favor do governo”, mas “às custas da profissão”. “Pobre não nasceu para ser só faxineiro e pedreiro. Pobre quer ser engenheiro, médico. Quero acabar com essa história de as pessoas pensarem que a gente gosta de ser pobre. Ninguém gosta de ser pobre, de se vestir mal, de morar mal e de não ter estudado”.
Houve tempo para uma homenagem a Chico Ferramenta, quadro histórico do PT e prefeito de Ipatinga por duas vezes — a última, entre 1997 e 2004. Debilitado, o sindicalista foi levado à frente do palco em uma cadeira de rodas pela esposa Cecília, também ex-prefeita da cidade. “O Vale do Aço tem muito a ver com a minha história. Vim muitas vezes a portas de fábricas, não apenas na Usiminas, mas em João Monlevade, Coronel Fabriciano e Timóteo, sempre acompanhado de um companheiro que está aqui, um pouco debilitado: Chico”, agradeceu Lula.
Lembrando Brizola Antes do discurso de Lula, aliados do petista se revezaram ao microfone. A ex-presidente Dilma Rousseff (PT) pôde falar a plateia e lembrou dos tempos em que foi filiada ao PDT, partido que disputa o pleito nacional deste ano por meio da candidatura de Ciro Gomes. Em meio às recorrentes críticas de Ciro a Lula, Dilma criticou o pedetista e, para isso, recorreu ao fundador do PDT.
“Leonel de Moura Brizola jamais iria para Paris. No dia 2 de outubro, se ele fosse vivo, estaria votando no presidente Luiz Inácio Lula da Silva”, assegurou Dilma. Além de outras lideranças locais, como o candidato a vice-governador na chapa de Kalil, André Quintão, e o deputado federal Reginaldo Lopes, coordenador da campanha de Lula em Minas – ambos do PT –, o palanque teve nomes nacionais, como o ex-ministro Aloízio Mercadante (PT) o senador Randolfe Rodrigues e (Rede-AP). Primeiro a discursar, o parlamentar traçou um paralelo entre a Inconfidência Mineira e os tempos atuais e chamou Bolsonaro de “canalha fascista”.