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Estado de Minas ELEIÇÕES 2022

Os rumos do país no voto de 10 cidades mineiras

Bolsonaristas acreditam em bons resultados em MG e esperam mais visitas do presidente. Petistas apostam no voto útil para vencer no 1º turno, mas mantêm cautela


25/09/2022 04:00 - atualizado 25/09/2022 07:29

Bolsonaro
Bolsonaro comandou na sexta-feira motociata em Divinópolis, cidade em que obteve 65% dos votos no segundo turno em 2018. No mesmo dia, Lula fez comício em Ipatinga, onde venceu em 2002 com 71% dos votos válidos (foto: Tulio Santos/EM/D.A PRESS )
Lula
(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS )
 
 
 
A mais recente pesquisa do Instituto F5 Atualiza Dados, divulgada ontem com exclusividade pelo Estado de Minas – registrada na Justiça Eleitoral com os códigos MG-06101/2022 e BR-05736/2022 – aponta que Lula lidera em Minas com 47,3%%, contra 35,9% de Bolsonaro. Apesar dos resultados, os apoiadores do presidente mantêm a confiança em bom resultado no estado. “Temos observado uma grande movimentação dos grupos de apoio e principalmente uma percepção de que o governo acertou nas últimas medidas ligadas ao combate à inflação, redução do preço da gasolina”, diz o senador Carlos Viana (PL), que disputa o governo estadual com o apoio de Bolsonaro.

A importância de Minas na disputa está na ponta da língua dos liberais. Segundo Bruno Engler, há a expectativa por novas visitas do presidente. “Em um eventual segundo turno, em alguns lugares que têm uma grande densidade populacional, vale a pena refazer a visita. Mas é também uma oportunidade de diversificar os locais. Quem faz o planejamento do cronograma é a campanha nacional; aqui a gente ajuda a organizar na ponta da linha”.
 

Do lado petista, o estímulo ao voto útil é um dos motivos que fazem existir a crença em triunfo já no primeiro turno. “Há muita gente pensando em votar em Ciro Gomes (PDT) ou Simone Tebet (MDB) no primeiro turno, mas em Lula no segundo. Pode ocorrer, da parte dos eleitores desses candidatos que têm simpatia por Lula e dispostos a votar nele no segundo turno, a fazer a opção pelo voto já no primeiro turno”, acredita Cristiano Silveira.
 

Apesar da possibilidade, estimulada por levantamentos de intenção de voto, a direção do PT prega cautela e trabalha de olho no segundo turno. “Quem quer ser campeão não pode escolher adversário e nem o tempo do jogo”, fala o dirigente.

MICROCOSMOS “Isso é um dado, todo mundo que ganha eleição, ganha em Minas. A única explicação plausível para isso é que Minas é uma espécie de microcosmos do Brasil”, aponta o pesquisador Carlos Ranulfo. Para o professor da UFMG, a heterogeneidade do estado e a consonância de algumas regiões com territórios limítrofes fazem com que Minas seja um bom termômetro para medir quem vai levar a melhor no cenário nacional.

“O estado de Minas Gerais tem muitas relações com outros pontos do país. As regiões mais ao Norte têm algo de nordestino; as regiões de Poços de Caldas e Pouso Alegre são muito influenciadas por São Paulo; Juiz de Fora é mais carioca. O Triângulo Mineiro é uma região à parte: pela questão do agro, tem influência tanto de São Paulo como do Centro-Oeste. São regiões muito distintas”, explica.

Ainda que existam características marcadas por região, elas não são profundamente enraizadas, como bem revela a alternância na escolha presidencial nas 10 cidades elencadas pela reportagem. A possibilidade de variação de candidato e partido amplia a percepção de Minas como um estado-chave para as campanhas eleitorais. É difícil contar com um voto ‘garantido’ por recorte geográfico, mesmo que existam tendências e preferências históricas.

“Tem eleição que o PT venceu em todas, tem eleição que perdeu em todas. Não há um alinhamento automático das regiões. Mesmo no Norte de Minas, Bolsonaro ganhou tudo em 2018. Governador Valadares, por exemplo, é uma região hostil ao PT. Ou seja: mesmo dentro das regiões há uma heterogeneidade. A Dilma perdeu para o Serra em Valadares e ganhou em Teófilo Otoni. Em 2014, a mesma coisa contra o Aécio”, ressalta Ranulfo.

LULÉCIO Se Lula e Bolsonaro foram hegemônicos nas 10 cidades apontadas na reportagem em 2002 e 2018, respectivamente, o cenário foi bastante diferente em 2014. Na eleição mais apertada desde a redemocratização, Dilma Rousseff levou a melhor em Minas, mas o recorte regional mostra como a vitória petista não se deu de forma tranquila.

Das 10 cidades usadas como modelo, Dilma venceu o segundo turno em seis, mas ultrapassou 60% da preferência do eleitorado apenas em Montes Claros e Juiz de Fora.  Aécio Neves (PSDB), adversário da petista no confronto direto, levou a melhor em quatro cidades. Três delas – Pouso Alegre, Poços de Caldas e Governador Valadares – já apresentavam um histórico de rejeição ao PT. Em Ipatinga, no entanto, o tucano conseguiu impor ao partido rival a sua primeira derrota desde a eleição de 1998, quando FHC levou a melhor sobre Lula por pouco mais de 2 pontos percentuais.

Ao Estado de Minas, na semana passada, Aécio atribuiu a derrota em seu estado natal à prevalência do PT no Norte de Minas e nos vales do Mucuri e do Jequitinhonha. De acordo com o deputado federal, candidato à reeleição, a influência dos programas de transferência de renda foi crucial no resultado eleitoral. Em 2006 e 2010, houve “dobradinha” entre PSDB e PT no estado, com Lula e Dilma vencendo para a Presidência, mas Aécio e Antonio Anastasia sendo conduzidos ao governo, em fenômenos chamados de “Lulécio” e “Dilmasia”. O cenário, contudo, mudou em 2014. “Quando teve que votar entre um e outro, que éramos nós (PSDB) contra o PT, (o eleitor) optou pelo estômago, pelo Bolsa-Família. Isso foi no Nordeste, foi em Minas. Não perdi a eleição para a Dilma; perdi para o Bolsa-Família”, avaliou.

Segundo Aécio, assim como o Nordeste brasileiro, parte do Norte mineiro e dos vales do Jequitinhonha e Mucuri sofrem forte influência dos programas de transferência de renda. Para o tucano, as medidas do tipo são creditadas prioritariamente ao PT. “O Bolsa-Família é a junção do Bolsa Escola e do Bolsa Alimentação, que vieram do governo do PSDB. Mas o presidente Lula ampliou e soube capitalizar isso”.

 
Talita Oliveira: arrependimento com Bolsonaro
(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS )
Sebastião Vieira: Bolsonaro ajuda os pobres
(foto: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS )
Maria Zélia: voto em Lula nunca mais
(foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS )
Hélio dos Santos: crença na vitória do petista
(foto: TÚLIO SANTOS/EM/D.A PRESS )
 

Eleitores divididos sobre quem ganha

 
Nas ruas de Ipatinga, onde a reportagem esteve na sexta-feira, por causa do comício de Lula na cidade, é possível constatar a polarização da disputa presidencial. De um lado, há eleitores convictos da vitória do petista; do outro, os que estão certos da necessidade de reeleger Bolsonaro. Em meio aos decididos, contudo, existem os arrependidos. É o caso da técnica de enfermagem Talita Oliveira, que escolheu o capitão reformado em 2018, mas agora diz que, se houver segundo turno, caminhará com Lula. “Não vejo mais Bolsonaro como presidente. Quando votei, vi que poderia haver uma melhoria no Brasil, mas me enganei”, diz ela, sentada em um dos bancos da Praça 1º de Maio, que fica nas proximidades da sede da prefeitura ipatinguense.

Talita vota em Belo Oriente, cidade que fica a 45 quilômetros de Ipatinga, onde trabalha. A profissional de saúde vai digitar o número de Ciro Gomes (PDT) no primeiro turno, mas não esconde a decepção com o atual presidente. Segundo ela, a vitória bolsonarista fez com que alguns apoiadores do chefe do Executivo federal ficassem “agressivos”. A escolha por Lula, afirma, é para “tirar Bolsonaro”.

A insatisfação de Talita vai de encontro ao relato do taxista Sebastião Vieira, que não se arrepende do voto em Bolsonaro quatro anos atrás. “Gosto muito do modo explosivo dele. O que ele tem de falar, fala e faz mesmo. Gosto da administração de Bolsonaro. Ele não deixa para depois.” Para defender o presidente, o motorista citou medidas como o aumento para R$ 600 do Auxílio Brasil e os repasses financeiros feitos a categorias profissionais, como os caminhoneiros e os taxistas. Sebastião, inclusive, já sacou o benefício. “Você já viu um presidente ajudar tanto os pobres quanto ele?”, pergunta.

A doméstica Eignite dos Reis, contudo, tem visão distinta. Simpatizante do PT há várias eleições, ela apoia a volta de Lula ao Palácio do Planalto. 

“Ele olha mais para o lado das pessoas mais fracas, que não têm rendas muito boas”, afirma. Durante a conversa com a reportagem, Eignite ainda lembrou as gestões petistas em Ipatinga, por meio de Chico Ferramenta, prefeito por duas vezes – a última, entre 1997 e 2004.  “Foi (um governo) bom demais.”

Divinópolis A eleição de 2018 foi a primeira desde 1998 a terminar com derrota petista nas urnas divinopolitanas. A cidade do Centro-Oeste mineiro deu vitórias a Lula e Dilma, algumas com vantagem considerável, mas viu o cenário virar no pleito que levou Bolsonaro ao Planalto. Na sexta-feira passada, o Estado de Minas, na cobertura da viagem do candidato do PL a Divinópolis, procurou saber a expectativa dos moradores sobre a eleição na cidade: quem receberá mais votos na disputa pela Presidência.

Maria Zélia Guimarães, de 70 anos, votou em Divinópolis durante toda a vida e já esteve dos dois lados nas últimas eleições. Ela votou em Lula em 2002, quando o petista teve mais de 70% dos votos da cidade no segundo turno, mas nunca mais apertou 13 nas urnas desde então.

“Eu votei no Lula na primeira vez que ele ganhou, mas depois eu votei em outros candidatos. Veio o mensalão e eu passei a enxergar as coisas de um certo ponto. Acho que Bolsonaro tem feito muita coisa, ele se aproximou muito das pessoas, do povo, que estava precisando mesmo ter mais confiança no Brasil. Ele tirou essa pecha no mundo inteiro de que o Brasil é um país de gente corrupta”, disse a aposentada, que acredita em nova vitória bolsonarista em 2022. O atual presidente teve 65,17% dos votos divinopolitanos em 2018.

O pedreiro Hélio José dos Santos, de 52, já acha que neste ano o PT volta a ter maioria dos votos na cidade. “Moro em Divinópolis há 20 anos. Este ano, acho que aqui vai dar Lula. Por causa da pandemia, a questão das vacinas, o Bolsonaro andou atrasando as vacinas aqui para o Brasil, então o pessoal está muito focado nisso. O dinheiro afeta também, tem muita gente que acha que depois que o Bolsonaro entrou a classe média não consegue comprar um carrinho, entendeu? Então, tudo isso entra na balança”.

A pandemia também entra como fator de mudança de votos para a auxiliar de cozinha Deise Oliveira, de 29. Em um ponto de ônibus no Centro de Divinópolis, ela conversava com a cozinheira Sônia Maria e a auxiliar de serviços gerais Giovana Rodrigues. Todas declararam voto em Lula

“Morreu muita gente na pandemia e ele debochou demais, isso é muito feio. Lá em Manaus, teve aquela situação do oxigênio e ele disse que não era coveiro, imitou gente com falta de ar, pelo amor de Deus. Como votar em uma pessoa dessas? Não precisa votar em ninguém, mas isso também não dá pra levar”, disse Deise, que acha que o petista tem de adicionar Divinópolis em sua lista de destinos em um eventual segundo turno: “Se o Lula viesse aqui, acho que parava Divinópolis”. (BE/GP)


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