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Estado de Minas ESTRATÉGIA ELEITORAL

Com Lula, Kalil tenta nacionalizar disputa em MG e liga Zema a Bolsonaro

Candidato apoiado pelo PT na corrida pelo governo estadual aposta em peças de campanha que associam o político do Novo ao presidente da República


26/09/2022 20:02 - atualizado 26/09/2022 21:36

O presidente Jair Bolsonaro e o governador mineiro Romeu Zema
Zema e Bolsonaro caminharam juntos no segundo turno de 2018, mas estão em palanques distintos nesta eleição (foto: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press - 30/1/20)

A uma semana do primeiro turno da eleição, a campanha de Alexandre Kalil (PSD), candidato ao governo mineiro, decidiu investir em peças que nacionalizam a disputa estadual. Apoiado pelo presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-prefeito de Belo Horizonte tem levado à propaganda eleitoral na televisão e a seus canais na internet vídeos que associam o governador Romeu Zema (Novo), candidato à reeleição, ao presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesta segunda-feira (26/9), Kalil lançou um vídeo em que se define como "amigo do próximo presidente" - em menção a Lula.

O tom dos vídeos é de contraposição de projetos. A ideia é mostrar que Lula e Kalil trilham caminho oposto ao de Bolsonaro e Zema. Apesar da tentativa de associar o presidente ao governador, o político do Novo tem dado apoio a Luiz Felipe d'Ávila, candidato do seu partido a presidente.

"Qual Minas Gerais você quer? A do Zema e Bolsonaro, onde a fome cresce a cada dia, atingindo quase 2 milhões de mineiros? Ou você quer a Minas Gerais do Lula e Kalil, que cuida do nosso povo mais pobre?", diz o narrador de uma das propagandas audiovisuais da coalizão liderada pelo PSD.

Outra inserção recupera a postura crítica de Zema aos governos do PT. "Qual Minas Gerais você quer? A que o governador será inimigo do presidente Lula? Ou a Minas Gerais onde o governador e presidente jogarão juntos pelos mineiros?", pergunta o condutor do vídeo.

A segunda propaganda mostra trecho de entrevista concedida por Zema ao portal "g1" em agosto. À época, quando perguntado sobre a escolha que fará em eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro, o governador afirmou que não vota no PT.

Na semana passada, à "Folha de S. Paulo", Zema se esquivou sobre apoio a Bolsonaro, mas voltou a criticar os petistas. "Espero que (a eleição presidencial se) resolva no primeiro turno e, no segundo, apoiar o PT, te adianto que não apoiarei. Isso já está definido. Para mim é o que há de pior na política no Brasil", criticou.

Palanque com Lula serve para Kalil ligar Zema a Bolsonaro

A associação de Zema a Bolsonaro, feita por Kalil ainda no período pré-eleitoral, tem ganhado força gradativamente. Na sexta-feira (23/9), durante comício ao lado de Lula em Ipatinga, no Vale do Aço, o pessedista subiu o tom ao relacionar os candidatos à reeleição.

"Esta semana, parece que estamos datilografando a ordem de despejo dos dois (Zema e Bolsonaro). Vamos tirar os negacionistas, os insensíveis, aqueles que acham que o estado é zero, que o povo tem de se virar. Vou parafrasear o presidente Lula ontem (quinta-feira) no SBT: os dois não fazem p*rra nenhuma", bradou.

Na semana passada, pesquisa do Datafolha apontou redução de oito pontos na diferença entre Zema e Kalil. Segundo o levantamento, registrado junto à Justiça Eleitoral sob o número MG-08517/2022, o governador tem, agora, 48%, contra 28% do aliado de Lula.

Durante o discurso em terras ipatinguenses, Kalil chamou Zema e Bolsonaro de "insensíveis" e afirmou que eles são "iguais". "Ignoram professor, servidores. Não passa de uma calculadora sentada na cadeira de governador. Vamos tirar essa calculadora. Temos oito dias", pediu.

O candidato a vice na chapa de oposição ao governo de Minas, André Quintão (PT), falou que Zema é "aliado despistado" do presidente.

Embora evite falar mal às claras de Zema, Lula criticou o governador em Ipatinga. "Não costumo chegar a nenhum estado e falar mal do governador, porque não conheço, não sei quem é e nunca conversei. Acho que não tenho direito de chegar em Pernambuco, no Acre ou em Minas Gerais e falar mal do governador. A única que posso dizer: vocês se lembram de alguma obra importante que o governador fez aqui em Minas Gerais?", pontuou.

Lula disse, ainda, ter notícias de que "a única coisa" que Zema faz é "criticar o PT". Ele cobrou respostas da direção estadual do partido aos ataques. "Se o atual governador fez todas as obras que vocês sonhavam que deveriam ser feitas, tudo bem. Mas, se não fez, temos um cara que, em apenas quatro anos, fez uma revolução em Belo Horizonte cuidando do povo da capital", assinalou, em menção a Kalil.

Lula admite entraves em transferência de votos


Apesar do apoio de Lula, que lidera a etapa de Minas Gerais da disputa presidencial, Kalil corre o risco de ver Zema liquidar a corrida ao Palácio Tiradentes já no primeiro turno. Na semana passada, pesquisa do Instituto F5 Atualiza Dados*, divulgada com exclusividade pelo Estado de Minas, apontou que o governador tem 49,2% das intenções de voto, contra 31,9% do ex-prefeito.

Em que pese a distância, um cenário hipotético apresentado pelos pesquisadores do Instituto F5 ao eleitorado associa Kalil a Lula, e Zema a Felipe d'Avila. Bolsonaro, por sua vez, é relacionado a Carlos Viana, candidato do PL mineiro ao governo. Nesse cenário, Kalil toma a ponta e tem 44,2%, contra 38,1% de Zema e 9,7% de Viana.

Mesmo com o potencial que pode fornecer a Kalil, Lula pregou cautela durante a passagem pelo Vale do Aço. Ele, porém, mostrou confiança na reação do aliado.

"A transferência de voto não é uma coisa automática. Se fosse assim, seria muito fácil. Mas não é assim. É um processo de maturação. Estamos entrando na semana em que o povo está se definindo", opinou.

Os afagos de Bolsonaro a Zema

O apoio de Zema a Felipe d'Avila não tem impedido Bolsonaro de falar bem publicamente do chefe do poder Executivo mineiro.

"Se Viana não for ao segundo turno, e tiver um segundo turno (entre) Zema e Kalil, fico com o Zema. E tenho certeza de que, se houver segundo turno entre eu e Lula, Zema fica comigo. Queria que essa união, esse acordo, tivesse (acontecido) desde o início da campanha, e não para um eventual segundo turno", projetou, no início deste mês, em entrevista ao Correio Braziliense, dos Diários Associados.

Embora Viana já tenha classificado a gestão de Zema como "governo de fachada", Bolsonaro adota outra postura.

"Reconheço que Zema fez bom trabalho em Minas. Não vou criticar o Zema porque temos um candidato lá, que é o senador Carlos Viana, uma pessoa excepcional. Não tenho problemas com Zema - e acredito que ele não tenha comigo também, porque é uma pessoa muito leal e sincera. Mas tenho meu candidato lá", pontuou.

Governador falta a sabatina

Romeu Zema seria entrevistado hoje pelo Estado de Minas e pelo "Jornal da Alterosa", na TV Alterosa, mas, horas antes do início da conversa, avisou que faltaria ao compromisso. A sabatina do governador compõe uma série de conversas com candidatos ao Palácio Tiradentes, cuja ordem foi previamente definida em reunião com assessores das campanhas. Na nota que justifica a ausência, a equipe de Zema reforça a estratégia de tecer críticas a Fernando Pimentel (PT), seu antecessor no cargo.

"Neste momento da corrida eleitoral, a menos de uma semana da votação, estamos priorizando atividades de campanha. O foco é mostrar as nossas propostas e o que a gestão Romeu Zema (Novo) tem feito para consertar os estragos dos governos do passado", lê-se em trecho do comunicado.



Os Diários Associados, lamentaram a decisão de Zema. "Ao anunciar a desistência horas antes do início da entrevista, por meio de nota encaminhada pela assessoria de sua coligação, o candidato do Novo deliberadamente renuncia a um espaço destinado à apresentação de propostas de gestão e, no caso do governador, para prestação de contas do que foi realizado em quatro anos. Quem perde com a ausência de Zema não é apenas o eleitor. É o cidadão de Minas Gerais", lê-se em comunicado emitido após o anúncio da ausência.

*A pesquisa do Instituto F5 citada neste texto está registrada junto ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sob os números MG-06101/2022 e BR-05736/2022.


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