Primeiro aliado a se afastar do presidente Jair Bolsonaro (PL) ainda em 2019, Alexandre Frota (PSDB), deputado federal e candidato à Assembleia Legislativa de São Paulo (Alesp), vem trabalhando para uma eleição ainda em primeiro turno do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O candidato, que sempre se colocou como conservador, agora se enxerga como “centro-esquerda” e está disposto a lutar pelo fim da era bolsonarista.
Em conversa com o Estado de Minas, Frota, que foi eleito ao lado do presidente, enumerou os motivos que o fizeram largar a mão do chefe do Executivo federal, a quem ele classificou como “dissimulado, arrogante, hipócrita, falso moralista, falso conservador, traidor da nação e um verdadeiro charlatão político”.
“Eu me desliguei do bolsonarismo em maio de 2019, eu fui o primeiro, quando Bolsonaro ainda tinha 60% de aprovação. Eu tive muita coragem. Eu sofri diversas perseguições, foi muito difícil. Mas eu não me arrependo em nenhum momento. E, hoje, as pesquisas e as pessoas mostraram o quanto eu estava certo lá trás. Eu já venho liderando esse processo há muito tempo. Passei esses últimos anos como opositor de Bolsonaro”, explicou.
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“Eu não posso concordar com um governo que se demonstra ditador e extremamente desigual. O governo Bolsonaro não tem um projeto social de autoria própria. Me coloco como oposição, porque sei da minha responsabilidade. Não provoco. Falo da realidade. Não fico em cima do muro. Falar a verdade incomoda. Essa é a raiva dos bolsonaristas: é porque eu não me vendi, não me dobrei, não recebi propina, não estou no orçamento secreto e não aceitei me vender”, afirmou.
Frota disse ter percebido que Bolsonaro não caminhava certo a partir do momento em que o presidente acabou com o Ministério da Cultura. O deputado, que começou a carreira como ator, afirma ter se chocado ao se sentir traído pelo presidente. De acordo com ele, Bolsonaro tinha pedido para que ele indicasse membros para a nova Secretaria, e após suas escolhas, ele teria deixado de lado um projeto cultural e colocado interesses do ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL), agora candidato ao governo do Rio Grande do Sul, como prioridade.
“O Bolsonaro é um cara mentiroso. Eu tenho muitas decepções com ele. Uma das principais foi a maldade que ele fez com a classe artística, acabando com o ministério da Cultura. Ele me fez me expor, ao escolher um secretariado. Eu fiz isso a pedido dele. E, depois, ele e Onyx mudaram essa situação, sem me avisar. Me expondo com várias pessoas que eu havia conversado. Bolsonaro me deixou sozinho, falou: ‘se vira’. Então ele me traiu. Foi duas caras.”
Frota também citou outro momento da relação com o presidente em que se sentiu traído. Segundo ele, o presidente Jair Bolsonaro ligou para reclamar de uma declaração dada por ele (Frota) contra Fabrício Queiroz, ex-assessor do senador Flávio Bolsonaro (PSL-RJ). A declaração em questão foi um pedido feito pelo deputado, em plenário, para que o ex-assessor fosse preso.
“E quando eu expus a bomba do Queiroz, Bolsonaro me perguntou se eu queria ‘foder’ com ele. Se eu queria ‘foder’ o filho dele. Se eu queria ‘foder’ ele. Que eu tinha que fechar minha matraca. Que eu ia acabar com a família. E 10 minutos depois apareceu o Flávio Bolsonaro me falando: ‘Papai ta puto com você, como você pede a prisão do Queiroz?’. Mas aí eu pergunto: ‘Mas não é corrupção?’”, seguiu.
‘Guerra covarde’
Questionado sobre a escolha do ex-presidente Lula como candidato, Frota disse acreditar na vitória do petista ainda em primeiro turno. O deputado disse que vem estudando o país, e por isso, acredita que Lula é a melhor escolha nesse cenário.
“Tudo me leva a crer, que Bolsonaro, que um dia gritou que ‘pobre só serve para votar e pegar seu diploma de burro para colocar no bolso’, vai ser retirado da presidência pelas pessoas pobres, pelas pessoas que tão com fome, sem trabalho, que precisam que os filhos estudem sem corte para educação”, avaliou.
“O Brasil é um país soberano, o Bolsonaro não é dono do país. São as pessoas mais carentes, que precisam de ajuda, que vão tirar ele do poder. São as famílias que perderam seus entes queridos pela pandemia, por irresponsabilidade, que vão tirar ele do poder. Serão as mulheres, que são 52% desse país. São essas pessoas que vão dar uma resposta para Bolsonaro”, afirmou.
O deputado ainda pediu para que seus eleitores seguissem seu pensamento para a população conquistar um país melhor. “É uma guerra covarde, mas que vamos vencer”, explica.
‘Hora de separar homens dos meninos’
Depois que deixou o bolsonarismo de escanteio, Frota seguiu uma nova trajetória política com o PSDB. O deputado, que foi eleito pelo PSL, mesmo partido de Bolsonaro, chegou ao tradicional PSDB com status de estrela da companhia. Questionado sobre uma terceira via, que é apoiada pelo partido, Frota disse não acreditar na opção, já que para ele, a “terceira via já nasceu fadada ao fracasso”.
Para o deputado, a opção de uma terceira via foi esquecida pelas disputas de poder, vaidade e por falta de planejamento. Durante a entrevista, Frota chegou a avaliar que a conversa sobre um terceiro nome “começou tarde”. “Eu não acredito nessas candidaturas. Eu acho que baixa nessa época uma humildade. Pela primeira vez na vida vi a Simone Tebet (MDB) na feira, comendo pastel, tomando caldo de cana, colocando pé na lama e indo conhecer de perto a pobreza… nunca tinha visto ela fazer isso. Para mim, ela representa a elite brasileira”, afirmou.
Ao falar sobre a candidata do MDB, Simone Tebet, Frota disse admirar o trabalho da senadora no Senado, mas que sua admiração “parava por aí”. “Eu acho que não me soa bem. Acho plastificado. Ela não é do povo. Tem boa vontade, sabe? Luto pelas mulheres na política. Porém, não acredito nessa candidatura.”
Questionado sobre Soraya Thronicke, candidata do União Brasil, Frota brincou com o apelido da também senadora. “Já a Soraya, eu vi que ela bate no Bolsonaro e se lançou como uma onça. Já temos a Juma de Pantanal. Não precisa de mais uma. Precisamos de alguém que trabalhe no país. Ela já entrou derrotada, já sabendo que não ia ganhar.”
Ao avaliar Ciro Gomes (PDT), Frota demonstrou admiração pelo ex-governador do Ceará. Embora classifique o ex-ministro como um bom político, o deputado disse que Ciro chegou a "derrapar" diversas vezes. “Se ele não acordar ele vai terminar atrás da Simone Tebet. Ele deveria deixar a mágoa e pensar no Brasil. Deixar o projeto pessoal dele de lado. Podia fazer um grande ato pela democracia, trabalhando para tirar o Bolsonaro do poder. Ele tinha uma grande oportunidade nas mãos. Ele tem mágoa, decepção e raiva ,e para mim, acaba dando murro em ponta de faca. Essa é a hora de separar os homens pelos meninos.”
Candidatura a Alesp
Frota é candidato à Assembleia Legislativa de São Paulo após quatro anos na Câmara dos Deputados em Brasília. “Essa foi uma escolha fácil. Gosto de novos desafios. Tive uma conduta de muito trabalho. O principal fato é que eu tenho 58 anos de idade e uma filha de 3 anos. Quero ver minha filha crescer. Quero poder ficar no estado”, explicou.
O ator foi o parlamentar que mais encaminhou projetos de lei na atual legislatura. Ele apresentou 642 propostas, entre 2019 e o mês de setembro deste ano. Apesar da grande quantidade de propostas apresentadas, apenas três projetos de Alexandre Frota foram aprovados (todos em coautoria). Entre as ações do parlamentar estão a Lei Aldir Blanc (PL 1.518/2021), além de ações para os setor cultural durante a pandemia da COVID e ações para área jurídica.
Ao falar sobre seu trabalho na Câmara, Frota citou sua relação com o presidente Arthur Lira (PP-AL) e relembrou os desafios de trabalhar em Brasília.
“Minha relação com Arthur Lira é dia ‘Oi, bom dia, como vai?’. Eu não estou na mesa com Artur Lira para fazer acordos. Sou o deputado com maior número de projetos protocolados. Meu gabinete trabalha. Sou o primeiro a chegar e o último a sair. E sou o tempo todo sabotado. Eu não estou com Lira, não faço parte do Centrão, não faço parte da maracutaia e da jogatina”, classificou.
Para Frota, ele acabou ganhando eleitores ao se afastar da ala bolsonarista. “Porque não me vendi. Porque votei pelo povo. Por ter votado nas questões principais. Sou independente dentro da Câmara. Com meu trabalho, meu estudo e meu esforço. Eu tenho trabalhado muito”, concluiu.