Na semana decisiva das eleições, ex-ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) manifestam voto publicamente no embate entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL). Até o momento, o petista recebeu apoio de quatro deles, enquanto o atual chefe do Executivo garantiu apenas um - caso vá para o segundo turno.
Joaquim Barbosa
Aposentado em 2014, Joaquim Barbosa, relator do escândalo do Mensalão, declarou voto em Lula. Por meio de 12 vídeos sequenciais à campanha petista, ele mira no eleitorado indeciso e no voto útil daqueles que apoiam Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (PMDB), ainda dispostos a trocar de candidato.
O ex-ministro lembra que foi integrante do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e que, por ter composto a corte, assegura a segurança e transparência das eleições, além da capacidade de acompanhamento do processo, que não pode ser questionada. Ele ainda diz que Bolsonaro representa um risco à democracia e conclui dizendo que Lula é o único que pode derrotar o atual presidente, justificando o voto como forma de proteger a democracia.
“Nas grandes democracias, Bolsonaro é visto como um ser humano abjeto, desprezível, uma pessoa a ser evitada. Esse isolamento internacional é muito ruim para nosso país. Nós perdemos muitas oportunidades com isso. É preciso votar em Lula no primeiro turno para encerrar já essa eleição no próximo domingo”, afirmou Barbosa.
Celso de Mello
Celso de Mello seguiu o mesmo caminho de Barbosa e declarou voto em Lula no primeiro turno das eleições deste ano. O posicionamento foi feito por escrito ao coordenador do grupo de juristas Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, conforme informado pelo blog de Vera Magalhães.
Agora aposentado, Celso, que foi desde 2007 decano do STF, considera Bolsonaro como "a constrangedora figura e um político menor, sem estatura presidencial, de elevado coeficiente de mediocridade, destituído de respeitabilidade política, adepto de corrente ideológica de extrema-direita que perigosamente nega reverência à ordem democrática, ao primado da Constituição e aos princípios fundantes da República”.
Durante a época do julgamento do Mensalão, o decano foi um dos críticos mais duros com o Partido dos Trabalhadores, o que torna o apoio dele muito comemorado pelos apoiadores de Lula. Confira a carta na íntegra:
"A atuação de Bolsonaro na Presidência da República revelou a uma Nação estarrecida por seus atos e declarações a constrangedora figura de um político menor, sem estatura presidencial, de elevado coeficiente de mediocridade, destituído de respeitabilidade política, adepto de corrente ideológica de extrema-direita que perigosamente nega reverência à ordem democrática, ao primado da Constituição e aos princípios fundantes da República, e cujo comportamento vulgar, de todo incompatível com a seriedade do cargo que exerce, causou o efeito perverso de vergonhosamente degradar a dignidade do ofício presidencial ao plano menor de gestos patéticos e de claro (e censurável) desapreço ao regime em que se estrutura o Estado Democrático de Direito! Em defesa da sacralidade da Constituição e das liberdades fundamentais, em prol da dignidade da função política e do decoro no exercício do mandato presidencial e em respeito à inviolabilidade do regime democrático, tenho uma certeza absoluta: NÃO votarei em Jair Bolsonaro! É por tais razões que o meu voto será dado em favor de Lula no primeiro turno." (CELSO DE MELLO, ministro aposentado e ex-presidente do Supremo Tribunal Federal, biênio 1997-1999)
Carlos Velloso
Carlos Velloso, conhecido por ser um ‘entusiasta’ da Operação Lava Jato e que esteve no STF entre 1990 e 2006, também manifestou que está com o petista nestas eleições. Em carta enviada a Marco Aurélio Carvalho, coordenador do grupo de juristas Prerrogativas, ele fez críticas ao atual presidente.
"Diante das ameaças do candidato Bolsonaro contra o sistema eleitoral brasileiro, especialmente contra as urnas eletrônicas, reconhecidas aqui e no exterior como seguras e confiáveis, o que redunda em ameaça ao Estado Democrático de Direito, meu voto, no próximo domingo, será para o Lula", escreveu.
Nelson Jobim e Ayres Britto
O ex-presidente do STF e ex-ministro da Justiça Nelson Jobim reafirmou nesta quarta-feira (28/9) seu apoio à candidatura Lula/Alckmin. Apesar de não ter uma carta oficial, como os demais magistrados, a informação foi confirmada pelo G1.
A publicação assinada pela jornalista Andréia Sadi garante também apoio de Ayres Britto, que passou pela Corte entre 2003 e 2012. Até o fechamento da reportagem, não houve nenhuma manifestação do ex-ministro favorável ao petista, mas tudo indica que em breve será divulgado um vídeo dele.
Um indicador que leva a crer em uma breve manifestação de Britto é o de que sua esposa, Rita de Cássia, publicou esta semana em suas redes sociais um vídeo de artistas pedindo para virar o voto em Lula.
Marco Aurélio
Por fim, o único ex-ministro favorável a Bolsonaro é Marco Aurélio Mello, mas apenas no segundo turno em um embate com Lula. O magistrado disse não ser “bolsonarista”. Para ele, o petista ficou muito tempo no poder.
“Não imagino uma alternância para ter como presidente da República aquele que já foi durante oito anos presidente e praticamente deu as cartas durante seis anos no governo Dilma Rousseff [PT]. Penso que potencializaria o que se mostrou no governo atual, e votaria no presidente Bolsonaro, muito embora não seja bolsonarista”, disse em entrevista ao UOL.
No primeiro turno, o ex-ministro declarou voto em Ciro Gomes (PDT). “Reconheço que ninguém conhece mais o Brasil do que Ciro Gomes. Ele, às vezes, é um pouco açodado na fala, […], mas, paciência, creio que é um bom perfil”, disse.
O ex-ministro do STF foi indicado para ocupar a vaga no Supremo em 1990 pelo primo e então presidente Fernando Collor de Mello, hoje senador pelo PTB-AL e atualmente aliado de Jair Bolsonaro.