Candidatos do Pros de Minas Gerais reclamam que o partido só repassou o fundo eleitoral para políticos próximos ao deputado federal Weliton Prado, ex-presidente da sigla no estado e candidato à releição, e que deputados estaduais foram coagidos a confeccionar material de campanha em apoio ao parlamentar.
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Sargento Felipe, candidato a deputado federal, e o Sargento Jackson, candidato a deputado estadual, haviam acordado uma "dobradinha" durante a corrida eleitoral deste ano, afirmou Felipe. Entretanto, o material de campanha de Jackson veio "dobrado" com a imagem e o número de Weliton.
"O Evany ligou pra mim e disse que o Weliton Prado queria fazer dobradinha comigo. Eu aceitei. Eu chegando no partido, ele fala que quer fazer dobradinha comigo, se eu falasse que não, ia tesourar para mim tudo que é recurso. O partido é deles. Eu tenho mais é que ficar na minha", disse Jackson em mensagem para Felipe, citando o presidente do Pros em Minas Gerais, Evany Camelo da Rocha.
Weliton Prado afirma que ocorreu um erro na produção do material do Sargento Jackson que veio com a imagem dele e não do candidato que seria apoiado.
Também candidato à Assembleia Legislativa, Neimar Siqueira disse que foi questionado por Evany se ele apoiaria o deputado Weliton. Ele afirmou que poderiam conversar, mas, com o passar do tempo, acabou acertando apoio ao Sargento Felipe. Neimar diz ter recebido apenas a primeira parcela do que havia sido acordado. Segundo informações do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ele recebeu R$ 12,5 mil.
"Alguns candidatos estaduais receberam R$ 70 mil, R$ 100 mil. Outros candidatos não receberam nem um real, nem uma moeda de dez centavos", afirmou Neimar.
É o caso do candidato a deputado estadual Zé Lúcio.
"O presidente (do Pros) de Minas tratou comigo 20 mil (reais), no mínimo, e não me deu nada. Nem um santinho. (Ele) nem fala comigo, nem atende minhas ligações", reclamou o candidato. Ele afirmou não ter recebido "nem um centavo, nem um panfleto" e que o material feito foi com recursos próprios. No site do TSE, o valor destinado pelo partido para a campanha de Zé Lúcio foi de zero.
O candidato a deputado estadual Elismar Prado, irmão de Weliton, recebeu R$ 250 mil do fundo partidário.
Em um grupo com candidatos que se sentiram lesados pela concentração de recursos entre os apoiadores da família Prado, um político lamenta a situação e diz ter feito "compromissos que não poderá honrar" e disse que a situação é "pior que o laranjal do PSL". Sentimento partilhado pelo Sargento Felipe, "estou sem saber como vou pagar as pessoas que estão me apoiando".
A reportagem do EM contato com o presidente do Pros em Minas, Evany Rocha, mas ele não atendeu nem respondeu nossos contatos. Caso ele se manifeste, esta matéria será atualizada.
Weliton Prado
Candidato novamente a deputado federal pelo Pros, Weliton Prado recebeu quase R$ 3 milhões de verba proveniente do fundo partidário. Em conversa com um dos políticos, ele afirmou que usou "50% dele para os (candidatos) estaduais". O TSE aponta que até hoje o candidato usou R$ 400 mil.
Em contato com a reportagem, Weliton negou que tenha coagido qualquer candidato a fazer "dobradinha" com ele.
"Utilizei o recurso do meu fundo para produzir material de campanha para ajudar os estaduais. Jamais fiz isso (coagir)", afirmou. E prosseguiu: "Tenho votação expressiva. Estou ajudando a chapa a eleger mais deputados".
Sobre o recurso que não teria sido repassado aos deputados, o candidato disse que "o partido não assumiu compromisso de passar recursos para deputados estaduais".
"Qualquer coisa que tiver sido acordado com eles e não tiver sido cumprido, tem o meu apoio", se solidarizou Weliton.
Classificação racial
"Eu sou pardo. Cumpro a cota de pardo", afirmou Weliton Prado em áudio. Nas eleições de 2018 e 2014, quando o candidato concorreu, ele se autodeclarou como "branco" ao TSE.
"Sempre me declarei como pardo. Isso foi um erro na hora que o partido lançou, que só foi corrigido este ano", comentou Weliton.
Em 2020, o TSE decidiu que candidatos pardos ou negros devem receber recursos proporcionais na distribuição das verbas do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e do tempo de propaganda eleitoral gratuita. Ou seja, se metade dos candidatos se identificarem dessas formas, eles devem receber metade dos recursos.
O Congresso também aprovou, em 2021, que siglas com candidatos negros que sejam bem votados recebam mais verba. A votação de negros e pardos será contada em dobro para a distribuição do fundo eleitoral até 2030.