Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES 2022

Polarizado entre Lula e Bolsonaro, país vai hoje às urnas

Mais de 156,4 milhões de brasileiros vão às urnas hoje escolher o próximo ocupante da Presidência da República, 27 governadores estaduais, 27 senadores, 513 deputados federais e 1.035 parlamentares estaduais. No plano nacional, a eleição, que ocorre das 8h às 17h, no horário de Brasília (DF), opõe o candidato à reeleição Jair Bolsonaro (PL) ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).



É a primeira vez que um ocupante e um ex-ocupante do Palácio do Planalto se enfrentam pela chefia do governo federal. Primeiros colocados nas pesquisas de intenção de voto desde o ano passado, Lula e Bolsonaro deixaram para trás as forças políticas que tentaram construir a chamada “terceira via” e devem coroar a dominância hoje, fazendo uma espécie de segundo turno antecipado.

Levantamentos divulgados ontem apontam vantagem para o petista. No Ipec, Lula chega a ter 51% dos votos válidos, mas a margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos, faz com que os responsáveis pelo instituto afirmem ser impossível dizer se um confronto direto entre as chapas de PT e PL vai ser necessário.

Para o Datafolha, em que Lula tem metade das manifestações válidas, o segundo turno também é incógnita.

Se a disputa presidencial dependesse única e exclusivamente de Minas, Lula seria eleito hoje. Isso porque, segundo o Ipec, o concorrente do PT tem 55% dos votos válidos no estado, contra 34% de Bolsonaro. O percentual de Lula representa crescimento de dois pontos em relação à última pesquisa regional do instituto, divulgada na terça-feira. Do outro lado, o atual presidente se manteve estável.



O avanço do petista pode, inclusive, ajudar a ditar os rumos da eleição estadual – isso porque aliados de Alexandre Kalil (PSD), candidato ao governo mineiro com o apoio de Lula, creem que o ex-prefeito de BH pode ganhar fôlego na reta final a reboque do aliado e, assim, forçar um segundo turno contra Romeu Zema (Novo), candidato à reeleição e líder de todas as sondagens.

A campanha de Lula apostou as últimas fichas em um movimento em prol do “voto útil”. Sob mote que aponta necessidade de derrotar Bolsonaro já no primeiro turno, aliados do ex-presidente passaram a defender o embarque, na coligação petista, de eleitores que, inicialmente, pensavam em optar por Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB).

Do outro lado da arena, Bolsonaro apostou na agenda de costumes em busca de reagrupar, em sua base eleitoral, os cidadãos que priorizam pautas como a criminalização do aborto, por exemplo. Para evitar a fuga do voto cristão, fez “dobradinhas”, no último debate do primeiro turno, com o candidato Padre Kelmon (PTB).





Personalidades declaram voto

Artistas, atletas, lideranças políticas internacionais e outras personalidades, inclusive estrangeiras, foram usados de parte a parte para captar indecisos. Ontem, Lula ganhou manifestação favorável da apresentadora Fátima Bernardes, da TV Globo, que declarou voto no petista. Ela se juntou a um grupo que conta com a também apresentadora Angélica, o influenciador Carlinhos Maia, o ex-jogador de futebol Raí e o humorista Paulo Vieira. No campo político, além do apoio de ex-candidatos à Presidência do Brasil, como Marina Silva (Rede), Luciana Genro (Psol) e Henrique Meirelles (União Brasil), o grupo pró-Lula foi engrossado.

Agora com Lula, Fátima Bernardes disse ter esperado o surgimento de uma alternativa viável, em termos eleitorais, à polarização entre Bolsonaro e Lula. “Depois do que aconteceu nos últimos 4 anos, da falta de humanidade diante das centenas de milhares de vítimas da pandemia, dos seguidos ataques às mulheres, à imprensa, à ciência, às artes, à democracia, do retorno da fome de uma maneira inaceitável, da campanha pelo aumento do número de armas nas mãos dos civis, da mistura da religião – algo sagrado – com a política, eu achei importante revelar meu voto”, disse.

Bolsonaro, por sua vez, celebrou ontem o apoio dado a ele por políticos da extrema-direita mundial, como o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán e o deputado espanhol Santiago Abascal, do partido ultranacionalista Vox. “Estamos falando de um presidente que, apesar de toda a esquerda atual, combateu o globalismo e foi corajoso o suficiente para colocar o Brasil em primeiro e Deus acima de tudo”, afirmou Orbán, em vídeo publicado pelo presidente brasileiro no Twitter. O liberal conquistou, ainda, o apoio de personalidades, como o jogador de futebol Neymar, o ex-atleta Rivaldo, o cantor Gusttavo Lima e o sertanejo Marrone, da dupla com Bruno.



Terceira via

O pleito de hoje deve evidenciar, ainda, as dificuldades dos partidos de centro na construção de uma candidatura que pudesse furar a polarização. Ciro Gomes, embora esteja no PDT, partido de centro-esquerda, fez sinais ao centro com críticas a Lula, mas, segundo as pesquisas divulgadas ontem, deve ter menos do que os 12,47% obtidos em 2018, quando terminou em terceiro lugar. Ele, aliás, tem a posição ameaçada por Simone Tebet (MDB). Conforme Datafolha e Ipec, a emedebista e o pedetista estão tecnicamente empatados.  Segundo o Datafolha, ela tem 6% das manifestações válidas, ante 5% dele; no Ipec, ambos têm 5%.

Maior partido do Brasil em número de parlamentares e no acesso a recursos públicos, o União Brasil não conseguiu reivindicar para si o crachá de terceira via. A senadora Soraya Thronicke, candidata da legenda, chega às urnas estagnada em 1%.