O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), foi reeleito ontem. Com as urnas apuradas, ele teve 56,18% dos votos válidos, ante 35,08% do ex-prefeito de Belo Horizonte Alexandre Kalil (PSD), que ficou na segunda posição. Depois da vitória, Zema se reuniu com aliados no comitê de sua campanha, na região da Savassi, em BH, prometeu um segundo mandato “melhor do que o primeiro” e não descartou, inclusive, concorrer à Presidência da República em 2026, quando terá de deixar o Palácio Tiradentes. Na terceira posição da corrida ao estadual, com 7,23%, ficou o senador Carlos Viana (PL), apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro, seu correligionário.
“A proposta para um segundo governo é continuar a levar adiante aquilo que iniciamos. Além das 1,3 mil escolas já reformadas, queremos avançar para mais 2 mil. Além dos 2,5 mil quilômetros de estradas, queremos completar 10 mil. Queremos concluir os hospitais regionais e que Minas continue o estado mais seguro do Brasil, ainda com melhorias”, disse.
Zema não respondeu às perguntas da imprensa que se dirigiu ao comitê do Novo. O vencedor do pleito estadual fez um rápido pronunciamento e, depois, foi conversar com colegas de partido. “Tenho obrigação de fazer um segundo governo melhor do que o primeiro, porque estamos com a casa arrumada, diferentemente de quatro anos atrás. Estamos com a dívida sob controle, diferentemente de quatro anos atrás, quando nós tínhamos folha de pagamento atrasada, quando nós tínhamos falta de medicamento na rede pública”, afirmou.
O governador votou no início da manhã em Araxá, no Triângulo. Depois, voou até BH ao lado de seu principal aliado político, o deputado federal Marcelo Aro (PP), que terminou em terceiro lugar a disputa vencida por Cleitinho Azevedo (PSC) por um assento no Senado Federal. A vitória da chapa liderada pelo Novo foi confirmada perto das 20h47, quando 92% das urnas estavam apuradas.
No discurso, o governador reivindicou a “confiança” dos eleitores e elogiou Mateus Simões (Novo), eleito vice-governador. “(A vitória) é fruto de um trabalho conjunto, de um trabalho em equipe”, festejou. Ao contrário do que foi visto no plano nacional e em outros estados, como São Paulo, a vitória de Zema confirma projeções feitas por institutos de pesquisa. Na véspera da eleição, Datafolha e Ipec apontaram chances concretas de reeleição no primeiro turno.
Projeção
Enquanto comemorava a vitória em Minas, Zema ouviu, de companheiros do Novo, gritos de apoio a uma candidatura presidencial daqui a quatro anos. “Tudo é por etapa. Se nós tivermos esse segundo governo muito bom, quem sabe, a gente pode tentar a Presidência”, se esquivou. Em Brasília (DF), alguns instantes depois, contudo, Jair Bolsonaro falou sobre buscar apoio de Zema no segundo turno nacional. Segundo o presidente, os primeiros contatos por uma união ao político do Novo foram feitos ontem. “Conversamos com um interlocutor do Zema. As portas estão abertas para conversar”, pontuou.
Fora Zema, Alexandre Kalil e Carlos Viana, nenhum concorrente ao governo alcançou 1% dos votos válidos. Segundo dados do Tribunal Regional Eleitoral de Minas Gerais (TRE-MG), com 99,96% da apuração terminada, o líder do bloco era Marcus Pestana, do PSDB, com 0,56%. Lorene Figueiredo (Psol) tinha 0,41%, contra 0,15% de Cabo Tristão (PMB), 0,14% de Indira Xavier (Unidade Popular), 0,12% de Renata Regina (PCB) e 0,11% de Vanessa Portugal (PSTU).
Desafio é consolidar base na Assembleia
Após a vitória nas urnas, o governador Romeu Zema se volta, agora, ao desafio de construir uma base sólida de apoio na Assembleia Legislativa. Há quatro anos, ele venceu a disputa estadual por meio de uma chapa composta apenas pelo Novo, que, à época, conseguiu três assentos no Parlamento estadual. Embora tenha conquistado o eleitor por meio de um discurso antipolítica, foi preciso dialogar com partidos tradicionais, como o PSDB. A relação com os deputados estaduais foi acidentada e, durante alguns meses deste ano, o Palácio Tiradentes não teve sequer um bloco formal de apoio na Assembleia – porque não conseguiu unir o mínimo de 16 deputados para oficializar a coalizão.
Com vistas à eleição, Zema conseguiu unir outros nove partidos em torno de si. A ideia é ampliar o número de integrantes da situação a partir dessas legendas. Em agosto, o agora vice-governador eleito, Mateus Simões (Novo), projetou uma base aliada com cerca de 45 ou 50 dos 77 deputados estaduais. Ontem, no primeiro pronunciamento após o triunfo, Zema reconheceu a necessidade de ampliar o núcleo governista na Assembleia. “Tudo indica que teremos 40 deputados – ou, até, um número maior – o que vai fazer com que várias reformas que precisamos em Minas sejam votadas e analisadas com critério, e não que serão engavetadas, como aconteceu neste primeiro governo nosso devido a uma sabotagem por parte da Mesa Diretora do Legislativo mineiro”, projetou.
Paralelamente, a ala econômica do governo vai precisar continuar o processo de adesão de Minas ao Regime de Recuperação Fiscal (RRF). O plano é visto por Zema como a saída para refinanciar a dívida do estado junto à União – cerca de R$ 160 bilhões. Parte dos deputados estaduais e do funcionalismo, porém, teme desinvestimentos em políticas públicas e congelamento de salários. A reboque das dificuldades de diálogo com a Assembleia, Zema não conseguiu aprovar o ajuste fiscal e precisou de aval do Supremo Tribunal Federal (STF) para colocar o RRF em vigência.
A missão de Zema é definir as ações que vai querer tomar para equilibrar as contas públicas. O regime tem regras como a que impede concursos públicos sem que haja vacância de cargos. Vedada, ainda, a criação de novas despesas obrigatórias que precisem ser executadas por pelo menos dois anos e a diminuição de alíquotas tributárias. Ao longo da campanha, adversários acusaram Zema de aumentar a dívida do estado – o pagamento passivo está suspenso graças a uma liminar do STF.
Em resposta, o candidato vencedor abriu fogo contra o antecessor Fernando Pimentel (PT) e contra o rival Alexandre Kalil (PSD). Antes, porém, fez reiteradas críticas a Agostinho Patrus (PSD), presidente da Assembleia de Minas, a quem acusou de “sabotagem”. As rusgas com o Parlamento travaram projetos enviados pelo Executivo, mas não eram imaginadas quando, no segundo turno da eleição de 2018, Agostinho foi um dos primeiros políticos tradicionais a declarar apoio a Zema.
“No primeiro mandato, Zema teve uma relação muito conflituosa com a Assembleia. Ele precisa entender que, em uma democracia, o Poder Legislativo é muito importante e faz parte da estrutura de governança”, disse ao Estado de Minas o doutor em ciência política Thiago Silame, professor da Universidade Federal de Alfenas (Unifal) e pesquisador do Centro de Estudos Legislativos da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).
Neste ano, Zema liderou uma coalizão que, além do Novo, teve Podemos, PP, Solidariedade, MDB, Patriota, Avante, PMN, Agir e Democracia Cristã (DC). Segundo Adriano Cerqueira, também cientista político e professor da Universidade Federal de Ouro Preto (Ufop) e do Ibmec, a vitória em primeiro turno pode ser um trunfo na construção de alianças. “Ele fez coligações e está muito preocupado em ter um número maior de deputados estaduais dispostos a, desde o início, apoiá-lo.” (GP)