A eleição de domingo (2/10) de senadores e deputados com perfil de direita, que deixam o Congresso mais conservador e alinhado com o presidente Jair Bolsonaro (PL), foi o gatilho para que o economista Armínio Fraga declarasse publicamente, nesta terça (4/10), seu voto em Luiz Inácio Lula da Silva (PT) no segundo turno da eleição para presidente.
"O mais importante para o Brasil hoje é aprimorar a política, garantindo o mais básico, a democracia", disse ele em entrevista à Folha de S.Paulo, por telefone.
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"Há um espaço grande para pensar prioridades para o Brasil. Mas a situação que vivemos hoje vai muito além da discussão de temas tecnocráticos, como qual seria a melhor sequência para a aprovação de reformas ou o exato desenho do sistema tributário", diz ele.
Fraga não respondeu diretamente sobre se aceitaria um convite para ser ministro: "Não fui sondado, não fui convidado e acredito que não serei".
De perfil discreto, o economista é pouco afeito a holofotes. No entanto, preocupado com a postura antidemocrática do atual governo, passou a fazer declarações públicas na defesa das instituições.
Em agosto, numa atitude inédita, discursou no evento da Faculdade de Direito do Largo São Francisco, da USP (Universidade de São Paulo), em que foi lançado um manifesto de apoio à democracia.
PERGUNTA - Por que abrir o voto a Lula?
ARMÍNIO FRAGA - Eu já tinha uma inclinação anunciada de votar no PT se considerasse necessário. Já era a minha intenção. Avaliando o resultado do primeiro turno, que formou um Congresso de direita, conservador, amplamente favorável ao atual governo, minha decisão nessa direção se fortaleceu.
Conversou com alguém do PT antes de tomar a decisão?
A. F. - Não, foi uma iniciativa solo. Não conversei com ninguém.
O sr. foi procurado pelo PT para conversar?
A. F. - Fui procurado para trocar ideias, o que acho saudável. Vou conversar. Já aceitei.
O que o sr. vai defender nessa conversas?
A. F. - Questões como arrumar o fiscal são importantes, demandam atenção. Há um espaço grande para pensar prioridades para o Brasil.
Mas a situação que vivemos hoje vai muito além da discussão de temas tecnocráticos, como qual seria a melhor sequência para a aprovação de reformas ou o exato desenho do sistema tributário.
O mais importante para o Brasil hoje é aprimorar a política, garantindo o mais básico, a democracia, a transparência na tomada de decisões na esfera econômica, de ir fundo nos diagnósticos e fazer propostas.
Precisamos restituir ao país calma, um ambiente que nos permita alargar horizontes e cuidar do desenvolvimento do Brasil.
Se o sr. aceitaria se fosse convidado para ser ministro da Economia?
A. F. - Não fui sondado, não fui convidado e acredito que não serei.