O PSDB, por sua vez, decidiu não se posicionar a favor de Bolsonaro nem de Lula e liberou os filiados para apoiarem quem quiserem no segundo turno da eleição.
A campanha de Bolsonaro ficou otimista com o resultado das articulações desta terça-feira (4). Bolsonaro garantiu palanque com os gestores dos três maiores colégios eleitorais do país. Em Brasília, ele recebeu os governadores reeleitos de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), e do Rio de Janeiro, Cláudio Castro (PL).
Em São Paulo, deu entrevista e posou ao lado do governador Rodrigo Garcia (PSDB), que ficou em terceiro lugar no primeiro turno e afirmou que dará "apoio incondicional" à reeleição do presidente na segunda etapa do pleito nacional.
Além disso, Ratinho Jr (PSD), reeleito no Paraná, afirmou que manterá apoio a Bolsonaro e o vencedor na disputa ao Senado no estado, o ex-juiz Sergio Moro, declarou voto no presidente. O governador reeleito de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), também avisou a aliados que deve declarar apoio a Bolsonaro.
Moro foi ministro da Justiça de Bolsonaro e deixou a Esplanada acusando o mandatário de tentar interferir na Polícia Federal.
Já Lula telefonou para Simone Tebet (MDB), que acabou em terceiro na corrida pelo Palácio do Planalto com 4,2% dos votos. Um encontro entre os dois é esperado para quarta-feira (5). O provável apoio da senadora ao petista abriu uma disputa interna no MDB entre as alas mais próximas e refratárias ao PT.
Como Tebet já informou aliados que sua decisão é irreversível, emedebistas que são adversários do PT em suas regiões passaram a pressionar para que o apoio ocorra de forma contida e em caráter pessoal —para evitar que o gesto seja lido como uma aliança nacional com os petistas.
Por outro lado, o grupo formado por políticos do MDB no Nordeste e pelo governador reeleito do Pará, Helder Barbalho, devem apoiar Lula.
O petista minimizou o efeito eleitoral do apoio de Rodrigo Garcia a Bolsonaro e disse contar com adesão de senadores do PSD à sua candidatura.
Lula disse que irá se reunir na próxima quinta-feira (6) com senadores do PSD que irão declarar apoio à sua candidatura, apesar de o presidente da legenda, Gilberto Kassab, apoiar Tarcísio na disputa pelo Palácio dos Bandeirantes.
Segundo a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, o encontro está sendo articulado pelos senadores da legenda Otto Alencar e Carlos Fávaro.
Ao ser questionada se avalia ser possível um apoio da União Brasil, Gleisi disse que conversou com o presidente da sigla, Luciano Bivar, mas que é uma "situação mais difícil".
"Eles têm uma situação mais difícil, porque a posição deles em vários estados é uma posição sempre mais à direita, mas temos um bom relacionamento. Pode ser que tenha setores da União Brasil nos apoie", disse.
Lula também garantiu o apoio do Cidadania, mas não do PSDB, que está na mesma federação.
A executiva tucana decidiu nesta terça liberar os diretórios estaduais e filiados no segundo turno das eleições presidenciais a optarem pelo petista ou por Bolsonaro. No primeiro turno, a sigla apoiou Tebet e ocupou a vice na chapa com a senadora Mara Gabrilli (PSDB-SP). Mara afirmou que votará em branco no próximo dia 30.
O PSDB teve o pior resultado eleitoral de sua história no primeiro turno e viu a bancada no Congresso, hoje com 22 deputados, ser reduzida para 13 no ano que vem.
Cacique do partido, o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE) declarou apoio a Lula. Candidato à reeleição no Rio Grande do Sul contra o bolsonarista Onyx Lorenzoni (PL-RS), Eduardo Leite (PSDB) se disse aberto ao diálogo com o PT.
Correligionário no estado, o deputado federal reeleito Lucas Redecker (PSDB-RS), porém, afirmou que irá votar em Bolsonaro.
Enquanto isso, o atual mandatário planeja intensificar a campanha no Sudeste para recuperar votos perdidos em relação a 2018. Na região, ele venceu por 47,6% dos votos, contra 42,6% de Lula.
Nesta terça, Bolsonaro afirmou que vai focar 40% das agendas no Sudeste e disse acreditar que o apoio dos governadores poderá o ajudar a virar votos e garantir a vitória no segundo turno.
"Pode ter certeza que a gente vai tirar mais de 1 milhão de votos [no Rio de Janeiro]. Ele [Castro] tinha a campanha dele, agora vai ser integralmente para nosso lado. Hoje de manhã fechei com o Zema. O Zema, acredito que a gente tira mais de 3 milhões de votos [em Minas]", disse.
Mais tarde, o presidente usou as redes sociais para agradecer o apoio de Zema, Castro e Garcia. "Diferenças sempre existirão, mas o que está em jogo neste momento é algo muito maior: o futuro do nosso Brasil. É hora de unirmos forças para proteger a liberdade e a dignidade do povo brasileiro e evitar que a quadrilha que assaltou e quase destruiu o país volte ao poder", escreveu.
Bolsonaro também disse que está aberto a conversar com ACM Neto (União Brasil), que disputará o segundo turno das eleições para governador da Bahia contra Jerônimo Rodrigues (PT), que tem o apoio de Lula. "Se o ACM Neto quiser, estou à disposição", afirmou.
O chefe do Executivo anunciou ainda que já conversou com o governador de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil), mas não deu detalhes de como foi o diálogo. "Devemos encontrar brevemente", afirmou.
No primeiro turno, Bolsonaro apoiou o deputado federal Vitor Hugo (PL-GO) para o governo goiano, mas Caiado acabou se reelegendo em primeiro turno.
Ambos sempre tiveram uma relação próxima, mas se distanciaram durante a pandemia da Covid-19 por divergências em relação à adoção de medidas sanitárias para evitar o alastramento da doença.
Bolsonaro também deu uma guinada no discurso em relação a Sergio Moro a fim de atrair o voto da direita que é simpática à Lava Jato e à pauta de combate à corrupção.
O presidente já chamou Moro de "traíra" e "mentiroso", mas, desta vez, afirmou não haver nada "desabonador" para falar do ex-magistrado. "Apaga-se o passado e qualquer divergência porventura ocorrida", disse.
O núcleo duro do PT, por sua vez, frustrou-se com o apoio dado por Ciro Gomes a Lula. O partido já esperava que o pedetista não subisse no palanque do ex-presidente, mas considerou ruim o vídeo gravado pelo ex-ministro.
Nele, Ciro sequer cita o nome de Lula e apenas declara que irá seguir a orientação de sua sigla, que decidiu apoiar o ex-presidente.