O Consórcio Intermunicipal Multifinalitário da Área Mineira da Sudene (Cimams), que reúne os prefeitos do Norte de Minas, iniciou uma mobilização, envolvendo dirigentes municipais e entidades de classe, para apoiar a reeleição de Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno da eleição presidencial.
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Já em relação à disputa estadual, o resultado do primeiro turno foi diferente do placar da eleição presidencial. O governador Romeu Zema (Novo) saiu na frente de Alexandre Kalil (PSD), apoiado por Lula, em 26 cidades norte-mineiras, incluindo os dois municípios da região onde o Bolsonaro superou o petista. Zema foi reeleito no primeiro turno com 56,1% dos votos de todo estado, contra 35,08% do ex-prefeito de Belo Horizonte.
Largada
A ofensiva do Cimams foi deflagrada em reunião realizada nesta quarta-feira (05/10), que contou também com a participação dos presidentes de ao menos cinco entidades de classe da região: Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL), Associação Comercial, Industrial e Serviços (ACI) e Sociedade Rural de Montes Claros. Participaram também os representantes da Agência de Desenvolvimento da Região Norte de Minas Gerais (Adenor) e do Consórcio Intermunicipal Multifinalitário para o Desenvolvimento Ambiental Sustentável do Norte de Minas (CODANORTE). O encontro foi aberto à imprensa.
Mesmo com a larga vantagem que Lula levou sobre seu principal adversário no Norte de Minas no primeiro turno, o presidente do Cimams, Valmir Morais (Avante) aposta que, com o apoio dos prefeitos e do governador Romeu Zema a Bolsonaro, o placar do segundo turno será revertido.
Morais pondera que, no primeiro turno, Lula venceu com folga no Norte do estado porque os prefeitos da região não se empenharam na campanha para Presidência da República, dedicando mais tempo à busca de votos para os candidatos a deputado (estadual e federal) que apoiaram. Ele assegura que o quadro agora é diferente e que os gestores municipais vão se engajar no trabalho a favor de Bolsonaro.
“Acho que nós vamos virar a eleição. Os prefeitos da região, agora, vão se empenhar (na campanha de Bolsonaro), como eu vou me empenhar”, afirma Valmir Morais, acrescentando que o atual governo sempre atendeu as demandas de recursos das prefeituras. “Acho que os prefeitos não podem reclamar da falta de dinheiro por parte do governo federal”, diz.
Segundo ele, a expectativa é de que, “com o empenho dos prefeitos”, Bolsonaro consiga superar desvantagem que teve em relação a Lula no Norte mineiro, que, pelos seus cálculos, foi de cerca de 500 mil votos em um contingente de 1,3 milhão de votos.
No primeiro turno, o ex-presidente petista e o atual presidente da República visitaram o Norte do estado, participando de atividades em Montes Claros, cidade-polo da região.
Valmir Morais admite que ele próprio não se dedicou à campanha presidencial no município que administra, Patis (6,03 mil habitantes), onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva teve uma vitória esmagadora no primeiro turno – 2.976 votos (79,89%) contra 610 votos (16,38%) dados a Bolsonaro.
“Todo mundo na cidade sabia que eu apoiava Bolsonaro, mas eu não me empenhei na campanha dele. Me dediquei no trabalho para meus candidatos a deputado”, afirma Morais. Os candidatos a deputado apoiados pelo prefeito foram majoritários em Patis: o deputado federal Aécio Neves (PSDB), 1.652 votos: e Arlen Santiago (Avante), 1.950 votos na cidade. Aécio e Santiago foram reeleitos.
Morais assegura que, no segundo turno, vai se esforçar para aumentar a votação de Bolsonaro em Patis. “Vamos ver se a gente pelo menos empata a eleição no município. Se empatar já vai estar de bom tamanho”.
No primeiro turno, o presidente do Cimans apoiou em seu município Carlos Viana (PL) para o governo do estado. Com isso, Viana ficou em segundo lugar em Patis, com 28,93% (1.004 votos), atrás de Alexandre Kalil (PSD), que teve 55,83% (1.938 votos). O governador Romeu Zema ficou na terceira posição na cidade com 14,78% (513 votos).
Outro que promete esforço na campanha de Bolsonaro no segundo turno no Norte de Minas é José Aparecido Mendes (PSD), o Zé Aparecido, prefeito de Janaúba (72,3 mil habitantes), segunda maior cidade da região. Citando benefícios que o Governo Federal proporcionou à sua cidade, Zé Aparecido diz que “amarrou” o nome do capitão com os dos quatro deputado (dois federais e dois federais) que apoiou no primeiro turno. “Coloquei a cara”, diz.
Ele afirma que, com o seu trabalho, garantiu um bom desempenho eleitoral para Bolsonaro em Janaúba, apesar de Lula ter ficado na frente – o petista recebeu 21.150 votos (54,51%) na cidade contra 15.529 (40,02%) conferidos ao seu adversário no primeiro turno.
No próximo dia 30, com o apoio de Zema, o prefeito de Janaúba afirma que poderá dar vitória para Bolsonaro no município e que acredita na “virada” também em outras cidades da região, a partir da mobilização dos demais mandatários municipais. “Acredito que resta agora nos unirmos no Norte de Minas para tirar a cor vermelha da região. (E) que possamos votar no verde e amarelo e no azul do nosso céu, para que a gente possa continuar desenvolvendo”, afirmou Aparecido Mendes.
Também no Norte do estado, no pequeno município de Curral de Dentro (7,8 mil habitantes, Lula saiu vitorioso com 58,72% (2.580 votos) enquanto Jair Bolsonaro recebeu 35,5% (1.560 votos) no dia 2 de outubro. O prefeito de Curral de Dentro, Adaildo Rocha (Podemos), o “Tampinha”, alega que, no primeiro turno, acabou “não se envolvendo muito” na campanha para presidente e admite “a força do PT” tem no município, cuja maioria da população é carente.
Para o segundo turno, no entanto, ele garante que vai se empenhar na busca de votos para a reeleição de Bolsonaro. “Vou me reunir com os servidores (municipais) e com as associações comunitárias”, promete Adaildo, lembrando que vai “pedir votos, sem obrigar ninguém a nada”. Ele afirma que sua administração tem a “aprovação de 80% da ´população” da cidade.
Carência e "redutos do PT”
Na mobilização lançada para tentar “virar” a eleição em prol de Jair Bolsonaro no Norte de Minas, o Cimams e outras entidades de classe do Norte de Minas têm como vantagem o fato de a grande maioria dos prefeitos da região serem de partidos alinhados com o Centrão e com o atual presidente da Republica. Em 2020, o Partido dos Trabalhadores elegeu apenas três prefeitos na região: Manga, Espinosa e São João da Ponte.
Por outro lado, os pequenos municípios do Norte de Minas, historicamente castigados pela seca, enfrentam a carência, com a maioria da população sobrevivendo de aposentadorias rurais e do dinheiro de programas de transferência do Governo Federal, sobretudo do Programa Auxílio Brasil, que, na gestão Bolsonaro, substituiu o Bolsa-Famíia, criado no governo petista. Desta forma, os pequenos municípios norte-mineiros são considerados “redutos do PT”, situação configurada com a vitória dada a Lula na região no primeiro turno da eleição de 2 de outubro de 2022.