Guilherme Peixoto
Fiquei muito otimista com o apoio de Simone Tebet. Ela dialoga muito de perto com o agro e com outros setores que ainda têm alguma resistência em relação a Lula — principalmente por conta dos discursos agressivos de Bolsonaro, de muitas fake news divulgadas. Tebet consegue dialogar do centro à direita com muita proximidade e legitimidade. É a consolidação da chamada ‘frente ampla’, desse movimento pró-democracia. Estamos vencendo o jogo. A gente não pode deixar virar, mas estamos na frente e temos tudo para vencer no dia 30.
Quando entrei na campanha de Lula, disse achar não ser preciso um giro de 360 graus, porque, se a campanha estivesse sendo malfeita, Lula não estaria em primeiro. Mas a gente precisava criar uma maior proximidade de Lula com seu eleitorado e, também, lutar com as armas deles [apoiadores de Bolsonaro]. De forma ética, tentando evitar a divulgação de notícias falsas, mas utilizando as mesmas armas deles, com técnicas de guerrilha. Conseguimos desempenhar isso bem no primeiro turno. Já levei uma sugestão à coordenação da campanha: precisamos ter um movimento mais centralizado. Às vezes, estou aqui defendendo a volta do ‘Minha casa, minha vida’; outro deputado, no Sul de Minas, está dizendo que Lula criou o Samu; e outro, no Norte, está falando que Lula vai manter o Auxílio Brasil em R$ 600. Precisamos alinhar maior centralização na comunicação. O bolsonarismo faz isso muito bem. Até por não ter nenhum apreço pela democracia, fica mais fácil dar uma ordem e dizer para todo mundo fazer. O PT, por ser muito plural e democrático, tem um pouco mais de dificuldade de fazer esse movimento centralizado.
Não tenho o desejo de ser um bom orador; quero ser bom comunicador, que fala da maneira que o receptor melhor entende Não posso falar “juridiquês” com pessoas simples, que não receberam condições de compreender aquele linguajar. Também não posso falar “nós vai” ou “nós vê” em um tribunal. Em cada momento, há a comunicação adequada. O atual momento – e quem levou para esse patamar foi o bolsonarismo – é o momento do sensacionalismo, do grito, da coisa chamativa, “atenção” e “urgente”. Eles trouxeram o debate para esse nível de despolitização. A gente precisa vencer a eleição para salvar a democracia. Bolsonaro está a um passo de instalar uma ditadura pelo viés democrático. Sempre foi o sonho dele. Ele já é o chefe do Executivo, se conseguir aumentar o número de ministros do Supremo, teria maioria no Judiciário. E, talvez, os três Poderes nas mãos, porque elegeu uma boa base e ainda há o Centrão, que ele conseguiria agradar. Para salvar a democracia, temos de usar as mesmas armas que eles, mas com uma diferença: apesar de muita gente dizer que estou divulgando fake news, ninguém consegue apontar exatamente qual é a fake news que divulguei. Na live que fiz no Templo de Salomão, disse que “supostamente” Bolsonaro teria feito “isso ou aquilo”. Deixo no ar para que, tecnicamente, tenha a minha defesa jurídica. De fato, não fiz nenhum tipo de afirmação. É até onde minha ética me permite ir. Não consigo passar dessa linha, como eles passam sem nenhum tipo de pudor. Para chegar ao nível deles, teríamos de fazer muito pior.
Primeiro, ao fato de Bolsonaro não ter religião – e é nítido que ele não tem; basta olhar os comportamentos dele. Só quem não crê em Deus pode se sentir tão à vontade para usar o nome de Deus ao seu bel-prazer como Bolsonaro faz. Isso o deixa à vontade para tentar manipular as pessoas. O que ele faz é, sem nenhum tipo de escrúpulo, se aproveitar da humildade e do medo das pessoas para divulgar fake news, como fizeram em 2018 com a “mamadeira de piroca” e ao dizer que absurdos seriam ensinados nas escolas. Estamos em um Estado laico, mas ele conseguiu levar o debate a esse nível. Cabe a nós, agora, vencê-lo levando a verdade. Ele nunca apontou onde havia “mamadeira de piroca” e onde Lula ou Haddad falavam sobre isso. Eu, não: o vídeo está lá, com imagens dele falando. Ele diz que já bateu em mulher, que é favorável à tortura e a favor do canibalismo – que não comeu carne humana porque ninguém quis ir com ele.
Eles se concentraram em um candidato só, em uma estratégia de Bolsonaro de pagar a dívida que tinha com o Centrão. Deu-se a Nikolas a votação majoritária; todas as forças foram concentradas nele. Foi a primeira vez que vi um candidato a presidente pedir votos só para um candidato a deputado – até porque, há uma base de deputados apoiando e você não pode se envolver diretamente em uma única eleição. A primeira-dama, os ministros e os filhos do presidente pediram votos só para ele [Nikolas]. O objetivo era exatamente este: criar o Tiririca de Minas. É um candidato que não tem pauta própria, a estilo de Carla Zambelli, em São Paulo, e de Hélio Negão, no Rio. Não têm pauta, história e trabalho. Na verdade, Bolsonaro foi eleito deputado federal em Minas – os votos foram em Bolsonaro. É uma estratégia para puxar candidatos do Centrão. Pegue a lista dos candidatos eleitos pelo PL e vejam quantos são da ala ideológica – acredito que só Nikolas, Junio Amaral e Maurício do Vôlei. Os restantes são deputados do Centrão, da política fisiológica, que trabalham com emendas. É uma maneira de Bolsonaro pagar sua dívida com o Centrão.
Conselheiro do ex-presidente de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para a estratégia digital da campanha ao Palácio do Planalto, o deputado federal reeleito André Janones (Avante-MG) diz não temer o apoio do governador mineiro Romeu Zema (Novo) ao presidente Jair Bolsonaro (PL) no segundo turno. O parlamentar admite a força de Zema, reeleito no primeiro turno, mas não crê que ele será capaz de transformar os votos “Luzema” em “Bolsozema”. Para evitar que os rivais naveguem em águas sem tormentas, o PT e os partidos aliados apostam em constantes vindas de Lula a Minas.
o apoio de Zema a Bolsonaro], mas não existe salto alto no sentido de que o governador não tem nenhuma força. Óbvio que tem a força dele e seu peso. Não é nada assustador, com potencial de virar a eleição, mas estamos cientes do peso do apoio. Por isso, estamos contrapondo com a presença mais constante de Lula em Minas e com a atuação dos deputados eleitos”, disse Janones em entrevista ao Estado de Minas.
“A gente não teme [Segundo mais votado entre os deputados federais mineiros, atrás apenas de Nikolas Ferreira (PL), Janones está otimista com os reflexos do apoio da senadora Simone Tebet (MDB) a Lula. Para o parlamentar do Avante, Bolsonaro está a “um passo de instalar uma ditadura” e tem responsabilidade pela “guerra santa” que dominou as redes sociais nesta semana. “Só quem não crê em Deus pode se sentir tão à vontade para usar o nome de Deus ao seu bel-prazer como Bolsonaro faz. Isso o deixa à vontade para tentar manipular as pessoas”, criticou.
Interlocutores de Zema e do PL afirmam que ele vai se engajar na campanha de Bolsonaro, subindo, inclusive, nos palanques. O entorno de Lula teme que o governador transforme votos “Luzema” em “Bolsozema”?
Acho muito difícil [a mudança de voto]. O eleitorado mineiro já tem experiência em relação a votar em um candidato para o governo e em outro [de campo político distinto] para a Presidência. Tivemos o chamado “Lulécio”, na época de Lula e Aécio Neves e, depois, “Dilmasia”, Dilma e Antonio Anastasia. Lula é um estadista, de comportamento republicano, sabe ser presidente. Ter um presidente que não foi apoiado pelo governador não prejudica em nada a relação com Minas e a vida dos mineiros, pela experiência que tivemos em quatro eleições. É a quinta eleição em que se repete esse fenômeno. A gente não teme [o apoio de Zema a Bolsonaro], mas não existe salto alto no sentido de que o governador não tem nenhuma força. Óbvio que tem a força dele e seu peso. Não é nada assustador, com potencial de virar a eleição, mas estamos cientes do peso do apoio dele. Por isso, estamos contrapondo com a presença mais constante de Lula em Minas e com a atuação dos deputados eleitos.
Qual o principal movimento da campanha de Lula neste início do segundo turno?
Fiquei muito otimista com o apoio de Simone Tebet. Ela dialoga muito de perto com o agro e com outros setores que ainda têm alguma resistência em relação a Lula — principalmente por conta dos discursos agressivos de Bolsonaro, de muitas fake news divulgadas. Tebet consegue dialogar do centro à direita com muita proximidade e legitimidade. É a consolidação da chamada ‘frente ampla’, desse movimento pró-democracia. Estamos vencendo o jogo. A gente não pode deixar virar, mas estamos na frente e temos tudo para vencer no dia 30.
O que muda na estratégia digital de Lula para o segundo turno?
Quando entrei na campanha de Lula, disse achar não ser preciso um giro de 360 graus, porque, se a campanha estivesse sendo malfeita, Lula não estaria em primeiro. Mas a gente precisava criar uma maior proximidade de Lula com seu eleitorado e, também, lutar com as armas deles [apoiadores de Bolsonaro]. De forma ética, tentando evitar a divulgação de notícias falsas, mas utilizando as mesmas armas deles, com técnicas de guerrilha. Conseguimos desempenhar isso bem no primeiro turno. Já levei uma sugestão à coordenação da campanha: precisamos ter um movimento mais centralizado. Às vezes, estou aqui defendendo a volta do ‘Minha casa, minha vida’; outro deputado, no Sul de Minas, está dizendo que Lula criou o Samu; e outro, no Norte, está falando que Lula vai manter o Auxílio Brasil em R$ 600. Precisamos alinhar maior centralização na comunicação. O bolsonarismo faz isso muito bem. Até por não ter nenhum apreço pela democracia, fica mais fácil dar uma ordem e dizer para todo mundo fazer. O PT, por ser muito plural e democrático, tem um pouco mais de dificuldade de fazer esse movimento centralizado.
Em suas redes, há vídeos com antigas falas de Bolsonaro – ontem, por exemplo, publicou um compilado com falas ríspidas dele a respeito de mulheres. Ao postar essas imagens, o senhor utiliza palavras como “exclusivo” e “urgente”, por mais que não sejam. Isso vai de encontro à ideia de “lutar com as armas” do bolsonarismo?
Não tenho o desejo de ser um bom orador; quero ser bom comunicador, que fala da maneira que o receptor melhor entende Não posso falar “juridiquês” com pessoas simples, que não receberam condições de compreender aquele linguajar. Também não posso falar “nós vai” ou “nós vê” em um tribunal. Em cada momento, há a comunicação adequada. O atual momento – e quem levou para esse patamar foi o bolsonarismo – é o momento do sensacionalismo, do grito, da coisa chamativa, “atenção” e “urgente”. Eles trouxeram o debate para esse nível de despolitização. A gente precisa vencer a eleição para salvar a democracia. Bolsonaro está a um passo de instalar uma ditadura pelo viés democrático. Sempre foi o sonho dele. Ele já é o chefe do Executivo, se conseguir aumentar o número de ministros do Supremo, teria maioria no Judiciário. E, talvez, os três Poderes nas mãos, porque elegeu uma boa base e ainda há o Centrão, que ele conseguiria agradar. Para salvar a democracia, temos de usar as mesmas armas que eles, mas com uma diferença: apesar de muita gente dizer que estou divulgando fake news, ninguém consegue apontar exatamente qual é a fake news que divulguei. Na live que fiz no Templo de Salomão, disse que “supostamente” Bolsonaro teria feito “isso ou aquilo”. Deixo no ar para que, tecnicamente, tenha a minha defesa jurídica. De fato, não fiz nenhum tipo de afirmação. É até onde minha ética me permite ir. Não consigo passar dessa linha, como eles passam sem nenhum tipo de pudor. Para chegar ao nível deles, teríamos de fazer muito pior.
Nesta semana, as redes foram dominadas por um debate religioso. Lula foi associado ao satanismo e Bolsonaro à Maçonaria. A que atribui tamanha evidência a esse tópico?
Primeiro, ao fato de Bolsonaro não ter religião – e é nítido que ele não tem; basta olhar os comportamentos dele. Só quem não crê em Deus pode se sentir tão à vontade para usar o nome de Deus ao seu bel-prazer como Bolsonaro faz. Isso o deixa à vontade para tentar manipular as pessoas. O que ele faz é, sem nenhum tipo de escrúpulo, se aproveitar da humildade e do medo das pessoas para divulgar fake news, como fizeram em 2018 com a “mamadeira de piroca” e ao dizer que absurdos seriam ensinados nas escolas. Estamos em um Estado laico, mas ele conseguiu levar o debate a esse nível. Cabe a nós, agora, vencê-lo levando a verdade. Ele nunca apontou onde havia “mamadeira de piroca” e onde Lula ou Haddad falavam sobre isso. Eu, não: o vídeo está lá, com imagens dele falando. Ele diz que já bateu em mulher, que é favorável à tortura e a favor do canibalismo – que não comeu carne humana porque ninguém quis ir com ele.
O senhor e Nikolas Ferreira debateram publicamente sobre a intenção de ser o deputado mais votado do estado. Por que acha que ele, aliado de Bolsonaro, venceu a disputa?
Eles se concentraram em um candidato só, em uma estratégia de Bolsonaro de pagar a dívida que tinha com o Centrão. Deu-se a Nikolas a votação majoritária; todas as forças foram concentradas nele. Foi a primeira vez que vi um candidato a presidente pedir votos só para um candidato a deputado – até porque, há uma base de deputados apoiando e você não pode se envolver diretamente em uma única eleição. A primeira-dama, os ministros e os filhos do presidente pediram votos só para ele [Nikolas]. O objetivo era exatamente este: criar o Tiririca de Minas. É um candidato que não tem pauta própria, a estilo de Carla Zambelli, em São Paulo, e de Hélio Negão, no Rio. Não têm pauta, história e trabalho. Na verdade, Bolsonaro foi eleito deputado federal em Minas – os votos foram em Bolsonaro. É uma estratégia para puxar candidatos do Centrão. Pegue a lista dos candidatos eleitos pelo PL e vejam quantos são da ala ideológica – acredito que só Nikolas, Junio Amaral e Maurício do Vôlei. Os restantes são deputados do Centrão, da política fisiológica, que trabalham com emendas. É uma maneira de Bolsonaro pagar sua dívida com o Centrão.