Bernardo Estillac e Guilherme Peixoto
Minutos depois de saber que disputaria o segundo turno da eleição nacional contra Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o presidente Jair Bolsonaro (PL) não escondia o desejo de priorizar Minas Gerais para tentar reverter a vantagem de 6,1 milhões de votos do petista. Na porta do Palácio da Alvorada, em Brasília, ao mesmo tempo em que lamentava o resultado no estado, Bolsonaro já citava contatos feitos com interlocutores do governador reeleito Romeu Zema (Novo). Lula venceu em Minas no primeiro turno por 48,29% a 43,60% dos votos válidos. Os percentuais são similares aos vistos no cenário nacional, onde o petista levou a melhor com 48,43% ante 43,20% do atual presidente.
O candidato à reeleição se cercou de cabos eleitorais importantes no estado. Além de Zema, seu entorno tem o senador eleito Cleitinho Azevedo (PSC), Nikolas Ferreira (PL) e Bruno Engler (PL), deputados federal e estadual mais bem votados no estado, respectivamente. Do outro lado, Lula aposta em manter os eleitores mineiros, que têm histórico de votar em políticos de campos opostos nos pleitos para governador e presidente – depois dos fenômenos “Lulécio” (Lula e Aécio Neves) e “Dilmasia” (Dilma e Antonio Anastasia), desta vez a junção deu forma ao “Luzema”.
O apoio de Zema foi anunciado na terça-feira, menos de 48 horas após o resultado do primeiro turno. Bolsonaro e seus aliados em Minas festejaram, porque, segundo interlocutores ligados ao Executivo estadual e ao PL, o governador pretende subir em palanques ao lado do presidente e pedir votos de forma explícita. Na quinta-feira passada, trajando sua tradicional camisa social branca bordada com uma bandeira de Minas Gerais, Zema fez discurso pró-Bolsonaro em evento da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg). Durante a fala, o político do Novo disse ser “PTfóbico”.
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Desde 1955, com a vitória de Juscelino Kubitschek, todos os presidentes democraticamente eleitos venceram também os pleitos em Minas. Além de decisivo, o estado é um espelho do cenário nacional. Após a a redemocratização do país, em 1989, o resultado em Minas varia, em média, apenas 3,04 pontos percentuais da apuração em todo o Brasil.
APOIO DE EX-ADVERSÁRIOS
Embora esteja sem palanque formal em Minas desde a derrota de Alexandre Kalil (PSD) para Zema, os aliados de Lula creem que o governador não tem poder para reverter o movimento “Luzema” – com parte da população entregando ao Novo os votos para o governo, mas escolhendo o PT para ocupar a Presidência. Os votos dados a Ciro Gomes (PDT) e Simone Tebet (MDB) são caminhos vistos como viáveis para minimizar o impacto da aliança entre Zema e Bolsonaro. “Não vou dizer que o palanque não faz falta. Claro que faz. Mas temos de lutar com as armas que a gente tem. Eles precisam de muita coisa – de palanque e do governador – porque precisam virar o resultado. Eles perderam a eleição aqui; a gente ganhou. A pressão sobre nós é menor. Ela existe, mas é menor”, afirma o deputado André Janones (Avante-MG), que ajuda a traçar as estratégias digitais da campanha de Lula.
O PT e os partidos da coalizão de Lula trabalham, ainda, para montar agendas regionais comandadas por vencedores das disputas à Câmara e à Assembleia Legislativa. Há ainda a expectativa por duas vindas do presidenciável a Minas, em projeção que não considera a caminhada agendada para hoje, em Belo Horizonte. “A gente joga pelo empate. Eles têm de virar o jogo. Temos de ampliar o placar, mas conseguimos uma boa vitória aqui no primeiro turno”, afirma Janones.
Para o também deputado federal Reginaldo Lopes (PT), coordenador da campanha de Lula em Minas, a aliança entre Zema e Bolsonaro é fruto de certa similaridade ideológica. “É natural que a concepção sobre o papel do estado leve Zema a ter uma aliança pontual com Bolsonaro. Mas o próprio Zema sabe, porque conviveu quatro anos com Bolsonaro, que o presidente não fez nada por ele e não fez nada por Minas”, garante. Na visão do petista, os eleitores mineiros têm, na memória, boas impressões dos governos de Lula e Dilma Rousseff. “Vamos ter uma excelente relação federativa. Queremos ter excelente relação com os governadores. Com certeza, Zema sabe disso – e sabe do compromisso de Lula com Minas”, pontua.
Na segunda-feira, em evento que deu a largada na campanha para o segundo turno, no comitê petista, em São Paulo (SP), Lula manifestou desejo de voltar a Minas mais vezes até a votação. Fora a caminhada agendada para hoje, em BH, o núcleo de articulação petista trabalha para viabilizar mais um ou dois compromissos do candidato em terras mineiras. “Vamos conversar mais com o povo, vamos voltar a percorrer o Brasil em todos os estados que têm segundo turno e em alguns estados que não têm segundo turno nós vamos, porque estou convencido de que vamos alargar a nossa vantagem no Nordeste e em Minas Gerais. Vou visitar regiões de Minas que eu deveria ter visitado e não pude visitar”.