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Estado de Minas Entrevista

Ciro Nogueira: "Crescimento de Bolsonaro vai surpreender a todos"

Após errar previsão de vitória em "18 ou 19 estados" no 1o turno, ministro diz que Bolsonaro terá, "no mínimo", 8 pontos percentuais de vantagem


16/10/2022 04:00 - atualizado 15/10/2022 22:17

ilustração
Ciro Nogueira (foto: Quinho)

 
Carlos Marcelo e Guilherme Peixoto
 
 
Entusiasmado com o desempenho do presidente Jair Bolsonaro (PL) nas pesquisas internas da campanha à reeleição, o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP), diz que a entrada “decisiva” do governador mineiro Romeu Zema (Novo) na caça aos votos pode impulsionar a chapa do PL. Nogueira aposta em Zema como possível presidenciável em 2026. “Se o presidente Bolsonaro ganhar, Minas vai sair com um fortíssimo candidato à sucessão dele, que é Zema. É um potencial candidato em 2026 pela forma decisiva como está entrando nesta eleição”, diz, em entrevista exclusiva ao Estado de Minas. Presidente nacional do PP, o chefe da Casa Civil afirma que ter Zema em seu partido “seria um sonho” — afinal, aponta, o governador ficou “muito maior” do que o Novo.

Durante o 1º turno, Nogueira chegou a projetar vitória de Bolsonaro em “18 ou 19” das 27 unidades da Federação. As urnas, porém, só apontaram triunfos em 12 estados, mais o Distrito Federal. “O que previ só não se confirmou por conta da tentativa de se fazer o maior estelionato eleitoral de nossa história”, justifica, em tom crítico a institutos de pesquisa que erraram os percentuais obtidos pelo presidente e por candidatos de seu grupo político, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), que disputa o governo de São Paulo.

O ministro não esconde a decepção pelos resultados eleitorais do Piauí, seu reduto, onde esteve na manhã de ontem com o presidente.. Lá, o PT venceu o governo, com Rafael Fonteles, e o Senado, com Wellington Dias. E, embora reconheça a “força eleitoral” de Lula no Nordeste, Nogueira crê que o comparecimento às seções de votação vai diminuir em 30 de outubro — o que faria recuar o percentual obtido pela chapa presidencial petista. “Historicamente, no 2º turno, e vocês podem comprovar isso em 2014 e 2018, o aumento da abstenção no Nordeste é muito significativo”, assegura.
 

"Não tenho dúvida de que, pela paixão do eleitor de Bolsonaro e com a abstenção, ele irá ganhar. A possibilidade é muito grande de ganharmos, até com uma margem que vai surpreender, da mesma forma que surpreendeu Lula não ganhar"

 
 
Como o senhor avalia as duas primeiras semanas de campanha no 2º turno? O que espera para os próximos dias?
Foi muito bom o início da campanha para o nosso campo político. Depois da perplexidade do PT por não ter ga- nho no 1º turno, criou-se um ânimo muito grande. Muitos eleitores não foram votar porque acharam que Lula ganharia no 1º turno. As pesquisas, agora, estão dizendo que o índice de comparecimento desses eleitores vai ser muito grande no 2º turno. É mais um fator que nos ajuda. As pessoas vão avaliar o que querem para o futuro. Se querem um governo que está bem avaliado, com índices econômicos fantásticos. Enfrentamos problemas como Brumadinho, pandemia, guerra e crise hídrica. Imagina o que vai ser do país se não enfrentarmos esses problemas nos próximos anos? O que seria do país se tivéssemos pego os R$ 750 bilhões que gastamos para cuidar das pessoas, vacinar e cuidar dos empregos, e entregue isso para Tarcísio (de Freitas, ex-ministro) cuidar da Infraestrutura?

O senhor disse que o 1º turno seria um plebiscito sobre as gestões de Lula e Bolsonaro. É correto dizer que o 1º turno, então, foi um plebiscito que apontou aprovação maior à gestão de Lula?
O 1º turno foi um plebiscito: ‘sim’ ou ‘não’ a Lula. Graças a Deus, a população disse ‘não’, porque estava tudo pronto para ele ganhar no 1º turno.



Mas Lula foi o primeiro colocado.
Ele foi, mas todo mundo achava que ele iria ganhar no 1º turno, menos nós, que tínhamos informações. Tentou-se montar um cenário para enganar a população e ele ganhar no 1º turno. A população optou por ele não ganhar no 1º turno. Vocês estão vendo os institutos que acertaram (o resultado) da eleição no 1º turno colocando um empate técnico. Não tenho dúvida de que, pela paixão do eleitor de Bolsonaro e com a abstenção, ele irá ganhar. A possibilidade é muito grande de ganharmos, até com uma margem que vai surpreender, da mesma forma que surpreendeu Lula não ganhar.

Na última quinta-feira, o senhor publicou tuíte afirmando que Bolsonaro está à frente de Lula em Minas. O que o faz ter tanta empolgação e certeza a respeito disso, uma vez que o petista venceu no 1º turno?
No 1º turno, criou-se uma narrativa, principalmente a grande imprensa e alguns dos principais institutos do país, para tentar que a eleição fosse resolvida no 1º turno e induzir o eleitor que gosta de votar em quem vai ganhar, a resolver a eleição no 1º turno. O que se viu foi que esses institutos, no meu ponto de vista, tentaram criar o maior estelionato eleitoral da nossa história. Graças a Deus, não tiveram sucesso. Saímos da eleição com uma perspectiva muito positiva de vitória do presidente. 
 
Existia uma expectativa muito grande sobre os dois maiores estados, São Paulo e Minas Gerais, e um grande fator positivo dessa campanha para Bolsonaro foi o engajamento e a entrada, de forma decisiva, do governador Romeu Zema em Minas. É o estado que tem a maior sintonia com o país como um todo. Alguns estatísticos dizem que não é preciso fazer pesquisa no Brasil; basta fazer em Minas. Os índices do país foram idênticos aos de Minas. Os números que recebemos nesta semana nos surpreenderam positivamente na migração (de votos), levando a uma vitória do presidente Bolsonaro em Minas de forma muito significativa.
 

"Podem ter certeza: se o presidente Bolsonaro ganhar, Minas vai sair com um fortíssimo candidato à sucessão dele, que é Zema. É um potencial candidato em 2026 pela forma decisiva como está entrando nesta eleição"

 
Em setembro, o senhor ironizou o Datafolha e escreveu: “Viramos Minas”. As urnas mostraram que o ex-presidente Lula terminou à frente do presidente Bolsonaro por 563 mil votos. O que aconteceu entre o mês passado e o resultado das urnas e o que o faz crer que o desfecho do 2º turno será outro?
No 1º turno, o estado que teve a maior volatilidade foi Minas. Chegamos a virar em Minas e a distância aumentou, mas a vitória de Lula terminou de forma bem mais estreita do que se imaginava e do que deram os institutos. Nossa expectativa é que a entrada decisiva do governador Zema consolide a vitória do presidente em Minas.

O senhor é do Piauí, estado que deu a Lula uma de suas mais expressivas vitórias. A que atribui o triunfo do PT por lá e, também, em todo o Nordeste? Como reverter?
A força eleitoral de Lula no Nordeste é histórica. A migração dos percentuais por conta da abstenção no Nordeste vai ser significativa na decisão eleitoral deste ano, porque se você levar em conta apenas a eleição de 2018, a vitória de Lula (do PT, na verdade) cai de 6 milhões para 2 milhões (de margem). A abstenção no Nordeste no 2º turno é muito significativa.

A campanha de Bolsonaro, então, trabalha com elevada abstenção no Nordeste nos cenários em que projeta a re- eleição?
Não é uma coisa que dependa do quadro político ou de esforços de um lado ou de outro. Historicamente, no 2º turno, e vocês podem comprovar isso em 2014 e 2018, o aumento da abstenção no Nordeste é muito significativo.

O senhor apostava em uma vitória do presidente em 18 ou 19 estados. As urnas mostraram que foram 12 vitórias, mais o Distrito Federal. Onde os resultados não corresponderam à sua previsão? E como será no 2º turno?
Temos tudo para ganhar a eleição, no 2º  turno, nos estados que previ. Não contava com essa manipulação dos institutos de pesquisa, aliados à grande imprensa. Não esperava que, depois de tanto tempo, se repetisse o que ocorreu em 1989, no famoso debate entre Lula e Collor. Aquilo se tornou muito pequeno diante do que aconteceu no país. Tentar manipular, dizer que um candidato vai ganhar por 15 ou 20 pontos no 1º turno… institutos que têm história fizeram isso. 
Defendo que eles, após a eleição, prestem contas ao Congresso Nacional, através de uma CPI, do que realmente aconteceu. O que previ só não se confirmou por conta da tentativa de se fazer o maior estelionato eleitoral de nossa história.
 

"Nunca tivemos uma eleição com extremismo tão grande. Me preocupa que, no dia seguinte à eleição, qualquer um estará com 40% a 50% de rejeição. A grande diferença é que Bolsonaro tem uma base para administrar o país sem fazer concessões, ao contrário de Lula"

 
 
O senhor defende a instalação da CPI das Pesquisas Eleitorais, mas de uma forma ‘despolitizada e isenta’. É possível ter uma Comissão Parlamentar de Inquérito despolitizada?
Lógico. Depois da eleição. Temos de saber uma explicação. Um instituto de credibilidade, não quero citar nomes, mas os dois principais do país colocarem que um candidato vai ganhar com 15 milhões ou 20 milhões de votos (a mais), e a diferença ficou em 6 milhões? Alguém tem de explicar. Qual foi o resultado que esses institutos acertaram no país? Grande parte do eleitorado vota com os institutos de pesquisa. É uma manipulação criminosa da vontade popular.



O senhor disse que trabalha com projeções, inclusive sobre Minas. Qual a diferença entre os institutos que trabalham para a campanha e os que divulgam seus levantamentos na imprensa? Sua projeção sobre os ‘18 ou 19 estados’ que Bolsonaro venceria no 1º turno não está ligada aos dados repassados pelas pesquisas internas?
O trabalho dos partidos e dos candidatos é feito a partir de trackings, que não são registrados. O que você utiliza do tracking, basicamente, não é nem o número, sobre ganhar ou perder, mas saber se há crescimento ou queda. Aí, você orienta a campanha sobre determinado programa ser negativo ou positivo. Àquela época (setembro), os trackings davam crescimento muito consistente, principalmente em Minas. Agora, com esse cenário de crescimento de Bolsonaro no país, acho muito difícil que ele não ganhe esta eleição. E não vai ser por um ou dois pontos. Acredito que o presidente vai ter, no mínimo, 8 pontos (de vantagem) e que fique, no mínimo, entre 54% a 46% (para Bolsonaro). Não sai dessa margem de erro, lhes garanto. Depois vocês me cobrem.

O que o senhor espera de Bolsonaro nos debates com Lula na TV? Hoje, eles terão o primeiro confronto direto no segundo turno.
Estamos diante de uma decisão sobre o que queremos para o país. Um caminho consistente, previsível, buscando uma recuperação e um protagonismo econômico no mundo que está nos dando uma chance histórica nos próximos anos, ou a imprevisibilidade, o medo de termos, no país, um alinhamento completo com o insucesso que está acontecendo nos demais países da América Latina. O eleitor tem de utilizar esse debate para tomar conhecimento da diferença de projeto futuro para o país. Está muito claro: há um projeto viável, consistente e de sucesso. A política econômica do Brasil é exemplo e referência para o mundo. Não há nenhum sucesso econômico, pelo menos nos últimos dois anos, como o que acontece no país. Se mudarmos isso para uma imprevisibilidade… a (cerca de) 15 dias da eleição, não sabemos nem quem é o ministro da Economia do candidato que ganhou o 1º turno. É uma chance muito grande de insucesso. Espero que o eleitor utilize esse debate para fazer uma escolha previsível e consistente.

Em quais estados o senhor acha que Bolsonaro terá desempenho mais expressivo do que no 1º turno?
Lula cometeu, graças ao bom Deus, dois erros muito graves. Primeiro: ele desistiu da campanha de governador em São Paulo. Hoje, a campanha para governador lá é completamente nacionalizada. Isso acaba ajudando muito a subida do presidente em São Paulo, porque acho muito difícil o eleitor votar em Haddad e em Bolsonaro — ou em Tarcísio e em Lula. Pode até ocorrer, mas isso não é o natural. 
Em Minas, (houve) essa entrada decisiva do governador. Não é uma aliança partidária, mas pela prosperidade. As pesquisas qualitativas que temos de Minas nos indicam que o eleitor mineiro tem recebido muito bem a forma como seu governador entrou nesta campanha. Podem ter certeza: se o presidente Bolsonaro ganhar, Minas vai sair com um fortíssimo candidato à sucessão dele, que é Zema. É um potencial candidato em 2026 pela forma decisiva como está entrando nesta eleição.

No 1º turno, Zema defendeu o voto em Felipe d’Avila, do Novo, mas horas após vencer a eleição local, já sinalizava apoio a Bolsonaro. Como essa união ocorreu?
Estive com Zema no 1º turno. Àquela época, tentei o apoio do governador (a Bolsonaro), mas ele deixou bem claro que, por conta da lealdade ao seu partido (iria apoiar d’Avila) — e ele reconhecia que seu candidato não teria possibilidade ao 2º turno. Mas ele sempre colocou que o grande adversário dele e do país era o PT. Seu trabalho, apesar de não votar no presidente, (apesar da) divergência na visão de país (em relação ao PT), iria acabar beneficiando o presidente. Isso, realmente, ocorreu. A forma, sem nenhum tipo de vinculação ou de conchavo, em que ele anunciou, tão rapidamente (o apoio), e a forma como ele entrou têm sido muito importantes e decisivas para a vitória do presidente.

Zema seria bem-vindo ao PP, já que o Novo não conseguiu romper a cláusula de barreira?
Seria um sonho. Vamos aguardar. Não tenho dúvidas de que o sucesso eleitoral de Zema e o sucesso de seu primeiro mandato o credenciam muito a ser candidato à sucessão de Bolsonaro caso repita esse sucesso – e o natural é que amplie isso, por ser mais experiente na vida pública. Os dois nomes que vão sair muito fortes desta eleição em caso de vitória do presidente vão ser ele (Zema) e Tarcísio, porque o governador de São Paulo se torna sempre potencial candidato. Mas, aí, Tarcísio tem de fazer um grande governo, coisa que Zema já fez. Acho muito difícil fugir disso para a eleição de 2026.
 


"Os institutos de pesquisa, no meu ponto de vista, tentaram criar o maior estelionato eleitoral da nossa história. Graças a Deus, não tiveram sucesso"

 
O senhor crê que Zema ficou maior do que o Novo?
Muito maior. O Novo é um partido muito respeitado em Brasília. São quadros excelentes, que mantêm identidade e fidelidade ao que pregam nas urnas, mas é um partido muito pequenininho. Acredito que é muito difícil um presidente ser eleito pelo Novo isolado. Agora, dentro de um arco de alianças… Basicamente, em uma campanha eleitoral, você precisa de tempo de TV e de apoio nos estados. Isso pode vir a ser viabilizado.

O senhor chegou a anunciar férias para se dedicar à eleição no Piauí e, depois, recuou. E escreveu, em 27 de agosto, que o seu estado “caminhava a passos firmes rumo à mudança”. Por que essa caminhada mudou de direção e seus candidatos ao governo e ao Senado perderam? 
Muito pela força de Lula, tenho de reconhecer. Mas, de qualquer forma, Lula teve votação expressiva no Piauí e seus candidatos quase perderam. O candidato ao governo (Rafael Fonteles, do PT) teve diferença de apenas seis pontos; o candidato ao Senado (Wellington Dias), grande líder do PT lá, por muito pouco não perdeu. Ganhou por 3,7% e passou 70% da apuração atrás. Foi um resultado eleitoral muito significativo para as oposições lá, apesar de não ter tido êxito. É, talvez, um dos estados do Nordeste onde houve mais disputa. Estamos trabalhando fortemente para, no 2º turno, diminuir a diferença de Lula para Bolsonaro nas cidades. Não vou dizer que Bolsonaro vai ganhar no Piauí, mas estamos trabalhando muito para diminuir a diferença.

Os resultados no Piauí foram uma decepção pessoal para o senhor?
Foram. Não vou negar. A gente fica triste. 



O senhor falou em enfrentar problemas como a guerra e a pandemia. Isso passa por propor soluções, mas a campanha no 2º turno tem sido pautada por uma espécie de ‘guerra santa’. Não há prejuízo ao debate?
Se vocês olharem como a campanha do 2º turno se iniciou, vão ver que o PT veio para o desespero. Iniciaram o 2º turno chamando o presidente de ‘canibal’. Fiquei estarrecido. Imaginei esse desespero na última semana, mas, no primeiro dia do programa eleitoral, começar chamando um candidato de ‘canibal’? Não gostaria de um debate dessa forma. Gostaria de um debate de propostas e ideias, mas o PT tem fugido disso. Não sabemos nem quem vai ser o ministro da Economia do Lula. Isso nos traz preocupação. Será que Dilma vai voltar a ser ministra das Minas e Energia? (Guido) Mantega ou (Aloizio) Mercadante na Fazenda? A campanha de Lula não é honesta. Ele foi a um comício em Minas: cadê Dilma e (Fernando) Pimentel? Ele (está) escondendo as pessoas. Existe um receio muito grande da população sobre quem ele vai apresentar. Você sabe quem são os ministros de Bolsonaro. A campanha do presidente, o que ele quer para o futuro, é muito transparente; a de Lula não tem a menor transparência econômica, de previsibilidade para o país. O debate acabou descambando dessa forma por opção do PT.

O senhor escreveu no Twitter, em 21 de setembro: “A eleição é ‘uma guerra, por outros meios, pacíficos. Faz parte dela a guerra da desinformação’”. A desinformação é um mecanismo eficiente?
Tem sido. É uma pena. Você não tem controle. A campanha, por si, não (usa a desinformação), os meios tradicionais. Mas você não tem controle dos militantes e das pessoas envolvidas. Nunca tivemos uma eleição com extremismo tão grande. Me preocupa que, no dia seguinte à eleição, qualquer um estará com 40% a 50% de rejeição. A grande diferença é que Bolsonaro tem uma base para administrar o país sem fazer concessões, ao contrário de Lula. Previa a esquerda elegendo entre 130 e 150 deputados; eles elegeram 129. Fui até um pouco otimista para eles. Imagina o que é começar um governo com 50% de reprovação, como Lula iria começar. Graças a Deus, não vai acontecer, mas o que ele teria de fazer com o país para atrair uma base? Voltaríamos à época dos ministérios entregues de ‘porteira fechada’, das estatais entregues a políticos e voltando a dar prejuízos e escândalos. Espero que a população não deixe isso ocorrer.

Se Lula vencer, o PP pode fazer parte da base dele no Congresso, como ocorreu durante parte dos governos petistas?
Se depender de mim, não. Não me vejo aliado ao PT por todo o mal que já fez ao país e ao meu estado, principalmente. Sou o presidente (do PP), mas tenho influência muito grande, não vou negar. Vou lutar de todas as formas para que isso não ocorra. Mas não vai ser preciso: Bolsonaro será reeleito.

O senhor concorda com o líder do governo na Câmara, deputado Ricardo Barros, que defendeu ‘enquadrar’ o STF? Se sim, como seria esse enquadramento na visão do senhor?
Não acho que seja necessário ‘enquadrar’. Cada Poder tem de respeitar os outros e voltar às suas atribuições. Sempre cumpro e respeito as decisões judiciais. Acho muito ruim que os ministros e o Judiciário no país passaram a falar muito fora dos autos. Isso cria um problema. Existe uma usurpação de algumas decisões do Congresso por parte do Judiciário. Espero que, depois das eleições, o país seja pacificado e cada Poder respeite as atribuições para que a gente possa ter um Brasil muito mais equilibrado.

O senhor é favorável à ampliação do número de ministros do STF?
Não vejo necessidade. Não vejo muito motivo para isso. Só para você mudar a forma de as pessoas lá pensarem? Não acho que isso seja prioridade para o país.

Há chance de Bolsonaro ou de sua base tentarem encampar essa pauta?
Dou-lhe minha palavra de que o presidente nunca tocou nesse assunto. Nenhum assunto é proibido. De uns tempos pra cá, tivemos um equilíbrio muito grande na política do país, pois, antigamente, só a visão da esquerda era permitida. Você podia discutir aborto e legalização das drogas, mas não podia discutir família, religião ou legalização das armas. Sou plenamente favorável a qualquer tipo de discussão, sobre qualquer assunto, desde que se respeitem as opiniões contrárias e se priorize o que é realmente importante à população.

Nesta entrevista, o senhor usou a expressão ‘graças ao bom Deus’. Ele foi tema da campanha na semana passada, com idas de Bolsonaro a uma igreja evangélica em BH e à Basílica de Aparecida. Lá, houve registros de hostilidades de apoiadores do presidente a profissionais da imprensa. O senhor é temente a Deus? Como avalia o episódio na basílica?
Sou devoto de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, católico (afrouxa a gravata e mostra um pingente com a imagem da santa). Existe muita politização nisso. A CNBB, historicamente, sempre teve um viés de politizar para a esquerda. Temos de respeitar o direito das pessoas. Questionar o direito de um presidente da República de ir à basílica mais importante do país no dia de Nossa Senhora Aparecida, padroeira do Brasil… Deveria ser enaltecido, incentivado, e não criticado. Lula e os candidatos também deveriam ter ido. Eu estava aqui, em Brasília, trabalhando, e não pude ir. Usei o dia, feriado, para trabalhar na campanha do presidente. Não vejo problema nenhum em ter a religião nessas discussões, porque ela tem defesas e teses, que devem ser avaliadas, mas sempre respeitando o direito ao contraditório.

Mas como o senhor avalia o episódio de hostilidade do lado de fora da basílica?
São coisas, às vezes, incontroláveis. Não vou negar. Existe um sentimento de revolta muito grande do eleitorado de Bolsonaro com essa tentativa de estelionato eleitoral que aconteceu no 1º turno. Foi muito grave. Agora: nunca pode descambar para a violência e (tentativas) de cercear o trabalho da imprensa. Isso, temos de reprovar. Mas não vou negar que existe um sentimento de frustração e revolta com o papel de grande parte da imprensa no 1º turno.

Em 2017, o senhor disse que Bolsonaro tinha um ‘caráter fascista’. O que o levou a mudar de posição?
Realmente, disse isso. Conhecia o deputado Bolsonaro e não concordava com parte de sua atuação. O presidente Bolsonaro me surpreendeu positivamente, fiz um mea-culpa e passei a apoiá-lo veementemente. Tenho honra e orgulho de estar (com ele).

Quais são as atividades do ministro da Casa Civil de um presidente candidato à re- eleição durante o período de campanha?
O presidente fica muito fora de Brasília, fazendo a campanha. É um direito. Fico coordenando os ministros, porque o país não pode parar. Não podemos perder pela ausência do presidente. Tenho contato direto com ele várias vezes durante o dia para pegar as orientações e repassar as informações, para que as decisões em Brasília não tenham nenhum tipo de atraso por causa da questão eleitoral.

Como o senhor enxerga a próxima eleição para a presidência do Senado? Há chances de o eleito vir da base governista?
A eleição na Câmara é uma eleição encaminhada. Se Bolsonaro ganhar, vai ser praticamente uma aclamação. Existe a dúvida se Lula ganhar, porque temos um presidente já bem consolidado, que é Arthur Lira (PP-AL), com força no governo e na oposição. A eleição no Senado está dependendo da eleição presidencial. Se Bolsonaro ganhar, vai influir para ter alguém com viés de apoio às reformas. Ele saiu muito mais fortalecido desta eleição em sua base, elegeu praticamente todos os senadores, até no Nordeste. Na Câmara, vamos para 370 deputados de apoio ao presidente; no Senado, já conquistamos a maioria. No Senado, a eleição é bem mais imprevisível do que na Câmara.

‘Tic-tac’ é uma expressão que o senhor usa muito nas redes. Qual é a próxima bomba-relógio a explodir? Há risco de essa ‘bomba’ estourar em seu colo?
Tic-tac é uma expressão que não utilizava há alguns dias e a maioria dos que me seguem nas redes estava cobrando muito. Com o cenário, agora, de virada em Minas Gerais e em São Paulo – e depois me cobrem: vamos ganhar bem em Minas –, está muito próximo de estourarmos de alegria com a vitória de nosso presidente.

Podemos, então, cobrar do senhor que Bolsonaro vai conseguir a vitória em Minas e, assim, garantir a reeleição?
Não tenha dúvida. Hoje, o crescimento de Bolsonaro é extremamente consolidado. E nos surpreendeu – e vai surpreender todos.

Como o governo federal tem atuado na busca para dar forma ao acordo de Mariana?
Estamos muito otimistas de, em poucos dias, anunciarmos o maior acordo do mundo no setor de recuperação do meio ambiente. Já queríamos ter feito isso há um mês, antes da saída do presidente (Luiz) Fux (do STF), que se dedicou muito a esse acordo. Em poucos dias, poderemos anunciar que Minas terá crescimento na infraestrutura e recuperação de seus índices econômicos, porque o volume de investimentos que vai receber esse estado nunca ocorreu no país fruto de um acordo como esse. Vai ser o maior acordo do mundo. 


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