Jornal Estado de Minas

ELEIÇÕES 2022

Bolsonaro volta a Minas e reforça palanque no interior


Bernardo Estillac

Jair Bolsonaro (PL) faz hoje sua quarta visita a Minas Gerais na campanha de segundo turno. Em jornada dupla no estado, ele tem agenda marcada para Juiz de Fora, na Zona da Mata, e em Montes Claros, na Região Norte. São as primeiras viagens do presidente para o interior mineiro, após três passagens por Belo Horizonte nas duas semanas iniciais da campanha após a votação do primeiro turno. O governador Romeu Zema (Novo) é esperado ao lado do presidente em ambos os compromissos. Reeleito ao governo de Minas, ele assumiu a coordenação do braço mineiro da campanha.





A ofensiva de Bolsonaro em Minas Gerais tenta uma virada no estado, onde Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu o primeiro turno com 48,43% dos votos, ante 43,20% do atual presidente. Desde 1955, todos os presidentes eleitos venceram também no estado. Além de tentar um resultado melhor nas urnas mineiras como um todo, o candidato do PL busca vitórias especificamente nas cidades onde estará hoje.

Bolsonaro deve chegar a Juiz de Fora no início da tarde e fará comício na Praça da Estação. A cidade foi onde o presidente iniciou sua campanha no primeiro turno e é tratada por ele como local de seu ‘renascimento’ após o atentado a faca sofrido em 2018. O foco no município da Zona da Mata, no entanto, não refletiu em sucesso nas urnas. Lula teve cerca de 45 mil votos a mais que Bolsonaro no primeiro turno e foi preferência de 56,62% dos eleitores, contra 38,41% do atual presidente.

Uma das articulações feitas por Zema a favor da campanha de reeleição presidencial em Minas é conseguir apoios de prefeitos. Em Juiz de Fora, a estratégia fica inviabilizada porque a prefeita Margarida Salomão (PT) é filiada ao partido de Lula. A situação é diferente em Montes Claros, onde o prefeito Humberto Souto (Cidadania) já declarou apoio a Bolsonaro.





Após o ato em Juiz de Fora, Bolsonaro segue para Montes Claros, onde discursa em comício marcado para o início da noite. O presidente já esteve na cidade do Norte do estado em agosto, antes do início oficial da campanha. No primeiro turno, Lula venceu no município em disputa apertada, com 46,63% dos votos, contra 44,90% do candidato do PL.

Estado no foco dosegundo turno

Nas primeiras duas semanas do segundo turno, Bolsonaro fez três visitas a Belo Horizonte. Em todas elas, o presidente participou de eventos fechados e teve pouco tempo de interação com apoiadores. Ainda assim, ele falou em tom de campanha em todas as oportunidades e foi ovacionado pelas plateias. As incursões ao interior de hoje serão os primeiros comícios, de fato, do candidato à reeleição em solo mineiro.

A primeira visita a BH ocorreu quatro dias após o primeiro turno e dois dias depois de receber o apoio de Zema. Bolsonaro participou de evento promovido pela Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), quando recebeu documento com propostas de representantes do setor industrial. Na ocasião, o presidente da Fiemg, Flávio Roscoe, discursou em tom de apoio à candidatura de reeleição ao Planalto. Zema e o candidato à Vice-presidência, Walter Braga Netto (PL), também falaram em tom de campanha. Bolsonaro fechou o evento apostando em ataques ao rival Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e na pauta de costumes.





Bolsonaro esteve na capital pela segunda vez em 12 de outubro, desta vez para participar de evento religioso da Igreja Mundial do Poder de Deus, liderada pelo pastor Valdemiro Santiago. Novamente, o presidente dividiu o palanque com Zema, e apostou em discurso com pauta conservadora para o público evangélico.

A terceira e mais recente visita a BH foi em 14 de outubro, para uma reunião da Associação Mineira de Municípios (AMM). O evento reuniu mais de 600 prefeitos e foi organizado para entregar uma carta de reivindicações das cidades. Novamente, porém, o clima foi de ato de campanha para o presidente, que foi ovacionado pelos chefes municipais. “Vocês, na ponta da linha, prefeitos, vices e vereadores: ajudem o Brasil a não ir para trás. Mostrem o que fizemos. Refresquem a memória de quem votou no PT. Vamos trazer esses votos para o nosso lado. Vamos virar Minas Gerais. Vamos ganhar Minas Gerais”, disse sob aplausos durante discurso no evento.

No domingo, após o primeiro debate presidencial do segundo turno, Bolsonaro deu entrevista falando sobre o apoio dos prefeitos mineiros e o engajamento de Romeu Zema em sua campanha. Segundo o atual presidente, o governador “vestiu a camisa”. De acordo com pesquisa divulgada pelo Instituto Atlas no domingo, Lula tem 50,2% das intenções de voto em Minas, contra 47,6% de Bolsonaro. Brancos, nulos e indecisos somaram 2,1%. O resultado das entrevistas sugere um efeito positivo para o atual presidente após duas semanas de campanha, já que a diferença entre os candidatos caiu cerca de dois pontos percentuais em comparação com o resultado do primeiro turno.




Várias frentes 

Na campanha de Bolsonaro, as apostas em Minas Gerais não ficam restritas à presença do presidente. Também nesta semana, lideranças locais ligadas ao Planalto estarão em Belo Horizonte para celebrações religiosas.

A primeira delas está marcada para amanhã à tarde, no Bairro Dona Clara, região da Pampulha. O evento é organizado pela Igreja Getsêmani e contará com a presença do governador Romeu Zema, do deputado federal eleito Nikolas Ferreira (PL) e do companheiro de chapa do presidente, Walter Braga Netto.

No sábado, também em evento da Igreja Getsêmani, Belo Horizonte deve receber a primeira-dama Michelle Bolsonaro. Segundo divulgado pela deputada federal reeleita Greyce Elias (Avante-MG), um culto está marcado para as 9h, na Praça Geralda Damata Pimentel, na orla da Lagoa da Pampulha.





Enquanto isso...

...Lula também virá ao interior mineiro

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem agenda dupla em Minas Gerais na sexta-feira. O candidato, que liderou o primeiro turno, deve ir a Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri, e a Governador Valadares, na região do Vale do Rio Doce. De acordo com informações confirmadas ao Estado de Minas pelo coordenador de campanha do petista no estado, deputado Reginaldo Lopes (PT), os eventos de campanha devem ser feitos em formato de caminhada pela cidade, nos mesmos moldes do ato realizado em Belo Horizonte, em 9 de outubro. As cidades onde o petista passará pela semana renderam resultados distintos. Em Teófilo Otoni, o ex-presidente venceu por 48,74% a 45,34% dos votos. Já em Governador Valadares, o candidato do PL levou a melhor, com 57,62%, ante 36,36% do petista.

Sertanejos entram na campanha

O presidente Jair Bolsonaro (PL) recebeu para um evento no Palácio do Alvorada ontem artistas sertanejos, que anunciaram apoio ao mandatário neste segundo turno das eleições. Todos evocaram família, religião e aversão ao socialismo ao anunciar apoio à reeleição do chefe do Executivo. Estiveram presentes Gusttavo Lima, Leonardo, Chi-  tãozinho, Zezé di Camargo, Fernando (da dupla com Sorocaba), Sula Miranda, entre outros. Também compareceram o apresentador Ratinho e o governador reeleito de Goiás, Ronaldo Caiado (União Brasil). Uma das estratégias da campanha de Bolsonaro é buscar colar a imagem do presidente aos músicos famosos do gênero. Mais recentemente, no domingo, ele visitou no camarim do Estádio Mané Garrincha, em Brasília, a dupla Henrique e Juliano.

O presidente, em seu discurso, também voltou a criticar países vizinhos, vistos por ele como socialistas, como Argentina, Chile e Venezuela. “Nas primárias, quando Macri (se confunde com Alberto Fernández) visitou Lula na cadeia, se esse pessoal entrar (na Presidência da Argentina) vão entrar na linha da Venezuela”, disse. “Então, já tem gente fugindo da Argentina. Da Venezuela nem se fala, e não queremos isso para o Brasil”, completou. Bolsonaro agradeceu o apoio dos cantores, que disse ser vital e decisivo, principalmente, para virar votos de jovens – fatia do eleitorado que tem mais proximidade com o adversário Luiz Inácio Lula da Silva (PT).





“A garotada que não conheceu o período de 2003 a 2015 não conheceu nada, mas por influência de boa por parte de vocês vai começar a entender o que aconteceu”, disse, em referência ao período em que o PT governou o país. O discurso foi reforçado pelos artistas sertanejos, que evocaram a defesa dos valores tradicionais como principal motivo para apoiar Bolsonaro. “É sobre isso, é sobre o idealismo da família, idealismo dos filhos. Eu acho que essa campanha relata mais do que tudo o que estamos vivendo hoje. Não é sobre nós, não é sobre eu, é sobre o futuro dos nossos filhos, é sobre o agro, sobre as pessoas do interior, as pessoas que colocam comida na mesa de cada brasileiro”, afirmou Gusttavo Lima.

“Tivemos os nossos princípios, vindos dos nossos pais. E uma coisa que eu não abro mão é da família, e eu tenho certeza de que todo cidadão de bem não vai abrir mão e jamais negociará a sua família, seu bem mais precioso. É melhor ter um passarinho na mão do que dois voando. E não vamos trocar o certo pelo duvidoso”, completou, depois pedindo para que seus seguidores votem em Bolsonaro.

O cantor Leonardo repetiu grande parte do discurso de Bolsonaro em relação ao risco da implantação do comunismo com eventual vitória de Lula. “Sou contra várias coisas que estão pregando por aí, o outro lado, sobre religião. A religião, o cristianismo, o Evangelho, o espiritismo, a gente tem que respeitar a religião. E falar em fechar igrejas, templos, isso é totalmente negativo para a imagem do nosso país”, afirmou. A maior parte dos artistas chegou de helicóptero ao Palácio da Alvorada. Após várias sessões de fotos, o grupo se reuniu com Bolsonaro em encontro que foi transmitido nas redes sociais do presidente.





“Eu acho que chegou o momento de a gente se posicionar mesmo. Chega de história de negar as evidências e manter as aparências porque estamos na reta final e estamos aqui reunidos em prol da re-    eleição do nosso presidente Jair Bolsonaro. Nós estamos com medo de o Brasil descambar e virar esses países de esquerda”, afirmou Chitãozinho, citando um trecho de sua música mais famosa. “A gente está aqui para pedir para nossos fãs, nossos seguidores, que pensem na hora de votar, especialmente quem está inde- finido. Se a gente quiser um país melhor para todos nós, agora é a hora”, completou.

Uma das primeiras falas durante o encontro foi de Zezé Di Camargo, músico que já manifestou apoio ao rival de Bolsonaro, o ex-presidente Lula. “Posso dizer com profundo conhecimento, porque eu já estive no outro lado, todo mundo sabe aqui, não dá para negar, eu fiz campanha, eu acreditei num projeto lá trás, numa mudança de país, coloquei meu nome em prol daquele objetivo, daquela crença, coloquei música minha para ser tema”, afirmou. “Com o passar do tempo, infelizmente, fui descobrindo que aquilo em que eu acreditava, aquele romantismo em que eu acreditava se tornou um país muito diferente daquilo que a gente idealizava, não era exatamente o que estava acontecendo”, completou.