Jornal Estado de Minas

CORRIDA PRESIDENCIAL

Campanha petista redesenha frente de batalha em Minas

Guilherme Peixoto e Ígor Passarini


Aliados de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) em Minas Gerais começam a tirar do papel as estratégias traçadas para conter possíveis efeitos da aproximação entre o presidente Jair Bolsonaro (PL) e prefeitos do interior que o governador Romeu Zema (Novo) tenta construir. Ontem, lideranças petistas anunciaram que, na sexta-feira (21/10), Lula vai cumprir compromissos em Juiz de Fora, na Zona da Mata, e em Teófilo Otoni, no Vale do Mucuri. No sábado, o foco é a Grande BH.



No caso do interior, segundo apurou o Estado de Minas, o roteiro inicial tinha Governador Valadares. A campanha petista, porém, trocou a passagem pelo Vale do Rio Doce por  ida a Juiz de Fora. A justificativa é a possibilidade de ampliar, no município da Zona da Mata, a vitória obtida por Lula no 1º turno. Paralelamente, há a impressão de que, em solo valadarense, onde Bolsonaro triunfou, chances de mudança no quadro são menores. 

Já a Grande BH entrou no lugar de visita a Manaus (AM), que foi cancelada. “Está tudo encaminhado para fazer uma caminhada que comece na Rua Padre Pinto (na Região de Venda Nova) e vá até Justinópolis (distrito de Ribeirão das Neves), disse Reginaldo Lopes (PT), deputado federal e coordenador da campanha de Lula em Minas. A agenda, entretanto, ainda não estava cravada.

Na semana passada, centenas de lideranças locais, entre prefeitos, vice-prefeitos e vereadores, se reuniram em Belo Horizonte para uma conversa com Zema e Bolsonaro. O evento foi organizado por Marcos Vinícius Bizarro (sem partido), prefeito de Coronel Fabriciano, no Vale do Aço, e presidente da Associação Mineira de Municípios (AMM). Do outro lado, o grupo de Lula aposta em conquistar o apoio de associações regionais de prefeitos e pequenos consórcios locais.



Uma das chaves na busca por prefeitos é o senador Alexandre Silveira (PSD), coordenador político da campanha de Lula no estado. Ontem, em entrevista ao EM, o parlamentar chamou de “pouco democrático” o modus operandi adotado por Zema para atrair chefes de governos municipais à campanha bolsonarista e revelou estar conversando, diariamente, com “dezenas de prefeitos” para preservar a dianteira da chapa petista.

“Os prefeitos sabem que as eleições municipais estão logo aí à frente. Sabem, também, que o presidente ganhou em mais de 600 municípios mineiros. Dificilmente esses prefeitos vão querer travar uma batalha com seus eleitores, que deram uma larga vantagem a Lula na maioria desses municípios”, disse. “Estamos conversando com os prefeitos, mas não dessa forma circense que a gente tem assistido ao governador fazer”, criticou.

No primeiro turno, Lula venceu Bolsonaro em Minas por uma diferença de 563,3 mil votos. Em termos percentuais, o petista ficou com 48,29% dos votos válidos, ante 43,6% do candidato à reeleição. Na chapa liderada pelo PT, segundo apurou a reportagem, a avaliação é que vai ser possível vencer a etapa mineira do 2° turno se a frente conquistada na primeira votação for mantida. Para um interlocutor ligado a Lula, ouvido sob reservas pelo EM, o desafio de Zema é tentar diminuir a desvantagem.



Durante o evento com Bolsonaro em BH, Marcos Vinícius Bizarro afirmou ter conseguido reunir centenas de prefeitos mineiros no local, um centro de convenções na Região Centro-Sul. A tese de que a ampla maioria das lideranças regionais embarcou na campanha à reeleição, contudo, é contestada por dirigentes petistas. “(Para) quem fica achando que os prefeitos mineiros estão com Jair Bolsonaro, a notícia é outra. No Norte de Minas, a grande maioria dos prefeitos está com Lula”, rebateu o deputado estadual Cristiano Silveira, presidente do PT mineiro.

Max Vinícius Aguiar Martins, o Marcão, filiado ao PT e prefeito de Serranópolis de Minas, no Norte, também refutou o apoio em massa a Bolsonaro. “No Norte de Minas, a maioria dos prefeitos está com Lula presidente. Muitos lá estão só na propaganda, de foto com o governador, por causa da pressão e da atuação política. Mas, no Norte, 88 cidades são Lula presidente”.

Para Alexandre Silveira, Zema “escondeu” o alinhamento a Bolsonaro no primeiro turno em nome do fenômeno “Luzema” – o voto casado em Lula e no atual governador. “Ele (Zema) agride esse eleitor dizendo “agora não quero que você continue votando no Lula porque você já me elegeu; então, quero que você mude de opinião”. Só que o mineiro, pela sua peculiaridade, pelo seu nível de politização, não é de admitir cabresto”, protestou.





CAMINHADAS A exemplo de um evento em Belo Horizonte no domingo retrasado, Lula deve protagonizar caminhadas em Teófilo Otoni e Juiz de Fora. Desde a reta final do primeiro turno, as passeatas ganharam prioridade em relação aos comícios tradicionais, em palanques montados, porque são consideradas mais rápidas, permitindo passagens por mais cidades em um único dia. O primeiro compromisso do petista em Minas na sexta-feira será em Teófilo Otoni; depois, a comitiva segue para Juiz de Fora.

As duas localidades escolhidas são administradas pelo PT. Em Juiz de Fora, a prefeita é a ex-deputada federal Margarida Salomão; a Prefeitura de Teófilo Otoni, por sua vez, é ocupada por Daniel Sucupira, que chegou a ensaiar uma pré-candidatura ao governo estadual neste ano, mas abriu mão para seguir a orientação partidária de caminhar com Alexandre Kalil (PSD).

Lula vai desembarcar em Juiz de Fora três dias após a última das três visitas de Bolsonaro ao município neste ano. O presidente trata a cidade da Zona da Mata como terra de seu “renascimento”, em virtude da facada sofrida durante a campanha eleitoral de 2018. Ontem, Margarida Salomão travou embate com Zema, que participou do comício bolsonarista em território juizforano e teceu críticas ao PT.



“O PT começou a construir refinarias no Brasil inteiro; a nossa foi reduzida. Minas é um dos estados que mais importa combustível. Não trouxeram nada e impediram investimentos. Investimento em indústria de automóvel foi para curral eleitoral do PT. Então, posso falar que PT e o povo mineiro nunca foi uma mistura que deu certo. Minas não aceita o PT mais”, criticou o governador, em menção à saída da Mercedes-Benz da cidade.

A prefeita, por sua vez, subiu o tom e garantiu que houve esforços do PT para a manutenção da montadora alemã. “Diz ele (Zema) que o governo Lula não fez nada por Juiz de Fora. Isso é não saber nada sobre a Zona da Mata”, rebateu. “Não será com mentiras que vamos fazer essa disputa eleitoral. Em Juiz de Fora a verdade está à vista”, emendou.

entrevista

Alexandre Silveira 
Senador e coordenador político da campanha de Lula em Minas

“De forma oportunista, Zema quer agredir Lula e, de certa forma, agride o eleitor”


Estamos na metade do segundo turno. Como o senhor avalia a campanha de Lula até aqui? O que é possível fazer, nesta reta final, para manter a vantagem conquistada?
Saímos com 5% a mais do voto dos mineiros (em relação a Bolsonaro). Trabalhamos para fazer o bom debate, que demonstra os números e a realidade do que aconteceu em Minas nos governos de Bolsonaro e Lula. O debate do segundo turno é comparar o compromisso do atual presidente com o estado e o compromisso de Lula, que realizou 318 mil unidades habitacionais do programa “Minha Casa Minha Vida” no estado, incluiu 220 mil alunos no Prouni e 238 mil no Fies. (Lula)  duplicou a BR-262 de Betim a Nova Serrana, e a BR-040, e iniciou a duplicação da BR-381. O debate, inclusive, (é) para poder mostrar as dificuldades que nós, parlamentares, enfrentamos em Brasília nos três anos do governo Bolsonaro para poder trazer alguns benefícios para Minas. Temos confrontado uma estratégia que julgo equivocada, e, de certa forma, até pouco honesta, do governador, que fica com uma retórica muito grande de querer comparar o governo dele com o governo que o antecedeu (de Fernando Pimentel). O que está em debate em Minas Gerais, neste momento, é o que representa, para o futuro de Minas e do Brasil, um possível governo Lula e um possível governo Bolsonaro.





A partir do apoio de Zema, Bolsonaro tem tentado atrair prefeitos à campanha pela reeleição. Como o entorno de Lula trabalha para responder a essa ofensiva?
Estamos conversando com os prefeitos, mas não dessa forma circense a que temos assistido o governador fazer. Zema fez um discurso que é pouco típico dos mineiros, no dia do encontro da AMM, quando disse que os prefeitos “estariam em guerra” e que teriam a missão de virar a eleição em suas cidades. Isso é pouco democrático. Os prefeitos sabem que as eleições municipais estão logo aí à frente. Sabem, também, que o presidente ganhou em mais de 600 municípios mineiros. Dificilmente, esses prefeitos vão querer travar uma batalha com seus eleitores, que deram uma larga vantagem ao presidente Lula na maioria desses municípios. Também pouco apropriada essa disputa que o governador faz. Nada de crítica ao governador assumir uma posição no segundo turno das eleições, até porque essa posição já existia no primeiro turno. É fácil mostrar para os mineiros: o pseudocandidato do Bolsonaro no primeiro turno, o senador, Carlos Viana, meu colega e amigo, não teve sequer uma declaração de apoio do presidente. Ou seja: já existia um acordo entre Bolsonaro e Zema no primeiro turno. Houve uma estratégia para que o governador se elegesse com os votos do presidente Lula. Agora, de forma oportunista, ele quer agredir Lula e, de certa forma, agride o eleitor que fez o “Luzema” — votou em Lula e Zema. É um fato, os números mostram isso. Ele agride esse eleitor dizendo “agora não quero que você continue votando no Lula porque você já me elegeu; então, quero que você mude de opinião”.

Essa estratégia tem potencial para dar certo?
O mineiro, por sua peculiaridade e por seu nível de politização, não é de admitir cabresto. Portanto, acho que, não só esse comportamento do governador, bem como outras questões que a gente está vendo, são extremamente constrangedores para nós, mineiros, que sempre prezamos por valores inegociáveis, como democracia e liberdade. Vemos pressões completamente inadequadas de alguns gestores, mas principalmente de alguns patrões, que tratam seus funcionários como em épocas pouco democráticas do nosso país, impondo restrições, fazendo ameaças. Eles estão sendo denunciados em órgãos como o Ministério do Trabalho, além da imprensa, que já está apurando fatos concretos. Acho que essas pressões vão gerar efeito contrário e a população vai reagir de maneira muito forte, o que vai ampliar a frente de Lula em Minas.

O senhor pode detalhar como a campanha de Lula tem buscado conversar com prefeitos e outras lideranças?
Tenho conversado com dezenas de prefeitos diariamente. Eles são agentes políticos responsáveis, autônomos, que representam as populações de suas cidades. A maior autoridade do federalismo são os prefeitos, mais próximos e mais cobrados pela população. Os prefeitos têm me dito que votaram no governador, e nossa campanha tem de reconhecer que nosso candidato, do PSD, não conseguiu vencer a barreira do desconhecimento no interior. Zema ganhou de forma confortável, mas em consequência da estratégia de esconder o acordo com Bolsonaro. Não percebo, nos prefeitos, essa voracidade e energia que o governador diz que eles têm para mudar o voto. Eles sabem que Lula é reconhecidamente municipalista, se preocupa com a vida das pessoas e reconhece que é na cidade que a vida das pessoas acontece. Na última vinda dele (a Minas), fez um compromisso público de que a primeira reunião que fará, eleito presidente, será com todos os governadores para discutir as prioridades dos estados; a segunda, com todos os prefeitos, para discutir o fortalecimento do municipalismo. Tenho expectativa muito grande de que os prefeitos que estão conosco trabalhem para manter, e ampliar, a vantagem de Lula.