Jornal Estado de Minas

VOTO CRISTÃO

PT mineiro deve fazer ato público para difundir carta de Lula a evangélicos

Por Guilherme Peixoto


O PT mineiro trabalha para tirar do papel a ideia de um evento para apresentar, aos eleitores do estado, a carta aos evangélicos divulgada nesta quarta-feira (19/10) pelo presidenciável Luiz Inácio Lula da Silva. Ainda não há definição a respeito da data e do formato do evento, mas na direção do partido em Minas Gerais, a avaliação é de que é preciso reverberar o documento, com compromissos de Lula com o público cristão. O texto contém, ainda, lembranças de ações feitas durante os anos em que o PT esteve à frente do governo federal.



Um dos defensores da ideia de organizar um ato em torno do manifesto assinado por Lula é o deputado estadual Cristiano Silveira, presidente do PT mineiro.

"Queremos fazer com que essa carta chegue aos nossos eleitores evangélicos, aos indecisos evangélicos e, até mesmo, para a reflexão dos que optaram por Bolsonaro sob esse argumento", disse, ao Estado de Minas.

Lula apresentou a carta durante evento com lideranças religiosas em São Paulo (SP). Nos quadros do PT, há evangélicos que atuam para mediar a relação entre o presidenciável e setores das igrejas, como Benedita da Silva, reeleita deputada federal pelo Rio de Janeiro, e Gilmar Machado, ex-prefeito de Uberlândia, no Triângulo Mineiro.



Para Cristiano Silveira, não é empecilho o fato de a carta ter sido divulgada menos de duas semanas antes do segundo turno, agendado para 30 de outubro.

"Há tempo de a carta circular. Ela vai para as lideranças do partido inseridas nos meios evangélicos e o PT deve organizar alguns atos para a apresentação da carta", ponderou.

O manifesto tem referências a versículos bíblicos e traz compromissos como a contrariedade de Lula ao aborto. "Nosso Projeto de Governo tem compromisso com a Vida plena em todas as suas fases. Para mim a vida é sagrada, obra das mãos do Criador e meu compromisso sempre foi e será com sua proteção. Sou pessoalmente contra o aborto e lembro a todos e todas que este não é um tema a ser decidido pelo Presidente da República e sim pelo Congresso Nacional", lê-se em trecho do texto.

A ideia é utilizar os escritos como contraponto ao presidente Jair Bolsonaro (PL), ligado a líderes como o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e integrantes da família Valadão, que controla a Igreja Batista da Lagoinha, em Belo Horizonte. Bolsonaro, inclusive, tem ido a templos religiosos durante a campanha - na semana passada, participou, no mesmo dia, de um culto evangélico em BH e de uma celebração católica em Aparecida (SP).





Carta ratifica compromissos já estabelecidos

Para Denisson Silva, doutor em Ciência Política pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e pesquisador da Escola de Comunicação, Mídia e Informação (ECMI), ligada à Fundação Getúlio Vargas (FGV), no Rio de Janeiro (RJ), a carta não traz novidades, mas serve para endossar compromissos e discussões anteriores. Outro ponto contemplado no texto remonta a 2010, quando, anualmente, o 30° dia de novembro passou a ser considerado o Dia Nacional dos Evanvéligos.

"É um esforço de tornar escrito para atender à cultura brasileira, de alguma forma, cartorial. A gente gosta de ver as coisas escritas. Foi demandado por alguns grupos evangélicos que Lula se posicionasse por escrito", apontou, em entrevista ao EM.

Na visão do especialista, grande parte dos eleitores já estão com o voto definido, mas a carta pode ser um meio de conquistar os que ainda não se decidiram. O grupo evangélico é, justamente, onde há relevante parcela de votos cristalizados em prol de Bolsonaro.



"A eleição não é uma ciência exata. É algo complexo. Mas a gente consegue, por meio das pesquisas, mensurar e identificar onde está o eleitorado com mais tendência a votar em um candidato. Hoje, os evangélicos, tendem mais a votar em Bolsonaro, mas não na totalidade. Um movimento nesse sentido pode ajudar a trabalhar nesse campo", emendou.

Na declaração, além de reafirmar sua crença em Jesus Cristo, Lula cita "paz, união e fraternidade" como tópicos que o une ao povo evangélico. "Se Deus e o povo brasileiro permitirem que eu seja eleito, além de manter esses direitos, vou estimular sempre mais a parceria com as Igrejas no cuidado com a vida das pessoas e das famílias brasileiras".

De acordo com Denisson Silva, apenas o eleitor é capaz de dizer se o aceno de Lula aos cristãos aconteceu a tempo de alterar os rumos da corrida ao Palácio do Planalto. "Vamos conseguir, mais ou menos, capturar isso nas próximas pesquisas".





 

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